sábado, 28 de dezembro de 2013

Tempo de Transcendência (Leonardo Boff)


            A dinâmica acelerada dos tempos modernos induz o ser humano a certa acomodação, no sentido de se adaptar à rede de fazeres que constituem seu viver e não mais conseguir rompê-la. Consequentemente, a ditadura do "fazer" oculta sua necessidade intrínseca em "ser" e, principalmente, uma condição fundamental que molda sua natureza: a transcendência.
            Essencialmente, o ser humano é um ser de protest-ação, ou seja, jamais está plenamente satisfeito porque se sente sempre maior. Ele também é um ser de ex-istência, ou seja, molda-se sempre para fora, conforme sua liberdade. Em virtude disso, existencialmente o ser humano nunca é um projeto acabado, mas está sempre em construção, em uma perfeita antropogênese. Ele é um ser que vive uma imanência, uma vez que a condição de ter nascido no seio de uma família com cultura específica o faz possuir um enraizamento, ao mesmo tempo em que é um ser transcendente, ou seja, seus desejos, pensamentos e emoções o movem a ir sempre mais além, tornando-o um ser de abertura. Essa transcendência o faz exercer uma de suas mais belas virtudes: a capacidade de romper limites e superar obstáculos.
            Embora o fato de ser uma característica intrínseca e comum a qualquer ser humano, Leonardo Boff destaca algumas situações privilegiadas de completa transcendência: o enamoramento que move ao encontro com o outro; a cultura popular com suas manifestações artísticas; o compartilhamento de experiências no encontro com as pessoas, etc.. Enfim, nossa condição transcendental renuncia em nós ao mecanismo de conformismo do fazer. Somos projetos inacabados e, portanto, infinitos. A necessidade de projetar-se para além de si mesmo é tão importante para nossa existência quanto o ar é para nossas vidas.
            Na contrapartida da transcendência existe a pseudotranscedência. Isso é um mecanismo doentio que faz com que o ser humano se iluda com aquilo que não o enobrece. Os apelos do marketing atual, representado não só através do consumismo e materialismo que a sociedade capitalista prega, mas também pelo marketing religioso cada vez mais negociado com os anseios por respostas das pessoas. Obviamente, o autor assinala que as religiões cumprem um papel importante por se constituírem em um espaço privilegiado em que as pessoas podem buscar a transcendência. Todavia, quando tal dimensão se afasta do verdadeiro sentido do sagrado, cria uma multidão de pessoas enfermas.
            Para Leonardo Boff, o cristianismo possui uma singularidade: contribui de forma significativa para que as pessoas tomem consciência de sua transcendentalidade. Desta forma, a mensagem cristã deve ensinar cada um a "descer ao próprio inferno", ou seja, mergulhar dentro de si mesmo, naquele espaço em que somos completamente sós, mas cujo Deus se faz companhia. A partir desse mergulho, brotará a diafania, ou seja, a emersão de Deus para o mundo. Finalmente, resta conjugar a beleza dessa descoberta para a formação de uma ecologia da cooperação, em que todos os seres aprendem a amar, respeitar e cuidar de nosso habitat comum, não como um meio-ambiente e sim como um ambiente inteiro.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Tempo de Transcendência
Autoria:     Leonardo Boff
Editora:     Sextante
Ano:          2000
Local:        Rio de Janeiro
Edição:     
Gênero:     Espiritualidade

sábado, 14 de dezembro de 2013

Eu acredito! Atlético Campeão da Libertadores 2013 (Rádio Itatiaia - org.)


            Em 2013 o futebol sul-americano viu surgir um fato até então considerado improvável por muitos: a conquista da Copa Libertadores da América pelo Clube Atlético Mineiro. O título redentor veio após um longo jejum de 42 anos sem a conquista de um título de expressão, marcados por partidas heroicas, mas também sofridas e injustas. A garra dos jogadores, alguns deles desacreditados pelo futebol nacional, novamente fez explodir o grito de um time campeão.
            Essa obra consiste em um audiolivro composto pela equipe esportiva da Rádio Itatiaia de Minas Gerais, que permite aos torcedores um registro histórico dos momentos mais marcantes da conquista da maior competição sul-americana. Um feito inédito e há muito aguardado por toda a massa atleticana.
            O livro traz a ficha-técnica de todos os jogos, placares, público, renda e outras informações. Traz ainda imagens marcantes de duelos heroicos que ficarão marcados na memória de todo torcedor como momentos gloriosos.
            O CD que acompanha a obra é uma atração à parte. Por ele é possível reviver os momentos vibrantes da caminhada rumo ao título, narrados pelo locutor futebolista Mário Henrique (popularmente conhecido como "Caixa"). Destaque especial para a incrível defesa do pênalti pelo goleiro Víctor na partida de volta das quartas de finais contra o Tijuana do México. Méritos também para o último pênalti cobrado pelo Olímpia do Paraguai, na partida final. Partida essa cuja narração é apresentada na íntegra até os momentos finais que fizeram explodir o grito de "É campeão!".
            A conquista da América trouxe consigo uma responsabilidade ainda maior: conquista o mundo no Mundial de Clubes do Marrocos. Contudo, o júbilo deste título trouxe o orgulho de uma superação que parecia nunca vir para os fanáticos torcedores. Diversas barreiras vencidas: os raçudos times sul-americanos; uma consagrada equipe brasileira tida como favorita; a altitude dos jogos nas montanhas; a descrença de milhares que jamais chegaram a compreender o significado da palavra "glória".
            A obra ressalta ainda outro grande trunfo do CAM: o apoio incondicional de sua torcida em todos os momentos e, especialmente nos jogos realizados no Estádio Independência, em Belo Horizonte. Uma campanha arrebatadora que rendeu à equipe, pelo menos três grandes méritos: 1º) a melhor campanha da 1ª fase da competição; 2º) invencibilidade total nos jogos em casa; 3º) o recorde de maior renda do futebol nacional, na partida final, no recém-inaugurado Estádio Mineirão. Sob o grito insistente de "Eu acredito!" a massa atleticana empurrou o Atlético rumo à maior conquista de sua história, até então. A porta de entrada para o futuro glorioso de um time imortal, pelos gramados do mundo pra vencer...


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Eu acredito!
Subtítulo:  Atlético: Campeão da Libertadores 2013
Autoria:     Rádio Itatiaia (org.)
Editora:     Panda Books
Ano:          2013
Local:        São Paulo
Edição:     
Gênero:     Esporte | Futebol | Audiobook

 Confira a retrospectiva da campanha do Clube Atlético Mineiro na Libertadores 2013:

 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken (Jostein Gaarder / Klaus Hagerup)



      "Embora existam apenas vinte e seis letras diferentes,
elas podem encher bibliotecas inteiras..."
(p. 141)
             
              Em mais uma obra de Jostein Gaarder voltada para o público infanto-juvenil, temos uma história enigmática envolvendo o gosto pela leitura. 
            Nils Boyum Torgersen e Berit Boyum são dois primos adolescentes que haviam retornado das férias de verão, em Fjærland (Noruega) e haviam tido uma ideia genial a fim de manterem contato: escreveriam um livro de cartas e o remeteriam um ao outro. No entanto, a concretização dessa ideia já se mostrava misteriosa desde o início, quando uma mulher ajudara Nils a comprar o caderno em que seriam escritas as cartas. Intrigados com a atitude da mulher, os dois resolvem conhecer às escondidas um pouco mais sobre sua vida e Berit descobre que ela se chamava Bibbi Bokken e seria a dona de uma certa “biblioteca mágica”. O que mais surpreendia nisso, era o fato de a biblioteca ser mencionada como possuindo não somente livros raros, impressos antes de 1500 e da invenção da topografia, os chamados incunábulos, como também livros que ainda não tinham sido escritos. Além do mais, Nils e Berit suspeitavam que Bibbi Bokken estava os espionando, por medo de que descobrissem algum segredo seu. A partir de então, os primos retratam diversas suspeitas fantasiosas sobre a suposta bibliófila (colecionadora de livros). As hipóteses vão desde a desconfiança de que ela era uma assassina profissional até uma contrabandista que usava os livros para acobertar o verdadeiro produto de seu crime. 
          De sua cidade, cada um dos adolescentes busca interpretar as pistas misteriosas do grande segredo de Bibbi Bokken. A mulher vivia recebendo encomendas pelo correio, que supostamente seriam mais livros para a biblioteca. Mas, para onde iriam tantos livros se uma invasão à casa dela revelara que o espaço era insuficiente e, mais intrigante ainda, não havia sequer um livro deixado em algum canto? Além do mais, duas outras figuras estariam envolvidas no caso: o escritor italiano Mario Bresani e Smiley, um comprador de livros suspeito por sempre estar no mira das duas crianças. O que justificava tanto mistério, a ponto de Berit e Nils sentirem-se ameaçados com a atitude da bibliófila? 
           Os autores dividem sua obra em duas partes: 1ª) o livro de cartas; 2ª) a narrativa do encontro da biblioteca. O que torna o livro ainda mais interessante é sua estrutura narrativa organizada exatamente como sendo o livro de cartas dos dois primos. Ao final, fica a surpresa para o leitor que se vê imerso no universo de uma obra que o englobou desde o início como mais um protagonista da história. 

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Biblioteca Mágica de Bibbi Boken, A
Autoria:     Jostein Gaarder
Editora:     Companhia das Letras
Ano:          2003
Local:        São Paulo
Edição:     
Gênero:     Romance | Livros