sábado, 31 de dezembro de 2011

A Conspiração Franciscana (John Sack)

          John Sack nasceu em 1938 em Ohio, EUA, e formou-se em Língua Inglesa pela Universidade de Yale. Quando jovem, ficou por dois anos sob a tutela do renomado monge trapista Thomas Merton em um mosteiro no Kentucky. Trabalhou como redator nas áreas da computação e astrofísica, onde escreveu vários livros técnicos. Uma outra obra sua, The Wolf in Winter (O lobo no inverno) conta a história de São Francisco de Assis durante a mocidade. Em A Conspiração Franciscana, John Sack aborda a vida adulta do santo sob o panorama de um grande segredo que fora ocultado pelos seus seguidores.
          Em março de 1230, Capitanio di Codimezzo, que doara a terra para a construção da Basílica de São Francisco de Assis; Angelo, irmão do santo; Simone della Rocca, cavaleiro guardião da cidade; Giancarlo di Margherita, prefeito de Assis; e Frei Elias di Bonbarone, que cuidara do sepultamento de Francisco, formaram a Compari della Tomba, a Fraternidade da Tumba. Juntos esconderam os restos mortais de São Francisco, sob pena de morte para quem revelar o local ou que viesse a descobri-lo mais tarde.
          No ano de 1271 o eremita Conrad da Offida recebe a estranha visita de um noviço identificado como Fabiano, mas que logo descobre sua verdadeira identidade feminina, cujo nome era Amata. Esta era uma menina órfã, que trazia em si os sinais de uma história machucada pelo assassinato dos pais e pelo abuso sexual por parte de seu tio Bonifazio, bispo de Todi. Ela trazia uma carta de Frei Leo, o último da geração dos que haviam convivido com São Francisco, e que morrera há pouco tempo. Apesar de aparentemente não conter nenhuma mensagem interessante, a carta era urgente. Uma frase o incomodara mais: "[...] descubra a verdade das legendas". Diante desse mistério, decide ir a Assis investigar o conteúdo da carta, acompanhado de Amata, mesmo que contrariado. No caminho, junta-se a eles Jacopo dei Benedetti (Jacopone), um penitente público interiormente arrasado pela morte da mulher Vanna, filha do tio de Amata, Guido di Capitanio, com quem tivera uma filha, Teresina.
          Em sua jornada, Conrad enfrenta vários desafios, dentre eles as dificuldades provenientes da rivalidade entre as duas facções da ordem franciscana: os Conventuais, que viviam a doutrina de São Francisco de uma maneira mais flexível; e os Espirituais, observadores estritos dos costumes do santo, principalmente com relação à pobreza. Conrad fazia parte do segundo grupo. Em um outro plano, a Igreja vivia um clima de eleição papal, em que fora escolhido para o trono de Pedro, o papa Tebaldo Visconti di Piacenza, sob o nome de Gregório X, antigo legado apostólico do papa em Acre, na Terra Santa. Em suas viagens, acompanhava o papa Orfeo Bernardone, um marinheiro parente dos homens que assassinaram a família de Amata.
          Amata e Conrad tornam-se grandes amigos. No entanto, quando seus caminhos se bifurcam, Conrad é preso e Amata amparada por uma senhora de idade, Dona Giacoma dei Settisoli, viúva originária de Roma, pertencente à aristocracia. Ao falecer, Giacoma deixa sua herança para Amata, que havia se vingado de alguns dos assassinos de seus pais, mas se apaixonara por Orfeo, com quem se casa mais tarde. A liberdade de Conrad e a preservação do manuscrito de Frei Leo tornam-se seus maiores planos.
          Na mesma cela de Conrad, estava Frei Giovanni da Parma, que havia sido preso por acreditar nas ideias de Frei Gerardino, segundo as quais o nascimento de São Francisco marcaria a segunda vinda de Cristo. Com ele, Conrad aprende várias coisas sobre o mistério do aparecimento dos estigmas no santo. Dois anos depois, o eremita é solto mediante o perdão do papa e decide ir cumprir um voto, morando em um leprosário. Entre os crucigeri descobre a essência da verdade de Leo que a Igreja tentava ocultar sobre o Francesco Lebbroso.
          A Conspiração Franciscana é uma história com várias outras histórias paralelas que se cruzam e conectam. Isso explica a diversidade de personagens. Sob o pano de fundo da busca de Conrad, encontramos também o caminho de remissão do passado feito por Amata. Assim, o clima de suspense e aventura se mescla com a emoção. Algumas partes são tocantes como o relato de Amata sobre seu complexo de culpa e a despedida de Conrad à amiga Rosanna, com a mútua confissão do amor que surgira na infância, o futuro separara e o tempo nunca destruíra. Desta forma, a obra de Sack desafia o leitor a memorizar os detalhes que são muitos, à medida em que são apresentados novos personagens. Uma ficção rica e bem construída que, pelo seu paralelo com a história real, serve como fonte de pesquisa para os que conhecem e não conhecem São Francisco de Assis.
 
SACK, John R.. A Conspiração Franciscana. Rio de Janeiro: Sextante, 2007. 440 pgs.

domingo, 25 de dezembro de 2011

O Menino do Pijama Listrado (John Boyne)

o menino do pijama listrado          John Boyne é irlandês nascido em 1971. Escreveu seis romances traduzidos para mais de trinta idiomas. O Menino do Pijama Listrado rendeu-lhe dois prêmios do Irish Book Awards e de finalista do British Book Award. O sucesso da história fez com que fosse para as telas do cinema em 2008, pela Miramax.
          O Menino do Pijama Listrado é um livro construído sob os acontecimentos do nazismo alemão. Bruno, um menino de nove anos, sua irmã Gretel, de doze anos, seu pai e sua mãe viviam em uma casa ampla e espaçosa em Berlim. Certo dia, Bruno chega em casa e vê a criada Maria arrumando suas coisas dentro de caixas. Logo descobre que estavam de mudança, o que o deixara muito irritado. Sentia muito ter que se despedir dos amigos Karl, Daniel e Martin, do corrimão de sua casa onde podia se divertir escorregando, da vida cotidiana em Berlim. No entanto, a profissão do pai, que seguia a carreira militar, exigia o sacrifício da família, a fim de que permanecessem unidos. Desta forma, todos se mudam para Haja-Vista.
          Bruno se sente profundamente decepcionado com a nova casa, por ela ser bem menor e principalmente por que não havia muitas possibilidades de se fazer amigos em Haja-Vista. Além do mais, não aguentava a zombaria que lhe fazia o tenente Kotler, bem como sua irmã, o que para ele já era um Caso Perdido.
          Obrigado a se adaptar à nova realidade, Bruno descobre um local curioso que podia ser visto de sua janela: um ambiente em que todas as pessoas usavam pijamas listrados, viviam sempre de cabeça baixa numa atitude triste e eram constantemente lisonjeadas pelos militares. Em sua mente infantil, Bruno nem de longe suspeitava que seus vizinhos moravam em um campo de concentração.
          Certo dia, cansado da vida monótona dentro de casa, Bruno decide praticar seu hobby favorito: explorar. Enquanto caminhava rente a um alta cerca, avista um garoto do outro lado dela e o cumprimenta. A partir de então, Bruno e Shmuel – que coincidentemente haviam nascido na mesma data – passam a se encontrar todas as tardes para conversarem, divididos apenas pela cerca. Nascia ali uma grande amizade que devia ser mantida às escondidas, uma vez que traria graves consequências para ambos se o pai de Bruno descobrisse que ele conversava com um menino judeu.
          Com o passar do tempo, o pai de Bruno decide que seria melhor para a esposa e os filhos voltarem para Berlim. Diante disso, Bruno decide se despedir de Shmuel com uma exploração do lado onde o menino judeu vivia. Nessa exploração dá-se o acontecimento que mudaria a vida de todos, impactando diretamente a família de Bruno.
          A fábula narrada por John Boyne encanta pela simplicidade e pela carga emotiva que o conteúdo da mensagem produz. Cada personagem possui traços bastante característicos: a autoridade do pai, a submissão da mãe, o sarcasmo da irmã, a inocência de Bruno, a humildade de Shmuel, etc.. Tudo isso, elencado no enredo construído sob acontecimentos históricos verídicos, conjugam-se em uma rede de valores: amizade, amor, carinho, respeito, tolerância, aceitação, superação. Aí repousa a maravilha e o encanto de O Menino do Pijama Listrado.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Menino do Pijama Listrado, O
Subtítulo:  uma fábula
Autoria:     John Boyne
Editora:     Companhia das Letras
Ano:          2007
Local:        São Paulo
Edição:     
Gênero:     Drama
 
Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2008:

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Evangelho segundo Jesus Cristo (José Saramago)

          A intrigante figura do Jesus histórico é o pano de fundo do romance de José Saramago. No entanto, a tarefa empreendida pelo autor foi construir uma espécie de paródia da vida de Jesus, já que, mesmo elencando muitos fatos encontrados nas narrativas dos evangelistas – Mateus, Lucas, Marcos e João – Saramago busca dar o contorno de seu ponto de vista, cético e ateu da vida e missão de Jesus Cristo.
          Tudo começa em Jerusalém, quando um mendigo entrega a Maria uma terra brilhante. Ela estava esperando seu filho primogênito, Jesus, que nasce inesperadamente em Belém, durante a viagem de Maria e José para o recenseamento. Nessa mesma ocasião, dá-se um fato que marcaria para sempre a vida de Jesus. Tendo José ouvido a conversa de dois soldados que haviam recebido ordens de matar todas as crianças menores de três anos, nada faz para avisar aos pais e preocupa-se somente em salvar o próprio filho. José sonharia todas as noites como indo matar o filho e Jesus teria o pesadelo de ser perseguido pelo pai. Anos mais tarde, José é crucificado injustamente como subversivo, ao tentar ir em socorro de um vizinho.
          Com o tempo, Jesus abandona a família, de modo enérgico e conflituoso, e vai morar com uma prostituta, Maria de Magdala. Enquanto era pastor de cabras, recebe de Deus a revelação de que era seu filho e devia morrer para cumprir sua missão. Dá-se uma sequência de sinais milagrosos como pescas abundantes, curas de enfermos e expulsão de demônios, os quais provam ao povo sua natureza divina. E assim, para cumprir seu terrível destino traçado nos planos de Deus, após ser traído por um discípulo, Jesus é crucificado e morto.
        Ao escrever seu romance, José Saramago deixa claro que não era seu desejo aprofundar questões teológicas. E á até mesmo impossível fazer qualquer aproximação que seja dos personagens de Saramago com a verdadeira história bíblica. O deus dele é um ser impiedoso, amante dos sacrifícios e da carnificina. Apresenta-se como um Deus que pede a morte simplesmente pela morte, não lhe conferindo um sentido mais transcendental e salvífico. Haja visto que em um momento da obra, se destaca mais a forma como seriam supliciados os mártires do futuro, do que a causa pela qual entregariam suas vidas. Além do mais, a figura de Jesus é a de alguém fraco, indeciso, dominado pelo medo e angústia existencial. Somente a partir da visão de Deus ele se torna consciente de sua filiação divina, porém incumbido de um projeto bem limitado, já que bastaria sua morte para agradar a Deus.
          Um aspecto admirável de O Evangelho segundo Jesus Cristo é a riqueza imaginária que brota da mente de seu autor, tanto na composição dos cenários quanto na narração dos fatos. Um ponto realmente impressionante pela variedade de detalhes e associações. No entanto, mais para o fim da obra, parece que a pretensão de elencar os momentos descritos pelos evangelhos verídicos, associados ao curto período de tempo em comparação com os já descritos, leva o desfecho da obra soar como algo sem sentido, vazio e sem muitas explicações. Isto acaba por desvalorizá-la até mesmo como literatura fictícia.
 
SARAMAGO, José. O Evangelho segundo Jesus Cristo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. 448 pgs.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Fortaleza Digital (Dan Brown)

                                      Quis custodiet ipsos custodes
[Quem irá guardar os guardiões]
(Das Sátiras de Juvenal)

          A obra Fortaleza Digital é mais uma da lista dos mais vendidos do autor, juntamente com O Código da Vinci, Anjos e Demônios, O Símbolo Perdido e Ponto de Impacto. Autor polêmico e famoso principalmente por tratar de temas que atingem as estruturas da Igreja Católica, Dan Brown vem abordar neste romance a vulnerabilidade do serviço de inteligência norte-americano.
          Susan Fletcher é a chefe do Departamento de Criptografia da National Security Agency (NSA). Junto com uma equipe de criptógrafos e programadores super-especializados em decodificação, zela pelo bom funcionamento do maior patrimônio da agência: o super-computador TRANSLTR, capaz de decifrar o enigma de qualquer código. O TRANSLTR poderia ser usado, se necessário fosse, até mesmo para desbloquear as caixas de email de usuários comuns e ler-lhes as mensagens. Tal risco é o motivo de toda a saga que se desenvolve.
          Ensei Tankado era um japonês, ex-funcionário da NSA, que havia sido demitido por não concordar com a invasão de privacidade praticada pela empresa. Era deficiente físico, devido a uma mutação genética provocada pela radioatividade da bomba atômica lançada sobre Hiroshima em 1945. Como uma maneira de forçar a empresa a revelar publicamente a existência do TRANSLTR, cria e envia o programa Fortaleza Digital, cujo computador há mais de 15 horas não havia conseguido decodificar.
          Na busca por conseguir a chave de desativação do vírus, o comandante da NSA, Trevor Strathmore, contrata um assassino português, Hulohot. No entanto, antes de morrer publicamente na Praça de Sevilha (Espanha), Tankado entrega seu anel a estranhos, tentando demonstrar algo com seus dedos atrofiados. Strathmore decide então, enviar David Becker, um professor universitário, namorado de Susan, a fim de encontrar o anel. Sentimentos de ciúme se ocultavam por trás do plano cuidadosamente elaborado pelo comandante.
          Nas entrelinhas em que se desenvolve a história de Fortaleza Digital, Dan Brown delineia a questão dos jogos de poder e paixão. A NSA é uma agência totalmente secreta capaz de garantir a segurança nacional dos Estados Unidos. No entanto, a quem é atribuída a responsabilidade por manter a segurança da NSA? O que fazer quando seu banco de dados se encontra ameaçado e a única salvação é revelar o segredo tão importante para a manutenção do status da empresa? Até que ponto seus agentes especializados e cuidadosamente treinados são confiáveis? A partir de questionamentos como esse, se desenvolve a intrigante trama do romance. Uma verdadeira luta contra o tempo, as decisões impulsivas e a ameaça externa.
 
BROWN, Dan. Fortaleza Digital. Rio de Janeiro: Sextante, 2005. 336 pgs.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A Farsa (Christopher Reich)

       Christopher Reich é americano nascido em Tóquio. Foi banqueiro na Suíça, decidindo abandonar a carreira para tornar-se escritor nos Estados Unidos, onde mora com a esposa e duas filhas. A obra A Farsa é o sexto livro do autor, ficando entre a lista dos mais vendidos do The New York Times, além de ter os direitos adquiridos pela Paramount Pictures. No ano de 2006, Christopher ganhou o prêmio International Thriller Writers Award for Best Novels.
        O romance A Farsa faz parte de uma linha surpreendente de suspense, espionagem e perseguição.
     Jonathan Ransom é médico cirurgião e, junto com a esposa Emma Ransom, faz parte da associação internacional Médicos Sem Fronteiras, que leva assistência às populações atingidas por catástrofes e guerras. Durante uma temporada nos Alpes, sua esposa sofre um acidente enquanto esquiavam e morre enquanto Jonathan vai buscar socorro. Ao retornar para casa, Jonathan encontra um envelope endereçado à mulher, contendo tíquetes para resgatar as malas de Emma na estação de trem de Landquart. Ao buscá-las na companhia de uma amiga, Simone, são atacados por dois homens e Jonathan mata um deles, deixando o outro gravemente ferido. Ao descobrir que os homens eram policiais, Jonathan e Simone iniciam uma fuga alucinada. No entanto, o que mais os intrigava era o conteúdo das malas: as chaves de um Mercedes-Benz, um mapa indicando a localização do carro, dinheiro, jóias, roupas e uma carteira de identidade com a foto de Emma e o nome Eva Kruger. Como a esposa teria ocultado aquele fato durante os oito anos de casamento?
           A busca pela descoberta da dupla identidade da mulher revela a Jonathan que ela era agende de um grupo chamado “Divisão”, uma agência de espionagem clandestina. Tudo se torna ainda mais grave, quando Jonathan passa a ser perseguido por Marcus Von Daniken, um detetive chefe do serviço suíço de contra-inteligência, especializado em investigar terroristas. Na mira de um assassino supersticioso, Jonathan se torna o principal suspeito de contrabandear um arsenal de armamento nuclear, visando derrubar um avião com cerca de 600 pessoas a bordo.
          O clima de suspense toma conta do romance do início ao fim. Jonathan, que de início era apenas um médico, passa a ser o protagonista de uma rede de mentiras, onde não se pode confiar até mesmo nos mais conhecidos. Em meio a essa trama, a engenhosidade de Christopher Reich trata de questões políticas, assassinatos e armamento nuclear. A polêmica levanta a questão: até que ponto as pessoas com que se convive são, de fato, verdadeiras? Até que ponto aqueles em que se confia são, de fato, confiáveis? Desta forma, a busca pelo que é verdade em uma mentira é o que faz do romance A Farsa uma história surpreendente e envolvente.

REICH, Christopher. A Farsa. Rio de Janeiro: Sextante, 2008. 336 pgs.

domingo, 11 de dezembro de 2011

O Hobbit (J. R. R. Tolkien)


        Na obra O Hobbit, prelúdio de O Senhor dos Aneis, deparamo-nos com a história de Bilbo Bolseiro, um hobbit que vivia sua vida tranquilamente numa vila pacata. Os hobbits são um povo de natureza pacífica e calma. Prezam pela organização e limpeza de suas pequenas tocas e se divertem tomando chá e fumando charutos. Para eles nada mais interessa além de uma vida confortável, com a despensa cheia e a adega bem abastecida.
            Certo dia, Bilbo recebe a visita de Gandalf, um mago que por ali passava e vinha convocar Bilbo para uma expedição, mesmo que a contragosto. Toda a paz do bolseiro é perturbada quando sua toca é literalmente invadida por diversos anões que seriam seus companheiros de viagem. Mesmo diante da insistência de Bilbo em convencer o mago e os anões de que teriam se enganado ao convocá-lo para tal expedição, seus esforços não surtem efeito e os planos começam a ser traçados. Bilbo era um ladrão e o plano era justamente roubar o tesouro guardado por Smaug, o Magnífico, um dragão forte e terrível.
            Contrariado e ressentido por ter de abandonar sua confortável toca hobbit, Bilbo e os anões partem em viagem, liderados por Thorin. Nada tão incômodo como viajar montado naqueles pôneis, por caminhos tortuosos e com uma escassez de comida tamanha. A situação se agrava ainda mais quando o grupo tem toda a sua reserva saqueada por um bando de orcs, os guardiões da montanha, que aprisionam os anões fazendo com que Bilbo os perdesse de vista. No entanto, ao encontrar uma estranha criatura chamada Gollum, o Sr. Bolseiro consegue a incrível façanha de lhe roubar seu anel, num jogo de advinhas, evitando ser devorado. O anel de Gollum tinha o poder de deixar invisível aquele que o estivesse usando.
            A viagem continua e os perigos também. Orientados apenas pelo mapa de Thror os anões e o hobbit prosseguem sua jornada com objetivos distintos: para Thorin e sua turma aquela expedição só teria sentido se conseguissem derrotar o dragão e saquear tudo aquilo que lhes tinha roubado; para Bilbo no entanto, mesmo que não recebesse a parte que lhe fora prometida do tesouro, confortar-lhe-ia pensar que poderia voltar para sua toca e relaxar com os pés para o alto, tomando chá e fumando cachimbo, sentado em sua agradável poltrona. Mas uma vez iniciada aquela busca, ela deveria ser levada até o fim. E muitos desafios ainda teriam de ser superados pelos aventureiros, especialmente na Floresta das Trevas, onde vivia o arisco povo do Rei Élfico.
            Em sua origem, O Hobbit foi uma obra que Tolkien escreveu para seus próprios filhos. Publicado em 1937, teve sucesso imediato e rapidamente vendeu milhões de cópias pelo mundo inteiro. Hoje é um clássico da literatura universal e um dos livros mais influentes da atual geração.

TOLKIEN, J. R. R.. O Hobbit. São Paulo: Editora WMF, Martins Fontes, 2009. 3ª ed.. 300 pgs.

Confira o trailer da adaptação para o cinema com previsão de lançamento em dezembro de 2012:


O Silmarillion (J. R. R. Tolkien)

           J. R. R. Tolkien nasceu em 3 de janeiro de 1892. Suas obras são mundialmente famosas e conhecidas pela riqueza imaginativa na criação de seus mundos e personagens. Dentre elas, destacam-se os títulos O Silmarillion, O Hobbit e O Senhor dos Aneis, sendo que este último foi para as telas do cinema com a trilogia A Sociedade do Anel, As Duas Torres e O Retorno do Rei. Tolkien faleceu em 2 de setembro de 1973, aos 81 anos.
           A obra em questão, O Silmarillion, está intimamente ligada à obra-prima O Senhor dos Aneis. No entanto, os fatos que são narrados nela se referem a uma época muito mais primitiva, a Primeira Era do Mundo, enquanto que em O Senhor dos Aneis foram narrados os acontecimentos da Terceira Era. Publicada quatro anos após a morte de Tolkien, O Silmarillion é considerado a obra mais antiga, uma vez que em 1973 alguns cadernos já encerravam os seu esboço. 
       Embora apresentando uma história contínua, O Silmarillion subdivide-se em cinco partes com acontecimentos bastante definidos. São elas: Ainulindalë, que traz a Música dos Ainur; Valaquenta, ou Relato dos Valar; Quenta Silmarillion, na qual apresenta a história das Silmarils; Akallabêth, com o relato da queda de Númenor; e por fim Dos Aneis de Poder e da Terceira Era, cujo nome já apresenta uma ideia do que descreve. 
           A primeira parte, Ainunlindalë, traz o relato da criação de tudo o que veio a existir por meio dos poderes de Ilúvatar (Eru). Eä era o Mundo Material e os Ainur os primeiros seres criados por Eru. A partir do vazio, a música harmoniosamente entoada pelos Ainur fizera com que tudo fosse adquirindo a forma que possui e o ser. No entanto, entre os Ainur existia um de coração soberbo e invejoso que destoava a melodia da criação, fazendo com que o mal surgisse e viesse habitar a terra de Arda ou mundo criado. Seu nome era Melkor e seus interesses mesquinhos fizeram com que se separasse dos Ainur e fosse habitar em Arda. Era o começo da cisão dos Ainur.
           O relato intitulado Valaquenta traz a história dos Ainur que vieram habitar Arda a fim de protegê-la dos poderes de Melkor. Mais tarde chamado de Morgoth pelo povo dos noldor, Melkor era uma ameaça constante devido a seus planos maléficos de domínio. Os Ainur que habitavam Arda receberam o nome de Valar e os Maiar eram seus criados que se colocavam a seu serviço. Em sua ganância, Morgoth corrompera alguns Maiar com promessas de domínio em seu império. Com isso, travava-se uma constante guerra sobre o mundo.
           A história seguinte, Quenta Silmarillion é a que ocupa mais páginas e intitula o livro de Tolkien. Aulë, um dos Valar, estava impaciente para ver a chegada do ápice da criação, os Filhos de Ilúvatar, e então criou o povo dos anões. Como Ilúvatar não gostara desses precursores e prometera destruí-los, diante dos clamores de Aulë, aquiesceu e deixou-os viver, desde que surgissem somente após os Filhos de Ilúvatar. Os Valar guerreavam constantemente com Melkor a fim de prepararem Arda para a chegada dos Filhos de Ilúvatar e, numa das batalhas aprisionaram-no. No entanto, a astúcia de Melkor o fez fingir uma bondade nunca antes vista pelos Valar que acharam que ele havia sido curado de sua maldade. E assim Melkor conseguiu escapar, refugiando-se em terras sombrias.
           Ao surgirem os quendi (elfos) os Valar os convidaram a irem para um lugar mais seguro a oeste da terra média. Como muitos relutaram, ocorrera a primeira cisão dos elfos, em dois grupos: os avari, que se negaram a fazer a Grande Viagem; os eldar, que partiram junto a Oromë. Esse segundo grupo, ainda se dividira em vanyar, noldor e teleri comandados pelos clãs Ingwë, Finwë e Elwë, respectivamente. E os eldar habitavam Arda durante tempos de paz.
           Dentre os eldar, havia Fëanor, de grande bravura e valentia que criou três pedras de raro valor, as Silmarils. No entanto, Morgoth se apoderara delas e as fixara em sua coroa. A partir de então, Fëanor tornara-se seu maior inimigo, de forma que, enlouquecido de fúria, dedicaria a vida para vingar-se de Morgoth. E seu ódio passara também para seus filhos. Assim, Quenta Silmarillion desenvolve as guerras travadas por Fëanor, bem como os outros personagens importantes nesse contexto. Enfim, apresenta o nascimento dos homens, fracos e mortais perante os elfos.
           O relato Akallabêth é um prolongamento do resultado da maldade de Melkor. Dessa forma, apresenta a invasão de Númenor pelos orcs, que eram servos de Morgoth. A cidade protegida e oculta encontra seu declínio nesse relato. 
           Por fim, temos Dos Aneis de Poder e da Terceira Era. Aqui Tolkien desvenda as artimanhas de Sauron, o mais poderoso dos servos de Morgoth que, em sua luta pela destruição dos eldar e dos homens, criara os Aneis de Poder como símbolo de sua força e domínio.
        Resumir O Silmarillion em poucas palavras é tarefa difícil e até mesmo complicada. A engenhosidade de Tolkien o fez criar um universo povoado de inúmeros personagens. Alguns deles passam um pouco que despercebidos mas todos se concatenam perfeitamente dando moldes fantásticos ao mundo imaginativo que o autor cria. A edição conta até mesmo com importantes anexos como os mapas das terras de Beleriand, um esquema representativo da cisão dos elfos, notas sobre a pronúncia dos nomes, um apêndice sobre os elementos dos idiomas quenya e sindarin, além de um glossário com referências também a O Senhor dos Aneis para que o leitor consiga mastigar ao máximo a narrativa e entender quem é quem em meio ao vasto elenco da história. Assim, Tolkien cria um verdadeiro universo com idioma próprio, geografia sugestiva e seres mitológicos específicos para que o leitor recrie em sua imaginação uma parte daquilo que foi imaginado pelo autor ao escrever sua obra. Não é por acaso que Tolkien se tornou um autor consagrado no mundo moderno, de forma que seus livros sejam atrativos para diversos olhares, mas somente os desbravadores corajosos sejam capazes de mergulhar no mundo fantástico que é criado.

TOLKIEN, J. R. R.. O Silmarillion. 4ª ed.. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009. 470 pgs.
  

sábado, 10 de dezembro de 2011

O Símbolo Perdido (Dan Brown)

     Após o sucesso obtido pela publicação de Anjos e Demônios e O Código Da Vinci, Dan Brown novamente impressiona seus leitores com uma nova ficção repleta de mistérios e aventuras. Trata-se da terceira saga do professor de simbologia da Universidade de Harvard, Robert Langdon. Desta vez, o tema central de toda a trama envolve a Francomaçonaria.
      Assim como em suas duas primeiras grandes aventuras – a primeira, vivida nos corredores do Vaticano e a segunda no Museu do Louvre, em Paris – novamente o professor Langdon é absorvido por uma névoa de enigmas com soluções urgentes, na tentativa de evitar consequências drásticas. Desta vez o espaço da narrativa é a cidade de Washington (EUA), principalmente o Capitólio dos Estados Unidos.
       Certa manhã, o professor é surpreendido por um convite de seu amigo Peter Solomon, para que vá na noite daquele dia ministrar uma palestra sobre maçonaria no Capitólio. Mesmo sem entender por  quê um membro e grã-mestre da Francomaçonaria havia convidado alguém que não era perito no assunto para tal missão, Langdon não reluta em atender ao convite do amigo. No entanto, sua surpresa é ainda maior quanto, ao chegar na sala de palestras indicada por Peter, não se depara com nada nem ninguém. Ao contrário, Langdon é atingido pela imagem macabra da mão direita de Peter fincada em um objeto no chão, com os dedos formando um sinal maçônico. Toda uma enigmática teia de mistérios deveria ser decifrada a partir de então.
          Na mesma cena do crime, Langdon se encontra com Inoue Sato, chefe do Escritório de Segurança da CIA; Trent Anderson, chefe de polícia; e Warren Bellamy, arquiteto do Capitólio e membro da Francomaçonaria. Langdon soubera que o amigo Peter Solomon fora sequestrado e estava sob o poder de um homem que se autodenominava apenas como Mal'akh. Este por sua vez, tinha em mente planos catastróficos e, além de sacrificar a vida de Peter, planejava também a morte de sua irmã Khaterine Solomon. As ideias fundamentalistas que trazia consigo eram os principais mecanismos que o moviam a isso, além da culpa proveniente de traumas vividos no passado.
         Katherine Solomon era cientista e pesquisadora da área de ciência noética. Conforme tal estudo, o ser humano não se reduziria a um complexo de fenômenos químicos e biológicos, mas também psíquicos. A grande novidade nisso tudo era que Katherine buscava uma forma de provar e mensurar tais fenômenos, o que seria um diferencial científico. Prestes a concluir uma importante etapa de sua pesquisa, as descobertas obtidas até então poderiam ocasionar uma verdadeira revolução, promovendo uma integração na possibilidade de conjugar tanto o que a ciência teoriza, quanto o que as religiões pregam sobre a unificação da dualidade humana em corpo e alma. Seu irmão Peter a incentivara bastante e construíra uma laboratório de alta segurança para seus experimentos. No entanto, o encontro com seu agressor lhes traria trágicas consequências, além de evocar memórias dolorosas como o assassinato de sua mãe.
       Diante do trágico destino que se descortinava, Langdon e Katherine passam a trabalhar juntos na tentativa de encontrar Peter. Por outro lado, os interesses da CIA visavam a segurança nacional, uma vez que Mal'akh possuía um vídeo exibindo líderes mundiais durante uma prática de rituais maçônicos, em simulações de assassinatos e ritos macabros. Entendido fora de contexto, tal vídeo poderia gerar descrédito e consequentemente uma crise moral. A ausência de pistas do criminoso era uma marca que enaltecia a importância do saber histórico de Langdon. Somente a Pirâmide Maçônica que lhe fora confiada por seu amigo poderia fornecer os indícios para a resolução de todo o enigma apresentado. Além do mais, o mistério dos símbolos que encerrava traria à tona um enigma ainda maior: qual era a Palavra Perdida, capaz de promover transformações em escala mundial, caso fosse pronunciada? Desta vez, Langdon passaria por experiências ainda mais provocantes, além de um estado de quase-morte aterrorizante. Seu medo claustrofóbico será um grau de dificuldade a mais para decifrar a chave da Palavra Perdida.
        Fazendo jus à formação acadêmica de seu protagonista, mais uma vez Dan Brown farta o leitor com saberes históricos e informações sobre sociedades secretas seculares. A intrigante característica literária que possui de mesclar traços históricos verídicos com ficção, promove O Símbolo Perdido a um dos grandes clássicos da literatura contemporânea. A natureza da narrativa não é encoberta pela mesma polêmica provocada pelos outros dois best-sellers anteriores, quando ataca diretamente as sólidas estruturas da Igreja Católica. Mesmo assim, Dan Brown consegue contagia mais uma vez com a interessante trama em que Robert Langdon se envolve.

BROWN, Dan. O Símbolo Perdido. Rio de Janeiro: Sextante, 2009. 490 pgs. 

Confira o trailer da adaptação para o cinema com previsão de lançamento em 2012:

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O Código Da Vinci (Dan Brown)


       O Código Da Vinci é o segundo livro das aventuras do protagonista Robert Langdon. Aclamado best-seller mundial, já vendeu mais de 45 milhões de livros e foi para as telas do cinema em 2006, sob a direção de Ron Howard.
       Após vivenciar o dossiê envolvendo o Vaticano em Anjos e Demônios, um ano depois, Robert Langdon, o professor de simbologia de Harvard, vive uma nova saga.
      No Museu do Louvre em Paris, o diretor Jacques Saunière havia sido assassinado. No entanto, Saunière deixara uma mensagem em código acompanhada do nome de Langdon. A partir de então, Bezu Fache, comandante da Diretoria Central da Polícia Judiciária (DCPJ), juntamente com o tenente Collet, iniciam uma série de investigações visando prender o professor de Harvard, principal suspeito do crime, já que tinha um encontro marcado com Saunière na mesma noite em que este morrera. No entanto, Sophie Neveu, membro do Departamento de Criptologia da Polícia Judiciária, age a tempo de avisar Langdon, mas juntamente com ele, passa a ser procurada por Fache. Numa corrida contra o tempo, a principal tarefa de Langdon e Sophie seria decifrar o código e descobrir o segredo do diretor do Louvre.
       Jacques Saunière era membro do Priorado de Sião: uma sociedade europeia fundada em Jerusalém no ano de 1099 pelo rei francês Godofredo de Bouillon, com o objetivo de proteger um segredo guardado por sua família desde os tempos de Jesus Cristo. Os Cavaleiros Templários foram uma ramificação militar do Priorado, fundada para recuperar o acervo de documentos secretos, conhecidos como Santo Graal. Grandes gênios da humanidade como Leonardo Da Vinci, Victor Hugo e Isaac Newton, haviam pertencido à ordem. Saunière, grão-mestre do Priorado, possuía a Clef de Voûte (pedra-chave): um tablete esculpido com a revelação de onde estava a morada do maior segredo da fraternidade – o túmulo de Maria Madalena. O segredo de onde estava o túmulo fora encerrado por Saunière em um críptex e guardado na filial de Paris do Banco de Custódia de Zurique, cujo presidente era André Vernet.
         Em outro plano, temos a figura de Manuel Aringarosa, bispo e diretor-geral do Opus Dei. Esta é uma congregação da Igreja Católica, fundada pelo padre espanhol Josemaria Escrivá em 1928, que prega o retorno aos valores conservadores da Igreja, bem como o incentivo à prática de mortificação por seus adeptos. Em nome do Mestre, Aringarosa tinha a missão de encontrar a pedra-chave e destruir o segredo do priorado, uma vez que se fosse revelado, poderia gerar uma crise de fé nunca antes vista na história da Igreja. Para isso Aringarosa contava com a ajuda de Silas, um monge albino membro do Opus Dei, que tinha para com o bispo grande reconhecimento por lhe ter salvo a vida.
         Incapazes de decifrarem sozinhos o código de Saunière, Langdon e Sophie contam com a ajuda de Leigh Teabing, inglês amigo do professor e grande conhecedor do Santo Graal. Com Leigh, descobrem segredos ocultos nas pinturas de Leonardo Da Vinci e podem traçar caminhos mais acertados na busca do Graal. No entanto, as inconstâncias do destino os fazem fugir para a Inglaterra juntamente com o criado de Leigh, Rémy Legaludec.
        O Código Da Vinci é um daqueles livros raros em que o leitor, além de uma trama envolvente do início ao fim, encontra um acervo empolgante de referências a fatos históricos verídicos. Seu sucesso atesta porque foi para as telas do cinema. Uma história impressionante que coloca Dan Brown como um dos mais brilhantes autores contemporâneos.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:   Código Da Vinci, O
Autoria: Dan Brown
Editora: Sextante
Ano:      2006
Local:    Rio de Janeiro
Gênero: Ficção científica | Suspense


Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2006: