quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O Último Patriota (Brad Thor)

            Esse livro dá continuidade à saga do personagem retratado no livro anterior: O Primeiro Mandamento. Agora Scot Harvath é um ex-agente do serviço secreto dos Estados Unidos e namorado de Tracy Hastings, técnico em desarmamento de explosivos e ex-agente da Marinha. Numa manhã em que estavam em Paris, a explosão de um carro-bomba forçou Scot a retomar sua antiga vida de espionagem e contra-terrorismo. Desta vez, o assunto em jogo era a religião islamita, já que a investigação que lhe fora incumbida poderia transformar de vez o islamismo em uma religião totalmente diferente daquela contemporaneamente difundida.
            Harvath havia livrado o professor Anthony Nichols de morrer no atentado. Nichols trabalhava na Universidade da Virgínia e fora convocado pelo presidente dos Estados Unidos, Jack Ruthledge, para ir em busca das pesquisas e descobertas feita por um ex-presidente do mesmo país: Thomas Jefferson. Especialista na vida do ex-presidente, Nichols estava à procura de um antigo exemplar da obra mundialmente famosa Dom Quixote, usada por Jefferson. Tal obra conteria escritos significativos, os quais poderiam dar nova interpretação aos ensinamentos do Alcorão, contradizendo incisivamente os conceitos fundamentalistas que apregoam o fanatismo extremista dos muçulmanos. Nesse contexto, não só a CIA é envolvida, como também outras organizações norte-americanas que se autoproclamam ativistas no movimento de por fim ao preconceito do islã nos EUA mas que, na verdade, visam impor seus preceitos doutrinários entre os norte-americanos.
            A simples hipótese de ver difundida uma nova ideia dos ensinamentos islâmicos é suficiente para que os militantes da religião busquem a queima de arquivo do professor. Uma figura perigosa seria uma peça importante para que o extremismo alcançasse sua meta: Matthew Dodd. Também ex-agente da CIA, Dodd havia forjado a própria morte e desaparecido depois de se converter ao islamismo. Dado como morto pela agência de inteligência norte-americana, ele agora reapareceria para defender ao extremo as raízes de sua crença. Fora responsável pelo atentado em Paris.
            Não seria absurdo dizer que esse livro representa para o islã aquilo que O Código da Vinci (Dan Brown) representou para o catolicismo: a desconstrução do pilar de uma doutrina milenarmente difundida. Não obstante, essa obra não obteve tamanho sucesso e difusão quanto aquela, mas foi digna de receber o título de melhor suspense do ano pela International Thriller Association. O Oriente Médio também não a viu com bons olhos, ao passo que alguns críticos consideraram que a vida de Brad Thor poderia estar ameaçada, uma vez que grandes líderes muçulmanos a consideraram islamofóbica e demonizadora do islã e do povo muçulmano. Por outro lado, talvez ela traga os holofotes para o lado pacifista do Islã, cujos adeptos compreendem a essência dos ensinamentos do profeta e são capazes de viverem tolerantemente sua religião, sem a necessidade de levar ao extremo do terror as suas práticas.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:   Último Patriota, O
Autoria: Brad Thor
Editora: Sextante
Ano:      2010
Local:    Rio de Janeiro
Gênero: Suspense | Islamismo

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Os Mortos-vivos: cercados pelos vivos (v. 12) (Robert Kirkman)

            Exaustos pela longa jornada na estrada rumo a Washington e mais ainda pelo desgaste psicológico ocasionado pelas inúmeras tragédias vivenciadas, o grupo apoiava-se na esperança de que um fim para aquela dura travessia ainda fosse possível e que seus esforços alcançassem o resultado esperado com a revelação de Eugene. Após Carl ter confessado porque matou Ben, o diálogo entre pai e filho revela o limiar da insanidade naquela nova sociedade apocalíptica: quando as pessoas perdem a noção de que as mortes que causam é uma prática ruim, mesmo sabendo agirem em legítima defesa na maioria dos casos. O grupo parecia ser pouco a pouco tomado por certo delírio, fazendo com que se confundam em relação aos valores que aprenderam a preservar. A certeza de que para protegerem aos que amavam era necessário o sacrifício daqueles que se tornavam ameaça era uma verdade dura de aceitar.
Quando um novo teste no rádio ia ser feito para averiguar se recebia algum sinal, a farsa de Eugene é revelada: ele não era nenhum cientista a serviço do governo e a história sobre Washington era apenas um álibi inventado por sua inteligência para manter-se vivo, já que assim teria a proteção necessária, incapaz de consegui-la por suas próprias forças. Nesse contexto, embora a revolta inflame Rick e Abraham no primeiro momento, o escopo da ida a Washington torna-se agora a busca por comida. Enquanto Rick e Abraham debatem as novas estratégias, um novo personagem surge. A nova figura é Aaron, que afirmar provir de um grupo de cerca de 40 pessoas, onde há alimento, segurança e abrigo. Mesmo ainda apavorados pelos acontecimentos que a população de Woodbury e o Governador ocasionaram, bem como o susto provocado pelos canibais, todos decidem seguir junto com ele rumo à misteriosa comunidade. No caminho encontram seu amigo, Alex, que afirma estar ali unicamente por que agiam em duplas na procura de novos integrantes. Tudo parece providencial demais...
No caminho o grupo salva dois amigos de Aaron que estavam em apuros. Depois seguem rumo à cidade misteriosa. É recebido amistosamente por Douglas Monroe, uma espécie de líder da comunidade, que lhes atribui tarefas de acordo com suas habilidades, revelando que a cooperação era a chave de sobrevivência naquela comunidade. O local parece um verdadeiro oásis em meio ao caos que o mundo se tornara. Por outro lado, aquela sociedade parecia muito bem organizada, a ponto de gerar certa desconfiança. Acostumados a serem enganados por grupos que pareciam coesos demais, mas que se revelaram como verdadeiras quadrilhas de carnificina, Rick e seus companheiros decidem passar a noite juntos, atentos a cada movimento dos pacíficos moradores.
Embora naquele mundo arruinado a confiança fosse algo sempre mais difícil de oferecer, os novos habitantes da comunidade encontram ali alívio para suas tormentas. Ainda que sitiados por muros, pela primeira vez podem exercer atividades que tinham antes do pandemônio e levar uma vida, diga-se de passagem, “normal”. Todos alimentavam grandes esperanças de finalmente poderem iniciar dali a reconstrução de uma sociedade repentinamente aniquilada. A sociedade daquele lugar era diferente do povo de Woodbury uma vez que não vivia amedrontada pelo jugo de um líder ditador e sim pela abertura de um líder disposto ao diálogo quando fosse necessário dirimir controvérsias. Mesmo assim, a cautela provinda de suas experiências mais catastróficas dizia a Rick que nada poderia ser aquilo que parecia, de forma que a precaução nunca era dispensável.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Mortos-vivos, Os
Subtítulo: cercados pelos vivos (v.12)
Autoria:    Robert Kirkman / Charlie Adlard
Editora:    HQM Editora
Ano:         2013
Local:       São Paulo
Série:       Mortos-vivos, Os - Volume XII
Gênero:    Zumbi | Suspense | História em quadrinhos

Confira um trecho da série lançada pela AMC:

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

O Imperador: os portões de Roma (Conn Iggulden)

            Fazendo um paralelo, podemos comparar a série O Imperador a outras séries de sucesso como Ramsés (Christian Jacq) e Crônicas Saxônicas (Bernard Cornwell). Assim como as outras, Conn Iggulden busca reconstruir um período emblemático, nesse caso, o romano, de uma forma romanceada, tentando explicitar o sucesso do império através da narrativa das vidas de seus personagens desde a infância. Nesse sentido, o livro se torna um material lúdico de aprendizagem e informação sobre esse importante recorte histórico.
            O objetivo da série iniciada com essa obra é contar a história da ascensão do imperador mais famoso de todos os tempos: Júlio César. Portanto, o autor foca na estória de dois garotos, Caio Júlio César e Marcus Brutus, que viviam em uma das muitas áreas rurais do que viria a ser o território romano. Caio era filho do poderoso senador Júlio César, figura atuante na vida política de Roma, fato pelo qual muito se esperava também de seu filho. Marco era filho bastardo, cuja esperteza e sagacidade se destacavam como suas principais características. Nutria grande amor pela família e principalmente por seu irmão, com quem firmara uma amizade selada a sangue.
            A primeira visão vislumbrante que os garotos tiveram da poderosa Roma foi quando foram levados para assistir a um duelo de gladiadores. Aquele espetáculo atroz significara muito mais do que uma luta de valentia e sobrevivência, mas suscitara neles os ideais de tornarem-se grandes cidadãos dispostos a se sacrificarem pelo império. O autor enfatiza também as várias belezas arquitetônicas e de engenharia, bem como o lado podre da Roma Antiga, com seus mendigos, sujeira, mercadores ávidos por riqueza e assaltantes perigosos espalhados em suas esquinas, fruto de uma cidadania nefasta. Nessa viagem os garotos também conheceriam um gladiador que, mais tarde, teria papel crucial em seu treinamento como combatentes: Rênio.
            Como parte essencial do contexto, há a abordagem do tio de Caio, Mário, um importante cônsul romano. Filho amado de Roma, ele seria uma figura importante para que os garotos ascendessem em suas vidas e também se tornassem os importantes personagens que viriam a ser. Ambicioso e excelente estrategista, suas pretensões entrariam em conflito com outro cônsul romano, Sila. O embate conduziria a uma das mais sangrentas guerras do período romano.
            A convivência dos garotos, à medida que cresciam, os conduziria a fazerem escolhas decisivas. O sucesso do império fora construído sobre os pilares de conquistas bárbaras e jogadas políticas decisivas. Não obstante, a inveja e o ódio de outros povos e civilizações desafiariam constantemente o poderio político e militar daquela que se destacava entre as mais altas colinas. Tais fatos repercutiriam diretamente naquela amizade, fazendo com que o tempo os obrigasse a tomarem novos rumos em suas vidas.
                        O sucesso da série que esse livro inicia foi impulsionado também por outro evento: o lançamento do filme Gladiador em 2000. A proposta do autor em contar a história romana a partir da infância de seus mais importantes personagens torna esse livro um convite a imergir na cultura daquela época. A narrativa é recheada de descrições sobre os costumes, os lugares, as estratégias militares, as tramas políticas sem aquele peso arrastado que muitas das vezes os livros de história impõem sobre seus leitores. É certo que, por ser uma estória, não traduz fielmente a história. Contudo, a expectativa de conhecimento que ele suscita no leitor não decepciona.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Imperador, O
Subtítulo: os portões de Roma
Autoria:    Conn Iggulden
Editora:    Record
Ano:         2014
Local:       Rio de Janeiro
Edição:     15ª
Série:       Imperador, O - Vol. I
Gênero:    História | Épico