quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O Mágico de Oz (Lyman Frank Baum)


          Era uma vez uma garotinha que vivia tranquilamente junto a seus tios Emma e Henry em uma fazenda no Kansas (EUA). Subitamente, um poderoso furacão atinge sua residência e ela e seu cachorro de estimação, Totó, veem-se transportados para um mundo mágico onde seres inanimados ganham vida e animais são personificados. É assim que inicia a história de um dos mais famosos contos de todos os tempos, escrito pelo norte-americano Frank Baum, por volta de 1900. Uma série que não se esgota em um único volume, mas que, por seu encantamento, ganhou continuações promovidas pelos fãs, mesmo após a morte do criador.
            As figuras delicadas e o estilo narrativo simples tornam essa obra uma das histórias mais lidas e contadas às crianças de todos os tempos e lugares. Após se ver apartada de seus tios, Dorothy é saudada por alguns anões da terra de Oz, gratas por ela ter destruído a malvada Rainha do Leste, quando a casa a esmagou. Sem entender nada do que aquilo significava, a menina inicia uma busca incansável para que pudesse regressar o mais breve a sua casa. No caminho encontra outros personagens com desejos próprios: um espantalho desajeitado, cujo maior sonho era ter um cérebro; um lenhador de lata, sonhador em um dia ter um coração dentro do peito oco; um leão, que não amedrontava a ninguém e, por isso, desejava ganhar coragem. Talvez um dos pontos mais marcantes de toda a história, é que esses personagens serão fiéis a seus desejos durante toda a história.
            Dorothy faz amizade com aquele trio inusitado e juntos tentam encontrar o caminho que leva à Cidade das Esmeraldas. Dizia-se que lá vivia um mago poderoso chamado Oz, que era tão grande e temível que poderia realizar qualquer desejo que fosse. No trajeto encontram diversos desafios que lhes ensinam o valor e a importância da cooperação mútua para superá-los. Ao chegarem à Cidade das Esmeraldas, são recebidos pelo grande Oz, um de cada vez, de forma que o veem sob formas distintas: uma enorme cabeça (Dorothy), uma linda dama (Espantalho), um monstro terrível (Lenhador de Lata), uma bola de fogo (Leão). Contudo, para que seus desejos se realizassem, havia a condição de que fossem e destruíssem a temida Bruxa do Oeste.
            O grupo parte novamente e, sem querer, Dorothy destrói a Bruxa do Oeste ao jogar-lhe água. Retornando à morada de Oz, descobrem que aquele que era um mágico respeitado naquele reino, não passava de um charlatão que conseguira enganar a todas as pessoas e inclusive a eles. Além disso, quando prometera atender ao pedido de Dorothy ele foge em um balão, desfazendo as esperanças da garota. Entretanto, em Oz havia um encanto lançado em alguns Macacos Alados que vinham três vezes em socorro de quem os invocasse. Restaria a Dorothy e seus amigos serem sábios para finalmente alcançarem seus sonhos.
            O mundo de Oz é cheio de criaturas mágicas com papeis e características definidas: anões, ratos, macacos alados, bruxas, duendes, animais, etc.. Tamanha diversidade aliada ao fato de que a garota lida de forma bastante natural com essas novidades, fazem com que o leitor se questione se Dorothy de fato estaria vivendo aquelas aventuras ou tudo seria fruto da mente sonhadora da menina.
Além da trama cheia de reviravoltas e aventuras, O Mágico de Oz possui alguns aspectos paradoxais interessantes: o Espantalho, que desejava um cérebro, é o que fornece as melhores ideias ao grupo; o Lenhador de Lata, que desejava um coração, é o que mais se emociona nas diversas situações; o Leão, que desejava ter coragem, é o que protege o grupo nas ocasiões de perigo. Isso mostra que esses personagens já possuíam aquilo que buscavam, mas passam a acreditar que alcançaram somente após o mágico de Oz lhes fornecer algum sinal visível. Desta forma, o livro também transmite uma mensagem de autoencorajamento, tornando-o um instrumento útil para quem deseja, ao mesmo tempo que acompanha as aventuras de Dorothy, realizar uma viajem para dentro de si.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:         Mágico de Oz, O
Autoria:       Lyman Frank Baum
Editora:       Hemus
Ano:            1984
Local:          São Paulo
Edição:        1ª
Gênero:       Fábula

 Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2014:


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Pensamentos (Blaise Pascal)



 “O coração tem suas razões que a razão não conhece.
 Sente-se isso em mil coisas. 
É o coração que sente Deus e não a razão.
Eis o que é a fé perfeita: Deus sensível ao nosso coração”  
(p. 144)

            Inventor da calculadora, Blaise Pascal se destacou na história principalmente como matemático, físico e filósofo. Dentre suas obras, Pensamentos (Pensées, no original francês) ocupa um lugar de destaque por conter as linhas mestras que orientavam o raciocínio desse gênio. Além do mais, ela expressa de forma clara e desvelada a crença irrefutável de Pascal nos preceitos da religião cristã. E é essa mesma religião o escopo principal no qual o autor constrói e embasa seus argumentos em defesa do cristianismo.
            Para Pascal, a religião representa uma dimensão crucial da existência do ser humano. Em virtude disso ele vai na direção contrária aos libertinos, os quais negam toda a religião revelada, devendo esta ser demonstrada para ser passível de aceitação, e os céticos, que colocam tudo em dúvida. A fim de garantir a importância da religião na vida humana, Pascal parte de um preceito moralista: o homem é um ser miserável, um nada do ponto de vista do infinito universo, um tudo do ponto de vista do nada, de forma que ele é apenas um meio termo entre o nada e o tudo. No entanto, ele é incapaz de atingir a verdade já que ela é constantemente enganada pela imaginação e outras “potências enganadoras”. Daí surge o argumento da aposta de Pascal: resta ao homem apostar toda a sua esperança na existência de Deus, pois tem tudo a ganhar e, mesmo que ele não exista, nada teria a perder.
            A existência humana conserva uma grande ambiguidade: ela é o campo onde o ser humano pode experimentar pobremente as promessas do paraíso, mas é também onde o homem constantemente se deixa preencher pela vaidade. A busca por satisfação o faz perder-se em prazeres fugazes perante o enorme potencial de ser que traz consigo. No entanto, a dualidade deste ser é o ponto no qual se encontra a grandeza do homem, que o faz reconhecer a sua miséria. Se a razão é importante para conhecer e conciliar os dois extremos (tudo ou nada), por meio de algumas verdades científicas, ela pode conhecer o meio. Nisto ela é ajudada pelo coração, o qual lhe dá as intuições fundamentais sobre as quais ela constrói as suas demonstrações. Não se trata de certezas inabaláveis e sim convicções mais concretas e verdadeiras. Além do mais, a razão em si é insuficiente para permitir a fé em Deus. Esta é alcançada somente se originar por um sentimento do coração. Sendo assim, permitir a fé pela razão nada mais é do que conduzir o homem a tomar consciência de sua contradição e da impotência das filosofias, uma vez que elas afirmam e negam de tudo, e admitir que somente a religião pode fornecer as respostas satisfatórias a todos os anseios. Consequentemente, ter fé não consiste em compreender racionalmente todos os mistérios e por isso manifestar a crença neles. Antes, a fé é uma atitude de humildade, de impotência frente à complexa trama do existir, que faz com que o homem se curve reverente perante o criador.
            A obra Pensamentos não possui uma sequência didaticamente organizada. Trata-se de reflexões que foram escritas por Pascal à medida que lhe surgiam no espírito. Desta forma, os assuntos se entrelaçam sem uma sequência sistemática. Mesmo assim, é possível captar facilmente no desenvolvimento da obra a estrita defesa que Pascal faz da religião cristã, colocando-a como uma marca orientadora para que o ser humano se encontre com sua própria verdade.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:        Pensamentos
Autoria:      Blaise Pascal
Editora:      Folha de São Paulo
Ano:           2010
Local:         São Paulo
Edição:      
Série:         Coleção Folha: livro que mudaram o mundo - Vol. XV
Gênero:      Filosofia

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

V de Vingança (Allan Moore / David Lloyd)

"Remember, remember, the 5th of November..."
[Lembrai, lembrai o 5 de novembro...]

            V de Vingança é a reunião de uma série de graphic novels lançadas em 1982/83, cuja história passa no futuro ano de 1997. O foco da narrativa justifica o porquê diversos manifestantes pelo mundo inteiro usam a famosa máscara preta e branca com um largo sorriso. Uma verdadeira incógnita da anarquia e revolução.
            A Inglaterra era um país dominado por um regime totalitário, exercido pelos Homens-dedo, que controlavam a vida da população impondo censura à imprensa, toques de recolher e sistemas de vigilância, bem como perseguindo negros, homossexuais e seguidores de ideologias diversas daquela dominante. Nessa sociedade distópica e coagida, vivia uma garota de nome Evey Hammond que, certa vez, ao sair de casa para um passeio, é abordada pelos homens-dedo que a ameaçam de estupro. Contudo, surge a figura misteriosa de um homem de capa preta e máscara no rosto, que mata os agentes e salva a garota levando-a para seu esconderijo secreto na “Galeria das Sombras”. Sob o codinome de V, aquela figura era a encarnação de um ideal anarquista, completamente alheio à vontade do governo, atacando sua ideologia com atos fantásticos de rebeldia.
            A primeira grande manifestação de V acontece na mesma noite em que encontra Evey. Ambos assistem à explosão do Old Baley, o Tribunal Criminal de Londres, enquanto V interpreta o papel de um maestro, a se divertir com aquela situação. No dia seguinte, o mesmo V invadiria uma emissora de televisão – que por sinal, era onde Evey trabalhava - com o corpo coberto de dinamites. Por meio de uma transmissão ao vivo, convoca toda a população para o 5 de novembro do ano seguinte, que seria o marco da revolução prestes a acontecer. Em sua cola, já estavam os inspetores Dascombe e Gordon, mas V consegue fugir graças à intervenção de Evey. O objetivo final do mascarado era a destruição do parlamento inglês, local simbólico da emanação de todo o regime fascista que roubava a liberdade, acobertada sob o lema “Inglaterra triunfa!”.
            O passado de V e os motivos que o levam a se tornar um justiceiro são pouco a pouco revelados à medida que a trama acontece, embora não de modo claro. Provavelmente, ele fora vítima do sistema totalitário e havia sido usado em testes de uma nova substância química, promovidos às escondidas e que causara a perda de diversas vidas de inocentes. Isso justifica porque o mascarado promove sua vingança também em pessoas específicas. A primeira vítima é Lewis Prothero, locutor do programa de rádio “A Voz do Destino”. Ele havia sido comandante nos campos de concentração de Larkhill em 1993. Curiosamente, quando estava prestes a morrer, recorda-se do misterioso paciente da Sala V, único sobrevivente daquela série de testes laboratoriais. Posteriormente, o Padre Tony Lilliman é envenenado com uma hóstia. Enfim, a Dra. Delia Surridge é morta de modo indolor também por envenenamento. Em todos os casos, os inspetores encontraram uma rosa Violet Carson e o sinal V nos locais dos crimes, traços característicos de seu autor. Mas no terceiro caso, o diário da doutora fora peça fundamental para o entendimento da possível motivação dos homicídios.
            Embora famosa por seus autores a terem incorporado à trama de V de Vingança, a máscara usada pelo anarquista não é uma criação original. A ideia é inspirada no rosto do inglês Guy Fawkes, famoso durante a Conspiração da Pólvora em 1605. Nesse ponto, as duas histórias se cruzam, já que Fawkes planejava invadir o parlamento inglês e explodi-lo, de forma a promover um levante social revolucionário. Essa inspiração ilustra a mensagem principal que V desejava com os incidentes que promovia. As ideias têm poderes inimagináveis quando levadas a sério e o objetivo de tamanho horror era provar à população que o governo é quem deve temer seu povo e não o contrário. Longe de disseminar as tendências revolucionárias, esse livro visa despertar a todos desse sono que as ideologias, a corrupção e a má gerência da máquina pública provocam, fazendo como que o povo deixe de ser o principal destinatário do bem-estar que espera.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:         V de Vingança
Autoria:       Allan Moore / David Lloyd
Editora:       Panini Books
Ano:             2012
Local:           São Paulo
Edição:         1ª
Gênero:       História em quadrinhos | Conspiração

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2006: