terça-feira, 26 de abril de 2016

As Aventuras de Tom Bombadil (J. R. R. Tolkien)



"A poesia é aquilo que se perde na tradução"
(Robert Frost)

            Alguns dos elementos que tornam O Senhor dos Aneis uma obra tão atraente para conquistar milhares de fãs, são os cânticos e poemas insertos em momentos importantes da trajetória de seus personagens. Tal característica adorna o episódio narrado, já que transmite ritmicamente os sentimentos experimentados pelo personagem. Talvez a ausência desses textos ou sua transcrição em pura prosa, empobrecesse a saga de Frodo e companhia na destruição do Um Anel.
            Na criação linguística de seu mundo, Tolkien inspirou-se em formatos celtas, anglo-saxões e de Old English, com uma eventual incursão em modelos do antigo dinamarquês, islandês e Old Norse. Embora o título dessa obra faça alusão ao personagem que surge na primeira parte da trilogia – A Sociedade do Anel – os poemas extendem-se a outros indivíduos da Terra-média, protagonistas ou coadjuvantes. A obra reúne uma coletânea de lendas e anedotas do Condado, datadas no final da Terceira Era, com poesias cuja autoria é atribuída aos hobbits, a Bilbo, a Sam Gangi e aos Elfos. Além das aventuras de Tom Bombadil, os textos também fazem referência a Fruta d´Ouro, aos Ents, aos Olifantes e várias outras criaturas da principal obra de Tolkien.
            Por mais literal que seja, a tradução de um texto para outra língua faz com que elementos importantes se percam durante o processo. Em um texto em prosa, o conserto desses pequenos deslizes pode ser facilmente providenciado mediante o emprego de sinônimos que o vocabulário de destino possua ou mesmo por pequenos ajustes no ordenamento das ideias, de forma que transmitam a essência do pensamento original. A mesma técnica não obtém tamanho sucesso quando se trata de um poema, uma vez que a rima e a métrica poderiam ser comprometidas, deixando nada mais, nada menos do que uma falsificação quase perfeita.
            Preocupada em trazer aos leitores de língua portuguesa as maravilhas dessa obra de Tolkien, sem, no entanto, deturpar seu sentido original no processo de tradução, a presente edição traz dois antídotos. No primeiro, a tradução de William Lagos, um poeta renomado que se preocupou em traduzir a obra em versos brancos (sem rimas), mas conservando a métrica irregular original. No segundo, a tradução de Ronald Kymrse, especialista na obra de Tolkien, cujo trabalho seguiu os parâmetros de uma tradução técnica, observando a rima e a métrica de Tolkien. Se ainda assim restar a sensação de que falta aquele toque de originalidade, o leitor conhecedor da língua inglesa poderá se deliciar com a transcrição do texto original em inglês, conforme redigido pelo próprio autor, na terceira parte desse livro.
            Os poemas de As Aventuras de Tom Bombadil não são os mesmos encontrados em O Senhor dos Aneis. Eles também não acrescentam novas informações a um leitor ávido por detalhes. Entretanto, são uma leitura aprazível e cantada, caso confrontada com o estilo ricamente descritivo, extenso e sequencial da obra-prima de Tolkien. Digamos que o leitor se tornará mais conhecedor sobre o próprio Tolkien e provavelmente fortalecerá sua opinião formada de que ele fora um escritor ímpar da literatura fantástica, tão imortal quanto seus próprios personagens.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:   Aventuras de Tom Bombadil, As
Autoria: J. R. R. Tolkien
Editora: Martins Fontes
Ano:      2008
Local:    São Paulo
Gênero: Poesia | Fantasia

sexta-feira, 15 de abril de 2016

A Guerra dos Tronos: graphic novel (v.2) (Daniel Abraham / George R. R. Martin / Bruno Dorigatti)



            Esse é o segundo volume do romance gráfico que ilustra a história contada no livro A Guerra dos Tronos, primeiro volume da série Crônicas de Gelo e Fogo. Com todas as peculiaridades que uma história em quadrinhos conserva, os criadores conseguem ser coerentes com o enredo original fazendo com que essa mídia seja tão envolvente quanto o calhamaço escrito por George R. R. Martin. Críticas à parte, essa é uma excelente opção para quem deseja um panorama geral dessa série que já é um clássico consagrado da literatura contemporânea.
O volume reúne seis capítulos. Talvez o maior enfoque seja o torneio organizado em Porto Real, a fim de comemorar a nomeação de Eddard Stark como novo Mão do Rei, a função mais importante no mundo de Westeros depois daquela exercida pelo próprio rei. Contudo, os mistérios em torno da morte do Mão anterior, Jon Arryn, levantavam fortes suspeitas de uma conspiração para que ele fosse assassinado, objetivando interesses escusos. Além disso, alguém cometera um atentado à vida do filho de Eddard, Bran Stark, em que a vida do garoto fora poupada, mas ele ficou com as pernas paralisadas. Os campeões do torneio conseguiriam o intento de desviar a atenção do público pela diversão, enquanto uma gama de traições era planejada nos bastidores.
Em outro plano, a esposa de Eddard, Catelyn Tully, durante uma viagem, aprisionara o principal suspeito de assassinar Jon Arryn: Tyrion Lannister, conhecido como duende, devido a seu porte anão e sua perspicácia. Catelyn levaria o anão até a esposa de Jon Arryn a fim de que ela mesma fizesse o julgamento e lhe desse a sentença mais conveniente.
            O Rei Robert Baratheon adorava atividades de caça a javalis. No entanto, essa atividade é a circunstância em que ele é ferido mortalmente, deixando o trono vago. Antes de morrer, ele nomeia Eddard Stark como novo rei, até que seu filho Joffrey atingisse a maturidade necessária para governar os Sete Reinos. Porém, nessas circunstâncias a esposa do rei, Cersei Lannister acusa Eddard de forjar a morte de Robert e falsificar o testamento, a fim de elevar sua família ao poderoso trono de ferro. O volume encerra com a imagem trágica de Eddard ferido na perna, quando é preso pelos guardas de Porto Real. Estavam lançados os eventos de desequilíbrio entre as casas de Westeros, fecundando uma guerra sem precedentes entre o Norte e o Sul.
            Paralelamente, também é contada a história de Daenerys e Khal Drogo. Ela estava grávida e, devido a suas origens e ao brasão de sua casa (um dragão), era esperado o nascimento do “garanhão que monta o mundo”, aquele que finalmente recuperaria o trono e governaria os Sete Reinos. Também são retratadas as vivências do filho bastardo de Eddard, Jon Snow, em sua vida na Muralha junto à ordem juramentada dos Patrulheiros da Noite.
            Assim como no primeiro volume, esse também conta com um apêndice sobre a construção da graphic novel. Dessa vez é mostrado um making of da cena do Torneio, que retrata bem o passo a passo da idealização e construção do episódio. É apenas uma demonstração de como foi feita uma pequena parte de um todo maior, visando destacar as minúcias e detalhes do trabalho dos artistas. Uma prévia das imagens do primeiro capítulo do Volume 3, servem como um pequeno aperitivo àqueles que vem se divertindo com a saga.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Guerra dos Tronos 2, A
Subtítulo: graphic novel
Autoria:    Daniel Abraham / George R. R. Martin /  Bruno Dorigatti
Editora:    Casa da Palavra
Ano:         2013
Local:       Rio de Janeiro
Série:       Guerra dos Tronos HQ - Volume II
Gênero:    Aventura | Ficção fantástica | História em Quadrinhos

Confira o trailer da série lançada pela HBO em 2011:

 

terça-feira, 5 de abril de 2016

Bruxos e Bruxas (James Patterson / Gabrielle Charbonnet)



            James Patterson é mundialmente famoso por seus livros de suspense. Nessa obra, ele se une a Gabrielle Charbonnet para iniciar uma série voltada para o público adolescente, que logo logo figurou entre as listas dos mais vendidos nos Estados Unidos e outros países.
            Com num súbito pesadelo, certa noite a casa da família Algood é invadida por um pelotão de guardas que aprisionam os irmãos adolescentes Whitford (Whit) e Wisteria (Wisty). Os jovens são levados a uma espécie hospital psiquiátrico onde são confinados em uma cela sem qualquer motivo. A única justificativa era que aqueles dois eram bruxos perigosíssimos e procurados pela Nova Ordem (N.O.). A Nova Ordem era uma espécie de novo governo que instituiria um futuro que substitui as liberdades corruptas e ilusórias das chamadas democracias por uma disciplina muito maior. Nesse governo, livros, internet, músicas, arte e beleza eram considerados condenáveis e qualquer adolescente menor de 18 anos era potencialmente suspeito de conspiração. O mundo já não era mais o mesmo e, além de aprenderem a lidar com os poderes mágicos intrigantes que os irmãos repentinamente adquiriram, a principal questão era saber o que fora feito de seus pais.
            O governante supremo da N.O. era O Único que É O Único e Ezequiel Raiwa era o juiz que julgava pessoas e, principalmente, crianças. Um dos colegas de escola detestáveis dos irmãos, Biron Swain, servia àquela facção sob o cargo de Informante Júnior. Auxiliados pela namorada de Whit, Célia, que morreu e se transformara em uma Meia-luz (um tipo de fantasma que podia se comunicar com os vivos), Whit e Wisty conseguem fugir do Hospital Psiquiátrico para a Terra das Sombras. A partir de então eles entendem que podiam transitar pelas diversas dimensões e que o limite entre o mundo e o submundo já não era tão misterioso quanto antes. Bastava ser um Curvo para conseguir passar pelo tecido que separava as dimensões. Junto com eles alguns amigos também passaram e noticiaram-lhes a respeito de determinada profecia, a qual previa que eles um dia irão reinar, além de outros dizeres mais. Contudo, a maior preocupação ainda era descobrir o que tinha acontecido com seus pais. Whit e Wisty teriam de aprender a lidarem com seus poderes para salvar outras centenas de crianças mantidas sob o jugo da Nova Ordem e finalmente irem ao encontro de toda a verdade sobre a família Algood.
            Essa obra possui uma trama inteiramente fantasiosa, aproximando-a de outros títulos e personagens famosos do mesmo gênero que, ironicamente, são parodiados pelos autores: "O Ladrão de Trovões" (Percy Jackson); "A Invenção de Bruno Genet" (Hugo Cabret); "Harry Podre e a Ordem dos Idiotas" (Harry Potter); "Saga Aurora" (Saga Crepúsculo). Não é a toa que o sucesso de público ocorre entre os leitores juvenis. Os capítulos curtos em primeira pessoa (ora Whit, ora Wisty narram suas aventuras) torna a leitura bastante fluente e rápida. Por outro lado, esse primeiro volume não deixa pistas suficientes para que o leitor tenha uma resposta sobre como começou o império da Nova Ordem ou o que fez com que jovens comuns de repente adquirissem poderes mágicos. Contudo, estabelecer um comparativo entre essa série que se inicia com esse livro e as outras séries mundialmente consagradas, deixará claro uma diferença enorme entre elas e características peculiares que orientaram a preferência por uma ou outra. Os fãs dos livros de James Patterson que estão acostumados a tramas com tons de suspense mais sérios talvez se decepcionem ao verem seu autor escrevendo de forma tão fantasiosa. Ou mesmo descubram outra face de um autor que indiscutivelmente está no topo do ranking de best-sellers mundiais.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:   Bruxos e Bruxas
Autoria: James Patterson / Gabrielle Charbonnet
Editora: Novo Conceito
Ano:      2013
Local:    Ribeirão Preto
Série:    Bruxos e Bruxas - Livro I
Gênero: Infanto-juvenil | Aventura | Fantasia