sábado, 6 de janeiro de 2018

As Aventuras de Sherlock Holmes (Arthur Conan Doyle)



            Na ficção policial, não há quem não conheça os célebres personagens referência do gênero, que são Sherlock Holmes (criação de Arthur Conan Doyle) e o detetive Hercule Poirot (criação de Agatha Christie). Muito mais do que sua fama, o que mais intriga nessas duas figuras é sua perspicácia e astúcia no desvendamento de crimes complexos e repletos de mistérios. Difícil dizer qual dos dois seria o mais ágil na solução de um caso, mas certo é dizer que ambos gozam de um prestígio grato de seus coadjuvantes.
            Esta edição em inglês, na verdade é uma adaptação condensada de três contos de Arthur Conan Doyle sobre o intrigante Sherlock Holmes: 1º) A Liga dos Cabeças-Vermelha (The Red-Headed League); 2º) A Aventura da Faixa Listrada (The Adventure of the Speckled Band); 3º) A Aventura da Faia de Cobre (The Adventure of the Copper Beecher). Juntamente com seu assistente Watson, Sherlock se arriscaria por perigosas veredas à procura de pistas enigmáticas.
            Na primeira aventura, Sherlock é procurado pelo aflito Jabez Wilson. Jabez era um agiota que, na urgência de dinheiro, caíra num golpe que podia o levar à falência. O funcionário de Wilson, Vincent Spaulding, um dia lhe apresentara um anúncio de uma certa “Liga dos Cabeças Vermelhas” que estava à procura de um novo membro. Dentre os requisitos primordiais estava o de que o candidato deveria ter o cabelo ruivo, daí a justificativa para o nome. Wilson fora o eleito em meio a centenas de candidatos e fora lhe dado como atribuição, passar parte do dia transcrevendo um volume da enciclopédia. Mesmo estupefato diante desse trabalho, Wilson aceitou de bom grado e cumpriu assiduamente sua tarefa. No entanto, tempos depois, deparara-se com um aviso de que a liga fora dissolvida e, ao retornar, percebeu que sua loja havia sido arrombada e saqueada. Caberia a Holmes e Watson descobrir o que havia sucedido e, especialmente o que o funcionário de Wilson escondia com seu estranho hobbie como fotógrafo.
            Na segunda aventura, Holmes e Watson são surpreendidos, numa manhã bem cedo, pela visita de Helen Stoner, visivelmente entristecida. Helen vinha sofrendo com a misteriosa morte de sua irmã e vivia sob o jugo de seu padrasto, o Dr. Grimesby Roylott. Este tinha um temperamento rude e agressivo, além do estranho gosto de criar criaturas estranhas de estimação: uma onça chita, um babuíno e cobras venenosas. Assovios estranhos pela noite vinham assustando Helen e ela via em Sherlock e Watson a esperança para recuperar o sossego perdido.
            Na terceira aventura, os detetives são procurados pela Sra. Violet Hunter que lhes narra sua longa história. Violet era uma governanta que, ao se deparar com uma boa oferta num jornal, entra em contato com os anunciantes. A princípio, fica atordoada frente a exigência de que cortasse os cabelos bem curtos e usasse vestes atípicas mas, diante de suas dívidas, aceita a proposta. Os patrões eram o Sr. e a Sra. Rucastle que, apesar de um pouco misteriosos, eram bons patrões. No entanto, um quarto totalmente fechado, que o Sr. Rucastle dizia ser sua sala de fotografia, intrigara Hunter. O pressentimento de que algo grave estava acontecendo leva Violet a buscar ajuda dos detetives. Um crime envolvendo a filha dos Rucastle, Alice, estava prestes a vir à tona.
            O que mais impressiona em Sherlock Holmes – fazendo até mesmo Watson exaltá-lo como um grande profissional – é sua capacidade de elencar os fatos e reunir as pistas exatamente onde foram deixados os vestígios. Afinal, não sem um pinta de orgulho profissional, é marcante e mundialmente conhecida a célebre afirmação do protagonista: “Elementar, meu caro Watson! Elementar!”.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:    Aventuras de Sherlock Holmes, As
Autoria:  Arthur Conan Doyle
Editora:  Baronet Books
Ano:       1992
Local:     New York
Gênero:  Suspense | Policial

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Informação ao Crucificado (Carlos Heitor Cony)

Substanciando uma obra marcadamente autobiográfica, o autor lança mão do personagem João Falcão para abordar a questão do progressivo desencanto pela vida religiosa, consequência de um início sem raízes fideístas, mas tão somente estéticas.
João Falcão é um seminarista que está bem próximo da tonsura, ou seja, o ritual onde lhe seria conferido o primeiro grau da ordem. Em um livro diário verde, registra as principais memórias que contam sua crise vocacional, durante os anos de 1944 e 1945. O ingresso do jovem João no seminário havia se dado essencialmente porque achava bonito o “ser padre”, de forma que o desejo de consagrar sua vida a serviço de Deus e da Igreja não era o fator elementar a impulsionar sua vocação. Cumpridor de uma rotina repleta de estudos nas mais diversas áreas da filosofia e teologia, a ele encantavam os livros literários tidos como proibidos aos alunos, uma vez que poderiam fazê-los questionarem aspectos fundamentais de sua vocação, em um momento em que não estavam preparados para amadurecerem respostas para as mesmas. Essa desobediência já era um fator para que tivesse alguns atritos com seus superiores.
Na narrativa dos dias vivenciados pelo seminarista, vemos suas dúvidas vocacionais se entrelaçando em meio aos fatos corriqueiros do cotidiano. Estudos, rezas, celebrações, atividades recreativas, férias ocasionais são alguns desses momentos nos quais o autor informa ao leitor sobre seu calvário, no qual sua própria vocação estava em coma, conduzida sempre mais para a inevitável extinção. Em uma época em que a vocação sacerdotal era sinal de status e um motivo de orgulho para os familiares do vocacionado, João se angustia perante o choque que seus pais levariam ao saber que o filho estava deixando uma carreira promissora para entregar-se às aventuras decepcionantes do mundo. Contudo, ele opta pelo caminho da coerência, já que a imanência para com o divino era algo essencial que lhe faltava para continuar galgando os passos do sacerdócio.
A carga de responsabilidade para com a própria vocação que o livro transmite reflete a forma séria e exigente com que a sociedade e a igreja tratavam a preparação sacerdotal naquele tempo. Nas memórias do seminarista, vemos a formação muito mais como um peso a se carregar, ainda que a duras penas, do que uma fase de discernimento necessária para que o jovem seja capaz de consagrar sua vida espontaneamente à causa abraçada. O ambiente de erudição do seminário não deixa espaço para o debate das próprias crenças, nem para o amadurecimento das dúvidas vocacionais. O episódio cômico em que alguns seminaristas veem a filha do porteiro nua em um jardim é tratado como se os olhos dos mesmos houvessem levado-os a cometerem um crime contra a castidade, requerendo uma expiação severa.
Por meio dessa confissão pública, o autor concretiza uma crítica ao rigorismo daquele tempo, o que fez com que os ambientes de formação religiosa fossem pintados como locais à parte do mundo, ainda que inseridos nele e o tempo todo sujeitos às suas ciladas. Outra leitura que também pode ser feita e, nesse sentido, estendida a outras áreas da vida, que não a dimensão religiosa, é o perigo de permanecer em um caminho apenas pelo fascínio estético. João Falcão era um jovem que, mesmo advertido sobre a proibição de algumas leituras, não se rendia à curiosidade pelo conhecimento. Isso não faria dele um infrator, já que sua permanência no seminário apenas por achar bonita a prática sacerdotal, constituía-se em sua maior traição. Contudo, a insistência nesse caminho aumentava-lhe cada vez mais a angústia, de forma que, ao informar ao crucificado sobre sua crise de fé, necessitava também dar uma resposta a si mesmo e àqueles que nele depositavam suas esperanças.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:    Informação ao Crucificado
Autoria:  Carlos Heitor Cony
Editora:  Companhia das Letras
Ano:       1999
Local:     São Paulo
Edição:   5ª
Gênero:  Autobiografia | Espiritualidade | Drama

domingo, 17 de dezembro de 2017

Cem Noites Tapuias (Ofélia e Narbal Fontes)



Quincas Venâncio é um garimpeiro que vive com o filho Quinquim em uma tapera no estado do Mato Grosso. Como a mãe do garoto já era falecida, cabia a Quincas a dura tarefa de extrair do garimpo o sustento para si e para o filho. Trabalhador dedicado, alimentava-o o sonho de um dia encontrar o diamante que finalmente seria capaz de fazê-lo descansara daquela lida e fornecer melhores condições de vida. Enquanto não chegava o sonhado dia, seguia sua labuta no garimpo, levando consigo o filho pequeno como acompanhante.
Certa vez o filho amanhecera meio adoentado e Quincas resolvera deixá-lo em casa, mesmo que as preocupações com a segurança fossem grandes. A região em que viviam era cercada de tribos indígenas, algumas delas pacíficas e outras selvagens, cujos ataques eram bastante comuns. Aquele dia preocupante traria consigo duas notícias opostas entre si: no garimpo, Quincas finalmente encontrara o objeto de seus sonhos; em casa, o filho havia sido raptado por um grupo de índios Xavantes, muito temidos por serem selvagens e perigosos. Além do garoto Quinquim, Joana Borora, que era indígena e professora, também havia sido levada. Joana socorrera diversas crianças da escola durante o inesperado ataque e se oferecera em lugar dos pequenos, a fim de poupar-lhes a vida. Para Quincas e os outros garimpeiros da Vila de Poxoréu, a luta contra o tempo seria fundamental para encontrar o filho e a professora, antes que algo pior viesse a acontecer.
Desde a morte da mãe, vítima de uma febre palustre (malária), Quinquim costumava acordar repentinamente todas as noites, clamando por ela. Preocupada pelo fato de que os índios pudessem interpretar isso como um grito de socorro pelas madrugadas, Joana assume um papel maternal na vida da criança e tem a brilhante ideia de acalmá-la através de uma história. Daí nasce uma história dentro de outra, sendo o personagem principal o jabuti Carumbé, que saíra de casa à procura do fim do mundo. Nos moldes do melhor folclore, Carumbé traduz a riqueza das histórias da cultura brasileira, assim como outras clássicas como o Saci-Pererê, Boitatá, Curupira, etc..
Cientes de que os brancos viriam em resgate dos reféns, os índios preparam uma emboscada para pegá-los desprevenidos. Contudo, a sagacidade de Joana leva-a a colocar uma mensagem dentro de uma porunga (cabaça de abóbora) e enviá-la rio abaixo. A estratégia funciona perfeitamente e os brancos chegam à aldeia em um momento em que somente mulheres e crianças estavam na tribo. Após cem noites junto aos índios, Joana e Quinquim são resgatados pacificamente. Após tomar conhecimento do carinho maternal que a professora dedicara ao filho, Quincas e Joana nutrem um profundo amor entre si e se casam em uma cerimônia bastante festejada na Vila de Poxoréu.
A história narrada pelo casal Ofélia e Narbal é extremamente leve e instrutiva. Além de celebrar os elementos da cultura matogrossense com palavras típicas e cenários bucólicos, a história de Carumbé enriquece a trama com uma mensagem de que, para além das próprias limitações, é aquilo em que acreditamos que nos move para seguirmos em frente. O desfecho feliz do resgate da professora e do garoto Quinquim transmite ainda mais leveza para a obra, demonstrando que índios e brancos podem conviver pacificamente, ainda que existam conflitos entre eles. Esperança, paciência e confiança são algumas das palavras que traduzem o escopo dessa obra, além de, é claro, o amor, capaz de superar as mais “tapuias” noites da vida.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:    Cem Noites Tapuias
Autoria:  Ofélia Fontes / Narbal Fontes
Editora:  Ática
Ano:       1976
Local:     São Paulo
Edição:   2ª
Série:     Coleção Vaga-lume
Gênero:  Infanto-juvenil | Drama

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Qual é a tua obra?: inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética (Mario Sergio Cortella)

Debater alguns temas que cercam a tríade da gestão, liderança e ética é o que o aclamado filósofo contemporâneo brasileiro se propõe nessa obra.
Afinal, qual é a obra de cada ser humano? Aqueles que se fizerem essa pergunta talvez consigam uma rápida resposta que perpasse pelos seus mais preciosos motivos existenciais: trabalho, família, fama, ser lembrado, não ser esquecido, etc.. No entanto, em suas tarefas da rotina, nem sempre reconhece o impacto de suas pequenas ações repetitivas naquele todo maior que constitui sua obra, ou seja, o horizonte de sentido/significado capaz de fazê-lo ter um propósito com potencial para tornar a própria vida algo memorável e essencial.
Saber qual é a própria obra é inserir-se na dinâmica da vida, estando sempre aberto às mudanças que fazem com que nós, seres humanos, sejamos capazes de evoluir. Não é de se admirar que são as ondas e os ventos que empurram o barco na direção em que ele se projeta... Dessa forma, o autor trabalha também com a noção de que educação é a reinvenção do conhecimento tornando-o útil e importante para que os indivíduos sejam pessoas melhores, mais capacitadas e, consequentemente, mais reconhecidas como importantes naquilo que fazem. Importantes e não insubstituíveis! Daí a importância de cada um ser capaz de romper suas zonas de conforto, romper os medos e antecipar-se às situações. São características essenciais que diferenciam substancialmente os verdadeiros líderes. Nessa ótica, sábio é aquele que encontra o ponto de equilíbrio que evita tanto a cautela imobilizadora quanto o ímpeto inconsequente. De outra forma, caberá àquele que se sente enfadado de sua rotina questionar-se se de fato vale a pena continuar levando a mesma sina, considerando que ”a vida é muito curta para ser pequena”.
As reflexões do autor sobre o campo da liderança levam a uma conclusão entusiasmante: o verdadeiro líder é aquele capaz de inspirar pessoas. Somente quem consegue trazer para seu corpo de auxiliares a importância do trabalho que executam para o real objetivo da obra, também é capaz de inspirar pessoas e modificar-lhes a vida. Daí, a importância de uma consciência coletiva sobre o papel que representam na máquina, bem como o reflexo do bom/mau desempenho de suas atribuições no todo do projeto.
Enfim, a ética entendida como os valores pessoais e coletivos que alimentam e fortalecem o bom convívio social, pode ser avaliada a partir de três perguntas básicas: Quero? Devo? Posso? O ponto de equilíbrio encontrado na resposta a essas perguntas, frente às diversas situações do cotidiano revelará a moral da vida coletiva. Enquanto há indivíduos que somente enxergam o próprio espaço que ocupam neste vasto universo, uma pessoa dotada de princípios éticos e uma moral prática bem estruturada constituir-se-á em uma pessoa capaz de viver uma integridade, ou seja, não se corromper entre os benefícios da ocasião, mas antes pautar-se pelos seus valores e princípios. Nesse ponto de equilíbrio, ela se encontra e respeita o outro em sua alteridade, reconhecendo-o como pessoa e não como estranho.
As pequenas reflexões encontradas nesse livro são de uma densidade tamanha que não se esgotam nas poucas páginas que encerra. Todavia, longe de se perder em extensas reflexões que por fim tornar-se-iam exaustivas, a conclusão a que se chega é o vislumbre de como a obra de cada um é capaz de alimentar a própria vida, sem, contudo sufocar nossa grande obra coletiva e a obra que o outro traz consigo. Afinal, enquanto a decisão de cada um soa como algo individual, as consequências podem trazer repercussões em muitas outras vidas.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Qual é a tua obra?
Subtítulo: inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética
Autoria:    Mario Sergio Cortella
Editora:    Vozes
Ano:         2010
Local:       Petrópolis
Edição:     10ª
Gênero:    Filosofia