quinta-feira, 26 de maio de 2016

Diário do Chaves (Roberto Gómez Bolaños)


            Exibido pela primeira vez em 1971, o seriado mexicano El Chavo del Ocho ("Chaves", no Brasil), desde então vem conquistando e mantendo milhares de fãs pelo mundo inteiro. Assim, o criador, intérprete e escritor Roberto Bolaños brinda seus fãs com essa obra, primeira a respeito de seu personagem, originalmente lançada em 1995, sob o nome El Diario del Chavo del Ocho.
            Com a pouca alfabetização que tinha, insuficiência de recursos e baixo rendimento escolar, é improvável que o Chaves escrevesse um diário. Em virtude disso, talvez soaria inadequado o título da obra. Contudo, já no prefácio o autor cria o clima para entronizar os escritos propriamente ditos do menino pobre da vila. Roberto está em um parque, quando um menino de roupas velhas e rasgadas, gentilmente se oferece para engraxar-lhe os sapatos. Aí se dá o motivo principal por que o autor sente-se tão encantado por sua própria criação: a ternura no olhar daquele garoto. Em seguida, o menino toma novamente suas coisas e sai correndo, entusiasmado com os trocados que ganhara, mas se esquece de um pequeno caderninho. Era o registro de suas memórias, que compõem o Diário do Chaves.
            Com os nomes dos personagens intitulando as divisões dos capítulos e suas devidas caricaturas, muito bem desenhadas, Chaves narra em primeira pessoa diversas das conhecidas histórias que acontecem no dia a dia da atrapalhada vila. Para quem já é fã do seriado e diverte-se com as confusões na vila, verá que não existem muitas novidades. Talvez algumas informações acerca de como o menino Chaves tornou-se o habitante do barril mais famoso do mundo e algumas pinceladas sobre seu passado. Fora isso, a diversão fica por conta do que já é característico: as eternas brigas entre Dona Florinda e Seu Madruga, as peripécias da esperta Chiquinha, a esperança inacabável de Seu Barriga ao cobrar o aluguel na vila, as fadigas do carteiro Jaiminho em seu trabalho, as burrices do Quico, a peleja do Prof. Girafales em sua dura tarefa na escola, além de diversas histórias com Nhonho, Pópis, Pati, Dona Clotilde e outros.
            Em relação a presente edição, alguns pormenores ficaram na dúvida. Em primeiro lugar, praticamente todas as imagens inseridas em algumas partes do texto, nada tem a ver com os assuntos que estão sendo tratados em cada capítulo. Como não possuía dons artísticos refinados para o desenho, é improvável que Chaves desenhasse o cotidiano da vizinhança, de forma que isso aponta para uma falha na diagramação do livro.  Além disso, alguns capítulos iniciam um assunto e o desenvolvem somente no capítulo seguinte, deixando certa lacuna na história. Seria um recurso literário para expressar a dificuldade do Chaves em organizar as próprias ideias? Dúvidas à parte, Roberto Bolaños acerta em cheio ao transcrever os diálogos de uma forma muito parecida com a que o Chaves fala. Isso é evidente principalmente nas partes em que é prolixo e repetitivo ao tentar explicar alguma coisa e acaba não explicando absolutamente nada, terminando por fim, confundindo à respeito daquilo que tentou explicar e também em expressões típicas como: "muitississímo", “sem querer, querendo”, etc..
            O prólogo é uma demonstração do sucesso que o seriado fazia quando o elenco se apresentava em vários países do mundo. Enfim, uma pequena justificativa que mostra o porquê o garoto pobre da vila cada vez mais é imortalizado e faz a alegria de várias pessoas em todos os continentes.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:        Diário do Chaves
Autoria:      Roberto Gómez Bolaños
Editora:      Ponto de Leitura
Ano:           2010
Local:         Rio de Janeiro
Gênero:      Comédia

Veja alguns episódios da série mais exibida na América Latina:

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Médico de Homens e de Almas (Taylor Caldwell)



         Considerado um dos melhores romances bíblico de todos os tempos e um clássico da literatura mundial, essa obra épica narra, de forma romanceada, mas coerente com os fatos históricos, a história de São Lucas – chamado Lucano -, um dos quatro evangelistas cristãos. A obra é fruto de 46 anos de dedicação da sua autora, cujo cuidado em sua escrita justifica o sucesso pelo mundo.
         Embora de origem humilde, Lucano era bastante estimado por Deodoro Cirino, tribuno romano que vivia com sua família na Síria. O pai de Lucano, Enéias, fora escravo liberto de Deodoro, por quem tinha muito apreço e ainda servia fielmente com sua esposa Ísis. Lucano era muito amigo da filha do tribuno, Rúbria, por quem nutria um amor puro desde a infância. Rúbria encontrava-se bastante enferma e corria sério risco de morte. Já na infância, certo poder místico de Lucano é manifesto quando Rúbria apresenta sinais de uma cura rápida e inexplicável.
         Como Deodoro via o talento daquele garoto, sentia também ser ele predestinado a um futuro brilhante. Com isso, investe no menino para que ele aprimorasse seus estudos e se formasse um excelente médico. Keptah, escravo e médico a serviço do tribuno, seria incumbido da missão de iniciar o jovem nas artes da medicina. Lucano corresponde e torna-se um profissional dedicado e cuidadoso no trato das moléstias humanas. Desde cedo, Lucano conservava também a fé em um Deus que tudo criara e tudo regia. Embora grego, a espiritualidade de Lucano levava-o a crer mais no "Deus desconhecido" dos judeus do que no politeísmo do Olimpo. No trato com seus pacientes, Lucano vivia seus valores religiosos, de forma que, em muitos deles, detectava males que outros médicos não percebiam e curava doenças que outros médicos davam como incuráveis. Na verdade, ele sabia que muitos dos que o procuravam estavam doentes da alma e não do corpo.
         Após três mortes trágicas e consecutivas, a fé de Lucano passou por uma crise de revolta: seu pai Enéias morrera durante uma tempestade, tentando preservar alguns escritos; Rúbria falecera em decorrência de sua doença; Aurélia, esposa de Deodoro, morrera durante o parto de seu filho prematuro. Lucano exercia seu ofício entre os pobres e não se conformava com o fato de Deus permitir que pessoas boas sofressem males indescritíveis. Se Deus era um bom pai, então porque permitia o sofrimento de seus filhos? Acompanhava-o José Ben Gamliel, que era um homem piedoso. Lucano não conseguia compreender como aquele homem louvava a Deus, o qual, em sua concepção, era o mortífero inimigo de todos os homens. Ainda assim, dedicava-se com esmero aos pobres abandonados até mesmo pelo Pai de todos os homens.
         As viagens de Lucano levaram-no a Jerusalém onde ouviu falar de um homem enigmático chamado Jesus Cristo, que vivera ali, fora crucificado e ressuscitara havia poucos dias. Sua opção preferencial pelos pobres era a característica mais marcante para Lucano. A partir daí procurou conhecer melhor sobre aquele homem e teve sua vida transformada por encontrar as respostas que havia tanto tempo trazia consigo. As histórias que ouvira, principalmente do rico judeu Hilell Ben Hamram e de alguns influentes soldados romanos, foram todas escritas, vindo a formar o Evangelho segundo Lucas meditado pelos cristãos de todos os tempos.
         Em meio aos fatos que dão forma à história torna-se surpreendente acompanhar a evolução espiritual por que passa o protagonista. Lucano jamais vira Jesus pessoalmente, mas acreditara piamente em suas palavras a ponto de viver uma espiritualidade íntima e comunicá-la às pessoas. Fora convencido pela fisionomia mística daqueles que com ele estiveram de que aquele galileu de fato era o esperado pelos judeus, cujo nascimento ocorrera naquela noite em que o pai de Lucano mostrara-lhe uma estrela cadente no céu. E essa estrela sempre brilhou no coração e na prática de Lucano a ponto de ser registrada em seu evangelho.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Médico de Homens e de Almas
Autoria:    Taylor Caldwell
Editora:    Círculo do Livro
Local:       São Paulo
Gênero:    Cristianismo | Espiritualidade

sexta-feira, 6 de maio de 2016

The Walking Dead: aqui permanecemos (v.9) (Robert Kirkman)



            O ataque intempestivo de Philip à prisão causou não só a destruição do espaço físico do lugar, antes considerado como o mais seguro até então, como também a destruição irreparável de laços afetivos. O grupo de Rick novamente estava separado e sujeito aos perigos do terror zumbi. Tecendo os passos da reorganização dos sobreviventes, esse volume aborda essencialmente a trajetória de Rick, Carl e Michonne.
            Após uma fuga desenfreada para se manterem a salvo da manada de zumbis, Rick e Carl procuram um lugar seguro para passarem a noite e encontram uma residência abandonada nas proximidades. Os dois estavam arrasados por terem perdido Lori e Judith de forma tão abrupta e repentina. Não bastasse o torpor emocional, Rick também sente dores estranhas, provavelmente oriundas do tiro que levou e, após tomar alguns antibióticos, desmaia por dois dias seguidos, o que leva seu filho a pensar que ele estivesse morto. Carl se põe a refletir sobre todo o ocorrido, pensando que seu pai falhara na missão de proteger ao grupo e a si mesmo e se revolta por ter um pai tão negligente. Quando Rick estava acordando, Carl pensa que ele estivesse se transformando em um errante e por pouco não o mata.
No dia seguinte, pai e filho decidem sair para procurar mantimentos e outro lugar mais seguro. Contudo, Rick ouve o som de um telefone tocando dentro da casa e volta para atender. De início, uma mulher fala que pertencia a um grupo que estava buscando por sobreviventes. Depois, a mesma mulher se identifica como sendo Lori, a falecida esposa de Rick. São sinais claros da carga de estresse que estava o abatendo, levando-o ao delírio. E assim, Rick coloca o telefone em uma mochila e parte junto com Carl. Eles veem um homem sendo atacado por um grupo de errantes e, nada podendo fazer para livrá-lo, somente pegam seu carro. No caminho, são surpreendidos pelo reencontro com Michonne. O trio segue sua trajetória sem rumo definido, cuja meta principal é manterem-se a salvo. Posteriormente, ocorre o reencontro com Maggie e Gleen. No entanto, o aparecimento de três pessoas mudaria completamente os planos de sobrevivência de todos: eram Eugene, Abraham e Rosita. Mesmo estando armados, os três não pareciam tão nocivos e, além do mais, diziam-se sabedores das razões pelas quais o mundo estava imerso naquele caos.
O clima desse volume é dominado pela desilusão. A carnificina causada pelo ataque a prisão minou as expectativas individuais e coletivas que o grupo nutria de criarem um oásis de paz, mesmo imersos no terror hostil que a praga zumbi disseminara. O caminhar sem direção de Rick e Carl reflete bastante esse desfoque, uma vez que as pessoas mais importantes pelas quais valia a pena continuar lutando e defendendo agora nada mais eram do que uma cifra a somar no número infinito de mortos famintos e ferozes.
A questão emocional é amplamente abordada. Vemos que Rick chega ao extremo de suas forças, tanto físicas quanto psíquicas. O cara que era tido como sendo o durão do grupo e o líder eficaz chega à exaustão, derrotado pela experiência traumatizante que foi o ataque a prisão e, principalmente pela a perda de sua esposa e filha recém-nascida. Por outro lado, Carl, antes concebido como o garotinho indefeso e inocente, aos poucos vai demonstrando um processo de amadurecimento e independência, à medida que sente a urgência instintiva desse auto-encorajamento, ainda que sinta muita necessidade da presença acalentadora do pai.
Uma nova fase é inaugurada, com o desfecho trágico das façanhas atrozes cometidas pelo Governador. Além do mais, a possível descoberta da causa do terror apocalíptico poderia significar também caminhos para eliminar o mal e iniciar a reconstrução do mundo. Enfim, trata-se de uma temporada de incertezas que leva o resto dos sobreviventes a rever sua caminhada e buscar uma boa dose de resiliência para que possam seguir adiante com a vida. Ou seria mais adequado dizer, ao menos por enquanto, sobrevida...

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Walking Dead, The
Subtítulo:  aqui permanecemos (v.9)
Autoria:     Robert Kirkman / Charlie Adlard
Editora:     HQM Editora
Ano:          2012
Local:        São Paulo
Série:        Mortos-vivos, Os - Volume IX 
Gênero:     Zumbi | Suspense | História em quadrinhos 

Confira um trecho da série televisiva lançada pela AMC: