sexta-feira, 30 de junho de 2017

The Walking Dead: a queda do Governador - Parte Um (Robert Kirkman / Jay Bonansinga)



Embora um recinto aconchegante se considerado o caos que o mundo vivia, Woodbury era também um reino de selvageria comandado por um líder perverso e desvirtuado. Haja vista as lutas que promovia na arena, como forma de divertir os moradores e iludi-los do caos, com duelos em meio a zumbis decompostos e famintos. A personalidade atroz de Philip não era conhecida por todos, o que lhe garantia certo prestígio e mérito por ser visto como um defensor heroico. Nesse contexto, vivia Lilly Caul, ainda atormentada pelos acontecimentos do último episódio (O caminho para Woodbury) e também deprimida pela dor não resolvida provocada pela morte dos amigos e do namorado. Somente a presença amiga de Austin, soava como um alívio para o clima depressivo que vivia.
Woodbury era uma “ilha” rodeada pelos temíveis mortos-vivos, de forma que, dentro de seus limites, todos estavam seguros. A imagem benéfica de Philip era a bandeira de sua campanha entre os habitantes. Seu lado perverso era conhecido somente pelos seus capangas, pelo Dr. Stevens e sua auxiliar, Alice. A ditadura de seus atos era algo jamais visto na história da humanidade, de forma que àqueles que presenciavam suas atrocidades restava o silêncio, caso não quisessem se juntar à horda de zumbis que assolava o mundo externo.
     Esse terceiro volume da série satisfaz o apetite de muitos fãs da franquia The Walking Dead, quando promove a interligação das três mídias: as histórias em quadrinhos, o seriado televisivo e os livros. Durante a narrativa, um trio chega a Woodbury. São Michonne, Rick e Gleen, que foram capturados por Martinez e levados ao Governador como ameaça em potencial. O que acontece é um show de atrocidades da mais cruel categoria: Rick tem a mão direita decepada pelo Governador; Michonne é abusada e espancada covardemente; Gleen é mantido em cárcere e torturado como uma isca para que os capangas descubram a verdade sobre alguns rumores a respeito de certa prisão nos arredores. Na verdade, o trio vinha de um refúgio muito mais seguro e Philip desejava, a qualquer custo, apoderar-se do local. O conflito de interesses colocaria à prova o poder de comando do Governador e a segurança do grupo de Rick. A pequena sociedade de Woodbury chegava a um ponto onde ninguém era digno de confiança, principalmente aqueles que garantiam a segurança e manutenção da ordem no local.
     Um aspecto interessante que se pode destacar é a percepção construída a partir de três visões diferentes: a do povo de Woodbury, que via na pessoa do Governador a figura de um líder emergente, capaz de garantir-lhes um mínimo da dignidade que perderam com o início da praga; Lily Caul e Austin, cujo clima de romance, dava-lhes esperança de que dias melhores viriam; Rick, Michonne e Gleen, que tinham consciência de ter encontrado uma ameaça ainda mais temível do que a própria horda de zumbis.
    Dos três primeiros livros lançados, talvez esse seja o mais digno de representar o universo de The Walking Dead: muitos zumbis, inúmeros detalhes sórdidos e nojentos, ataques inesperados de humanos e mortos-vivos, um clima de tensão, medo e suspense sempre presente, desafiando o leitor a parar de ler, se for capaz. Embora introduza a figura dos protagonistas do seriado lançado pela AMC, a figura central de toda a narrativa continua sendo o Governador com sua personalidade dúbia e perversa. Dessa forma, a tônica da narrativa possui um escopo muito mais político do que ligado à sobrevivência e destruição dos mortos-vivos. É também uma leitura obrigatória para os fãs da série, já que fornece detalhes e histórias que as outras mídias não aprofundam o suficiente (por exemplo, Lily Caul, que nas histórias em quadrinhos tem um papel importante na “queda do Governador”).

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Walking Dead, The
Subtítulo:  a queda do Governador - Parte Um
Autoria:     Robert Kirkman / Jay Bonansinga
Editora:     Galera Record
Ano:          2014
Local:        São Paulo
Edição:      6ª
Série:        The Walking Dead - Livro III
Gênero:     Zumbi | Suspense

Confira o trailer da série lançada em 2010:



terça-feira, 20 de junho de 2017

O Crepúsculo do Mundo (Allan Massie)

Allan Massie é um autor especialista em romances históricos. Neste, conta a história de Marcos, de quem se dizia ser filho de São Miguel Arcanjo, durante o período das invasões bárbaras ao Império Romano. O título se justifica pois o autor enfatiza uma época crepuscular em que o mundo vinha adormecendo de uma cultura marcadamente impregnada pelos mitos e uma visão religiosa da sociedade, para uma cultura onde o cristianismo começava a ser alvo de questionamentos e os barbarismos ameaçavam o poder político. Concomitantemente, tal período marca também o início de acontecimentos que levariam ao declínio do Império Romano.
Marcos é um jovem que, durante suas aventuras, perpassa pelos povos gregos e italianos, como quem descobre um outro lado do mundo na Idade Média. Durante suas expedições, os personagens que encontra o fazem explorar seus principais conceitos sobre a religião, especialmente sobre o cristianismo, credo que ele mesmo professava. Num mundo cujo cristianismo ainda é profundamente marcado pela visão mítica e por lendas, Marcos conhece também o lado lascivo que muitos de seus adeptos praticavam, sem remorso ou temor pela concepção de pecado, mas sim entregues aos prazeres e paixões, muitas vezes justificadas por conceitos filosóficos.
O início da jornada de Marcos começa quando o Imperador Honório o envia, acompanhado do Padre Bernardo, do cavalariço grego Quíron e do pajem Gito para que fosse o mensageiro responsável por levar sua mensagem de trégua junto aos visigodos, liderados pelo irredutível Alarico. No entanto, a irmã do rei, princesa Honória, tinha outros intuitos discordantes do imperador, já que ela buscava também perverter o sagaz João, o Entendido, conselheiro de Alarico, por quem nutria grande aversão. A proposta soaria ineficaz e os visigodos partiriam rumo a Roma para um saque que entraria definitivamente para a história romana como um dos eventos mais desastrosos de sua existência.
Em suas aventuras, por conveniência, Marcos se casa com uma grega de nome Artemísia, filha de Melanipos, um rico proprietário de cavalos e vinhedos, ainda que seu coração fosse mais afeto a Pulquérrima. Ao passar por Constantinopla, a imperatriz Eudóxia o envia para uma nova missão, sob a recomendação de que Artemísia ficasse a seu serviço até que Marcos retornasse da perigosa saga. Contudo, traiçoeira que era, a imperatriz manda cegar Artemísia e deixá-la vagar como mendiga pelo império de Constantino, relatando uma história trágica para Marcos, quando esse regressa à pedido da própria imperatriz. Nesse episódio vemos uma trama envolvendo o famoso João Crisóstomo, arcebispo que tecia duras críticas ao comportamento da imperatriz.
A história é entremeada pelos deuses e heróis gregos e romanos, revelando os reflexos que uma era de mitos ainda respingavam em uma cultura cujo cristianismo era a religião dominante. Há um debate em torno do que seria o Santo Graal, talvez até mesmo antecipando a lenda do próximo volume da Trilogia Eterna Roma, Rei Artur. Como romance histórico, a preocupação do autor em manter o caráter narrativo oculta um pouco caráter informativo que alguns leitores talvez possam esperar. Contudo, ao viajar por um dos mais emblemáticos períodos da civilização humana, a história não perde seu valor, ainda que sua trama possua traços essencialmente fictícios. Enfim, inaugurando a trilogia Eterna Roma a obra tem o mérito de louvar a perenidade do Império Romano, mesmo em tempos de duras crises.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Crepúsculo do Mundo, O
Subtítulo: um romance da Idade das Trevas
Autoria:    Allan Massie
Editora:    Ediouro
Ano:         2002
Local:       Rio de Janeiro
Série:       Eterna Roma - Vol. I
Gênero:    Épico | História

sábado, 10 de junho de 2017

Os Últimos Dias de Krypton (Kevin James Anderson)

O mundo já conhece o personagem lendário dos quadrinhos que a DC Comics criou e imortalizou. Agora é o momento de conhecer, em forma de prosa, a gênese do Super-Homem, bem como fatos inéditos de seus antepassados. É essa a tarefa que Kevin Anderson se propõe nesta obra magnífica.
Krypton era um planeta governado por um conselho composto por onze membros e vivia dias de paz, graças às regras que regiam a sociedade. Jor-El era um cientista de renome, conhecido por suas diversas invenções, ainda que muitas delas tenham sido vetadas pelo membro da Comissão para Aceitação da Tecnologia, comissário Zod, por encontrar riscos à sociedade, caso aquelas invenções caíssem em mãos erradas. Assim foi com a Zona Fantasma, uma espécie de prisão no vácuo, cujo próprio Jor-El experimentara, sendo salvo graças à intervenção de sua amiga Lara.
Jor-El era irmão de Zor-El, líder e governador da cidade de Argo City. Enquanto um era dedicado à vida científica, o outro gastava sua vida para o bem-estar de seu povo. Mas o conhecimento tecnológico de ambos levara-os a uma terrível constatação: o sol de Krypton, Rao, estava entrando em supernova e o núcleo do planeta apresentava atividades sísmicas cada vez mais incomuns. Tudo isso indicava que o fim daquele planeta era iminente, demandando das autoridades uma rápida intervenção, no sentido de levar a população para outro planeta mais seguro. Contudo, o Conselho era cético em relação às ameaças informadas pelos irmãos, ainda mais porque a constatação deles era fruto de cálculos complexos, pouco havendo indícios factuais que o confirmassem.
Certo dia, Jor-El recebera a visita de Donodon, um alienígena que já observara diversos planetas cujos habitantes possuíam traços semelhantes aos dos moradores de Krypton. Entre eles, destacava-se o planeta Terra. No entanto, um acidente provocado por uma das invenções de Jor-El, causara a morte de Donodon, fazendo com que o comissário Zod o acusasse perante o Conselho. O julgamento de Jor-El estava marcado e dificilmente se livraria das acusações. Seu consolo era somente sua nova esposa, Lara, com quem se casara recentemente. Porém, durante a lua de mel, uma artimanha tramada por Zod fizera com que a capital de Krypton, Kandor, fosse dizimada do mapa, exterminando também todos os membros do conselho. Consequentemente, Zod montara seu próprio conselho e se autodeclarara General Zod, governando juntamente com sua esposa Aethyr. Enquanto isso, a ameaça de Rao era uma constante e a situação do planeta tornava-se ainda mais vulnerável, principalmente pela descoberta de um novo perigo: um cometa batizado como “Martelo de Ur” que estava em rota de colisão com Krypton. Porém, o General Zod era um líder tirano e vaidoso e pouco se importaria com essas ameaças, já que seu maior objetivo era consolidar seu poderio e submeter todos os kryptonianos a seu domínio. Kryptonopolis era a nova capital e nova ordem instaurada só podia ser combatida por Zor-El e os líderes aliados das outras cidades. Enquanto isso, Jor-El tentaria desesperadamente encontrar uma salvação a nível planetário, movido principalmente pela paixão por Lara e pelo sonho de que seu filho, Kal-El, ainda no ventre materno, pudesse vir a habitar em um lugar melhor.
Os Últimos Dias de Krypton é um livro cujos fatos se comunicam e intercalam perfeitamente, criando um enredo estimulante para o leitor. Com capítulos curtos e bem delineados, aos poucos o autor vai narrando o jogo de poder que, ao invés da salvação, culminara na destruição do lar kryptoniano. A questão política é muito presente, mas a trama cede espaço também para as relações afetivas, especialmente o romance entre Lara e Jor-El, que é contado desde os primeiros encontros entre os dois. Uma leitura para além do enredo aventureiro ensinará também a importância do cultivo da memória dos antepassados. Os fãs mais conhecedores da história do Superman, especialmente aquela contada nos quadrinhos, poderão dizer com mais propriedade se essa obra é uma celebração louvável da origem do personagem ou uma distorção deprimente da real história de Krypton. Opiniões à parte, a obra não deixa de ser a narração de uma aventura extremamente agradável de ler.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:   Últimos Dias de Krypton, Os
Autoria: Kevin James Anderson
Editora: Casa da Palavra
Ano:      2013
Local:    Rio de Janeiro
Gênero: Aventura | Drama