quinta-feira, 28 de maio de 2015

The Walking Dead: a melhor defesa (v.5) (Robert Kirkman)




Eis que surge nos céus da prisão uma esperança que logo se desfaz: um helicóptero militar sobrevoa a área, mas inesperadamente entra em pane e cai. Mesmo receosos, Rick, Gleen e Michonne deixam de lado a tarefa de eliminar os mortos-vivos que se acumulavam na cerca e aventuram-se por dentro da clareira, desejosos em encontrar algum sobrevivente. Todavia, pegadas pela estrada indicam que, se havia alguém naquele helicóptero, esse alguém havia ido sabe-se lá para onde, fazendo com que o trio siga as marcas.
O caminho sinuoso acaba por levá-los a um vilarejo chamado Woodbury. Parecia uma espécie de "ilha" com uma proteção cercando-a, certamente para evitar a entrada repugnante e inesperada de errantes. Os três são descobertos por alguns homens que os levam à presença de um líder que se identifica simplesmente como "Governador". Numa primeira impressão parecia somente mais um grupo de sobreviventes que permaneceram unidos e conseguiram criar uma espécie de célula protegida em meio ao apocalipse zumbi. No entanto, aquele homem exalava um ar nada amigável e tudo ficou ainda mais claro quando anunciara que naquela noite haveria alguns jogos. Esses consistiriam em lutas entre forasteiros cercados de errantes, visando o divertimento dos membros de Woodbury. Rick e seu grupo estavam cientes da enrascada em que haviam se metido.
O Governador e seus capangas iniciam uma série de torturas na tentativa de descobrirem de onde o trio viera e onde estavam os outros. Resistentes em contar toda a verdade, os três se calam e o Governador toma uma nova atitude ainda mais sarcástica e covarde: num golpe certeiro, decepa a mão direita de Rick. Num ataque de fúria, Michonne o ataca e decepa-lhe a orelha, mas é contida por um de seus capangas. Glenn é aprisionado enquanto Michonne é amarrada e novamente torturada, onde o Governador descarrega toda a sua raiva, principalmente através de violência sexual. Depois, o carrasco volta para sua casa, enquanto cumprimenta serenamente os moradores do vilarejo.
Na enfermaria improvisada, Rick desperta e recorda todas as atrocidades por que passara nas últimas horas. A presença soturna do homem que lhe impedira de morrer por hemorragia, mostra-lhe que ali havia alguém que conhecia de perto o mau caráter do líder de Woodbury, mas que se calava e o servia obedientemente, visando preservar a própria vida. Mais tarde, o Governador encontra Rick novamente e o deixa pasmado, ao revelar que já sabia sobre o segredo da prisão de onde vieram. Ele havia soltado Gleen e o seguiria na tentativa de encontrar o lugar. 
        Nesse volume da série a estreia da figura do Governador inaugura uma sequência tensa de um dos personagens mais controversos de todo o universo de The Walking Dead. Muitos elementos assemelham-se aos da série televisiva da AMC, como a garotinha que o Governador mantinha em cárcere como sendo sua filha e a tenebrosa coleção de cabeças que guardava em sua casa. Mas o maior diferencial é a mão decepada de Rick e a rápida revelação sobre a prisão onde estavam os outros, mediante a confissão de Gleen, que se compadecera ao ouvir os gritos agonizantes de Michonne. Os zumbis que eram a maior ameaça até então, tornam-se simplesmente peças menores de um baralho que agora tinha cartas muito mais fortes e destrutivas.

 REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Walking Dead, The
Subtítulo:  a melhor defesa (v.5)
Autoria:     Robert Kirkman / Charlie Adlard
Editora:     HQM Editora
Ano:          2006
Local:        São Paulo
Edição:      1ª
Série:        Mortos-vivos, Os - Volume IV 
Gênero:     Zumbi | Suspense | História em quadrinhos
 Confira um trecho da série lançada pela AMC: 

 

segunda-feira, 18 de maio de 2015

A Culpa é das Estrelas (John Green)


 
            Esse é um livro do gênero romance mas que apresenta diferenciais que o distinguem de muitas literaturas cujo excesso de romantismo acaba por tornar a leitura enfadonha e pegajosa. Trata-se de uma narrativa bastante contemporânea, não só pelos elementos narrativos presentes, como também pelos traços comportamentais dos jovens protagonistas.
            Hazel Grace é uma adolescente portadora de um câncer de tireóide com metástase nos pulmões. Isso significava que, embora se medicasse regularmente para atrasar o avanço, a doença não seria curada. Além do mais, ela tinha que usar um cateter ligado a um tubo de oxigênio vinte e quatro horas por dia, já que seus pulmões não eram autônomos para mantê-la viva. Mesmo assim, Hazel não vivia deprimida ou apegada à ideia de morrer em um futuro próximo, embora seus pais sofressem mais com a ideia da perda, do que ela com a iminência da morte.
            Certo dia, Hazel participa de uma reunião do Grupo de Apoio da igreja local, onde conhece várias pessoas em situação de saúde semelhante a sua. Um cara em especial lhe chama atenção: Augustus Waters. Enquanto ele falava sobre a importância em ser lembrado ela lhe respondeu sobre a inutilidade daquela intenção, já que todos estavam fadados ao inevitável esquecimento. Era a centelha para que eles começassem uma nova amizade.
            Hazel e Augustus compartilhavam muitos momentos e atividades juntos. Porém, o que ocupava o centro de suas atenções eram as leituras, especialmente o livro de que Hazel mais gostava: Uma Aflição Imperial de Peter Van Houten. Ela se identificava bastante com a história já que também falava de uma garota com câncer em estágio terminal que vai vivendo sua vida e, em certo momento do livro, ele termina sem um fim definido. Isso levanta vários questionamentos e dúvidas no leitor, se ela de fato quis terminar o livro daquela forma ou se ela morreu e por isso não pôde terminar a narrativa. Hazel se perguntava também sobre o que teria acontecido com os outros personagens, especialmente os pais da garota. Para ela, era interessante descobrir como a história continua depois que ela termina.
            Augustus era um cara cheio de surpresas. Tinha um hábito estranho de ficar com um cigarro apagado na boca mas isso era para ele uma metáfora: você se aproxima daquilo que te mata, porém não lhe dá o poder de te matar. Augustus decide enviar um email para o autor do livro de que Grace gostava a fim que satisfazer a curiosidade dela (e dele também!) sobre o desfecho da história. A secretária dele responde às mensagens e agenda um encontro em Amsterdã, onde seriam sanadas todas as dúvidas. Hazel salta de alegria com a ideia de conhecer pessoalmente o autor, ainda mais com a companhia agradável de Augustus. Contudo, próximo da data da viagem, seu estado de saúde se agrava e o empreendimento de uma jornada tão longa é visto como bastante arriscado pelos médicos. Muitos teriam desistido. Mas desistir não era uma opção para Hazel e Augustus.
            O encontro com Van Houten não corresponde às expectativas que os jovens alimentavam. Mesmo assim, vale a aposta em um passeio, a princípio temerário, mas que significou em dias agradáveis para os dois. Hazel e Augustus não escondem mais o amor que sentiam um pelo outro. Principalmente ela, tinha bastante resistência em viver tal romance, uma vez que se considerava como “uma granada que poderia explodir a qualquer momento e que iria ferir a quem estivesse perto”. A ideia de morrer em breve somente a assustava quando ela pensava que pudesse causar sofrimento àqueles que amava: seus pais, amigos e Augustus. Mas a ordem dos fatos seria ainda mais ingrata, revelando um lado do qual ela não estava preparada para enfrentar: outra granada explodiria causando-lhe feridas ainda mais dolorosas do que o próprio câncer.
            Se a história de A Culpa das Estrelas se prendesse somente a narrar os fatos em torno dos protagonistas Hazel e Augustus, certamente ela seria somente mais uma história chocante, ainda que bonita dentre tantas outras e não justificaria o sucesso que obteve, inclusive com sua adaptação para o cinema em 2014. Entremeados nos diálogos, o autor trabalha, de forma muito leve e descontraída, questões filosófico-existenciais importantes: qual o sentido da vida? O que há depois de tudo o que aí está? De que vale a vida para alguém que sabe que irá perdê-la em breve? Como Deus se encaixa nisso tudo? Desta forma, John Green reflete com seu leitor numa linguagem estritamente jovem e absolutamente marcante.

 REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Culpa é das Estrelas, A
Autoria:    John Green
Editora:    Intrínseca
Ano:         2012
Local:       Rio de Janeiro
Edição:     
Gênero:    Romance

 
Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2014:

 
 

sexta-feira, 8 de maio de 2015

101 Experiências de Filosofia Cotidiana (Roger-Pol Droit)


            As vivências do mundo contemporâneo fazem com que as pessoas cumpram diariamente certo ritual predeterminado: acordar, fazer o desjejum, ir ao trabalho/escola/lazer, alimentar-se, fazer a higiene pessoal e dormir. Com isso, não é de se admirar quantas se queixam da falta de tempo em suas vidas, não por ele ser algo que lhes falta e sim por ser insuficiente diante do emaranhado de programações, fazendo com que seja um sacrifício ter que renunciar ou encurtar a atenção dispensada a algo, em função de algo outro. Além do mais, as exigências da vida moderna requerem que tudo seja concebido como fatos isolados, com início, meio e fim determinados, bem como locais adequados. Na contrapartida dessa tendência, o desejo de ser capaz de um emaranhado de coisas faz com que aconteça uma mesclagem das atitudes: para se dar conta da leitura de um livro, deve-se aproveitar a viagem de volta para casa dentro do ônibus e, como se não bastasse o ruído do motor e do vozerio das pessoas, deve-se suportar a música pelos fones de ouvido, pois isso também é um prazer. Apenas um exemplo da mesclagem hodierna.
            Sem a pretensão de tecer um ponto de vista crítico das tendências modernas, Roger-Pol Droit busca salientar que a filosofia enquanto atitude reflexiva, racional ou mesmo fruitiva, é algo mais presente no cotidiano do que se imagina. Em meio às atividades cotidianas, experimentamos diversas ocasiões que podem ser momentos privilegiados de uma intensa experiência filosófica. Alguns fatos simples e corriqueiros que jamais seriam encontrados em tratados extensos e complicadíssimos de filosofia mostram-se como momentos de especial importância para que a essência do numinoso ou uma centelha do que é a coisa-em-si se descortinem desveladamente diante de nosso ser. Perante essas inúmeras experiências, o autor descreve cento e uma, como uma forma simbólica de apontar que são infinitas: ver a própria imagem refletida no espelho, observar a poeira contra a luz do sol, acompanhar uma formiga carregando uma folha, tentar não pensar em nada, imaginar-se dentro de um labirinto, contemplar o próprio corpo em um caixão, visualizar a si mesmo daqui a dez ou vinte anos, aturar os tagarelas, gastar tempo em uma biblioteca, etc.. Todos esses são exemplos de quão rica a experiência cotidiana é para nos fornecer material existencial para nossa reflexão.
            Mesmo que não seja consciente disso, a atitude reflexiva é uma faculdade inata do ser humano, mais do que a racional. Se observarmos bem nosso dia, veremos que a frequência de pensamentos, imagens e associações sem lógica alguma e carregadas de conteúdo imaginário e fantasioso é mais constante do que a complexa construção de pensamentos que possuem nexo ou são factualmente realizáveis. Daí vem a constatação de que a natureza humana é a unidade daquilo que sistematicamente se define como sendo espiritual, biológico, racional, emocional, psíquico, etc.. Dessa forma, filosofar é a ação mais praticada no dia-a-dia.
            A obra de Roger-Pol Droit busca fornecer a centelha inicial capaz de acender o espírito para a atitude reflexiva nas situações mais mórbidas e efêmeras da vida. Por apresentar a filosofia de uma maneira leve e descontraída, torna-se ideal para a iniciação de jovens ou filósofos precoces na busca pelo sentido oculto das coisas. Talvez o seu maior mérito seja desmascarar a imagem de que a filosofia é algo ocioso e até mesmo inútil, quando não difícil ou impossivelmente compreensível. O que importa é ser capaz de experimentar a fruição na atitude de se projetar para além do fisicamente visível ou imediatamente cognoscível e não ter medo de desbravar o belo mistério que repousa nas inconstâncias do ser.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:        101 Experiências de Filosofia Cotidiana
Autoria:      Roger-Pol Droit
Editora:      Sextante
Ano:           2002
Local:         Rio de Janeiro
Edição:       1ª
Gênero:      Filosofia