sábado, 23 de fevereiro de 2013

Não espere pelo epitáfio... Provocações Filosóficas (Mario Sergio Cortella)


Mario Sergio Cortella é filósofo e professor. Trabalhou com o prof. Paulo Freire, grande pedagogo dos tempos atuais, e atuou em programas políticos de melhorias na área da educação. Sua atuação não se restringe ao ramo acadêmico, mas se estende também aos meios de comunicação, principalmente por programas de rádio, TV e publicações em jornais e revistas. Cortella possui obras de considerável importância que tratam de assuntos filosóficos, educacionais e epistemológicos.
Esta obra de Cortella é, na verdade, uma coletânea de crônicas publicadas no jornal Folha de São Paulo, entre os anos de 1994 a 2004. Portanto, o conteúdo das reflexões propostas trata de temas completamente atuais, ou busca fazer um elogio a assuntos que talvez não sejam tão atuais, mas que ficaram gravados como uma feliz recordação para quem não esqueceu os velhos tempos. Cortella não conservou uma linha específica de raciocínio ou reuniu crônicas que tratassem somente de assuntos semelhantes. O que encontramos é uma centelha de cada coisa, buscando incendiar no leitor o anseio pela reflexão. Num universo onde tantas experiências se entrecruzam, o autoquestionamento do que cada um busca para si mesmo torna-se cada vez mais necessário. Daí o subtítulo do livro sugerir que o que é apresentado são apenas provocações filosóficas.
O mundo pós-moderno requer do ser humano a capacidade de lidar com um variado acervo de coisas em tempo recorde. A capacidade de assimilação é um aprendizado imprescindível para todos aqueles que almejam “curtir” a vida ao máximo. No entanto, a cultura prega o ledo engano de que aproveita a vida aquele que faz de tudo um pouco e jamais abre mão de sentir prazer no que faz. Diante disso, uma gama de eventos vitais a que todo ser humano está sujeito, torna-se relativizada ou mesmo distorcida. Quais os apelos do amor em uma sociedade totalmente erotizada? Qual o sentido do sofrimento em um mundo completamente hedonista? Para onde foram as emanações do sagrado numa cultura afirmativa, pragmática e cientificista? O que foi feito com as famílias numa rede de relacionamentos marcados por um amor líquido, onde tudo o que é sólido se desintegra no ar? Como os cidadãos conciliam a necessidade do trabalho com o necessário tempo ocioso? Que tipo de termômetro usamos para aferir a carga de sentido do passar dos anos? Numa cultura transitória e tacocrática (marcada pela rapidez e instantaneidade) o que fica gravado na memória?
A vida como espaço existencial é curta demais para gastas em fatos epidérmicos e suficiente para ser vivida intensamente. As reflexões proposta nesse livro buscam suscitar no leitor a busca pelo seu próprio centro de equilíbrio, de forma que possa refletir sobre seu próprio existir como pessoa, bem como a importância que dá a tudo o que o rodeia. Afinal, o tempo que passa clama por ser vivido de modo criativo, dinâmico, cheio de vitalidade e inteireza naquilo que fazemos. O que não resta é tempo para a superficialidade. Enfim, o desconhecimento de quando findará nossa vida aponta que um dia poderá ser “cedo ou tarde demais, pra dizer adeus, pra dizer jamais...”


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Não espere pelo epitáfio...
Subtítulo:  provocações filosóficas
Autoria:     Mario Sergio Cortella
Editora:     Vozes
Ano:          2005
Local:        Petrópolis
Edição:     
Gênero:     Filosofia

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Harry Potter e o Cálice de Fogo (Joanne K. Rowling)



Publicado no ano 2000, Harry Potter e o Cálice de Fogo traz o quarto livro da saga que encantou leitores de diversas gerações no mundo inteiro. A Escola de Magia de Hogwarts está prestes a viver um momento histórico e o senhor das trevas, Lord Voldemort, auxiliado por seu subalterno Rabicho, aproveitaria a ocasião para destruir seu arquirrival Harry Potter. 
O mundo dos bruxos estava empolgado com um acontecimento importante: a realização da Copa Mundial de Quadribol. Os Wesley haviam convidado Harry para participar da final desse evento que reunia bruxos do mundo todo para assistirem às partidas de quadribol disputadas pelos melhores jogadores da atualidade. Mesmo sendo incomodado pelas constantes dores em sua cicatriz, que o vinham atormentando nos últimos tempos, Harry aceita e viaja na companhia dos amigos Rony e Hermione. Porém o encantamento dos jogos foi acompanhado de grandes transtornos, principalmente por uma enorme confusão depois que a Marca Negra e os Comensais da Morte de Voldemort apareceram no acampamento, assustando a todos. A culpa havia sido lançada sobre Winky, um elfo doméstico à serviço do Ministro da Magia, Sr. Bartô Crouch.
Passada a Copa Mundial, já era hora do retorno às atividades na Escola de Magia de Hogwarts. Uma das mudanças naquele ano era a chegada de Olho-Tonto Moody como o novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas. Além disso, o episódio ocorrido com Winky durante o evento esportivo e a escravidão a que os elfos domésticos eram submetidos na realização de tarefas corriqueiras em Hogwarts, deixara Hermione indignada, no que a fez criar a F.A.L.E. (Fundo de Apoio à Libertação dos Elfos), um movimento em prol das submissas criaturas. Mas as maior novidade mesmo, era o Torneio Tribruxo, que teria a Escola de Hogwarts como sede naquele ano.
O Torneio Tribruxo era uma competição milenar. Consistia em competições esportivas de alto risco, restringindo-se aos estudantes mais velhos, de forma que Harry Potter e seus amigos de classe não poderiam se candidatar. Além de Hogwarts, as escolas de Durmstrang e Beuxbatons também participariam, comandadas por seus respectivos diretores, Karkaroff e Madame Maxime. Os alunos que preenchessem os requisitos necessários deveriam depositar seu nome no Cálice de Fogo, que faria a escolha dos três campeões de cada escola.
Na cerimônia de escolha dos campeões, três nomes haviam sido eleitos: Vitor Krum, da Durmstrang; Fleur Delacour, da Beuxbatons; Cedrico Diggory, de Hogwarts (casa Lufa-lufa). No entanto, um quarto nome também fora selecionado pelo Cálice de Fogo: Harry Potter, de Hogwarts (casa Grifinória). Como isso foi possível? Era um evento inédito e causara muita polêmica, já que Hogwarts teria dois participantes e Harry não preenchia o requisito de idade mínima. No entanto, após sérias discussões e visto que a escolha feita pelo cálice era suprema, Harry fora admitido como campeão.
As provas prosseguiam, cada uma desafiando os campeões em um grau de alta periculosidade, em suas três tarefas: 1ª) a captura do ovo dos dragões; 2ª) o salvamento no lago de Hogwarts; 3ª) o encontro da Taça Tribruxo dentro de um labirinto. Não bastasse isso, Harry ainda teria de suportar a inconveniente Rita Skeeter, jornalista tendenciosa e sensacionalista do jornal “Profeta Diário” e os ataques provocativos de um velho inimigo: Draco Malfoy. Porém, ainda pairava no ar o mistério em torno de sua eleição como segundo campeão de Hogwarts. Seria uma conspiração para que Harry fosse morto durante alguma das provas? Quem conseguira depositar seu nome no imparcial cálice de fogo? O que estava por trás da participação do pequeno bruxo nas provas, mesmo contra sua própria vontade? O transcorrer do torneio evocaria os fantasmas do passado de Harry tão presentes nos últimos anos em Hogwarts: a morte de seus pais, o mistério sobre seu padrinho Sirius Black e a volta do temível bruxo Lord Voldemort, que não mediria esforços para recuperar seu corpo físico e vingar-se definitivamente do garoto.
Com as novidades em Hogwarts, o leitor pode viajar também por um acervo de novidades na série Harry Potter. A cada volume, Joanne Rowling impressiona um pouco mais pela criatividade e pelos mistérios que cercam a vida do pequeno bruxo, bem como seu crescimento enquanto jovem, evidenciado nessa obra, principalmente por seu acanho ao convidar uma garota para o tradicional Baile de Inverno do Torneio Tribruxo. Harry está cada vez mais frente a frente com seu inimigo, Voldemort. E as descobertas então obscuras sobre a morte de seus pais lhe trazem memórias dolorosas que alimentam a ira e a vontade de destruir o lorde das trevas. Uma batalha cada vez mais iminente, embora não isenta de riscos para si e para os seus melhores amigos. 

ROWLING, Joanne K. Harry Potter e o Cálice de Fogo. Rio de Janeiro: Rocco, 2001. 584 pgs.

Confira a adaptação para o cinema lançada em  2005:

 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Maria da Tempestade (João Mohana)

maria da tempestade          Em estilo novelístico o romance de João Mohana recria o cenário e o contexto de uma época em que os valores familiares tradicionais eram colocados acima dos ideais de independência e liberdade afetiva. Nesse horizonte se descortina a trama de uma história cuja vontade de realização de uma vida, revela-se no conflito com tais valores verticalmente estabelecidos.
          Bárbara Macedo Sena era a filha mais nova e única mulher de seis filhos do casal Godofredo e Elisa, em São Luiz, Maranhão, durante o século XX. Desde pequena era criada de uma forma superprotegida e ensinada a obedecer aos rigorosos preceitos da educação familiar. À respeito disso diz: “Não nos deixavam usar a liberdade de cujo uso depende nosso merecimento ou nossa condenação final; não tínhamos liberdade de usar nossa vida de acordo com nossa consciência. A consciência era a língua do povo, e tinha-se um medo enorme, quase pavor, desse objeto que nunca se via, porém se sentia, mais que tudo, o seu tremendo veneno” (p. 12).
          Crescendo nas circunstâncias rígidas do lar, certo dia Bárbara encontra com Guilherme e inicia o desfecho de uma paixão, atraída pelos seus olhos, e ela, atraída pelos seus cabelos. No entanto seus pais não concordam com o namoro por ele ser um rapaz pobre e cuja profissão não lhe garantia um sustento satisfatório. A situação se agrava mais ainda quando Guilherme se envolve numa briga que terminaria num assassinato cometido por um colega seu. A compra dos juízes faz com que Guilherme seja condenado a dez anos de prisão. Sob o risco de ser mandado para São Paulo, Bárbara se casa com ele na prisão, com a ajuda de seu confidente e especial orientador espiritual, P.e Tarjet. Bárbara seria sempre vista com indiferença pela mãe e as tias e retornaria à casa somente por ocasião da morte lenta e dolorosa do pai. No entanto, sempre seria apoiada por seu irmão Godofredo, estudante de Medicina em São Paulo, que também não concordava com as atitudes severas e radicais dos pais.
          Bárbara morava junto com freiras em um convento que foi palco participante de sua formação na infância e adolescência. Diante da comprovação da gravidez, vai morar com Cora Mendes, uma senhora idosa e sozinha viciada em um alucinógeno. Aí viveria uma das maiores tragédias de sua vida, quando, aos sete meses de gravidez, sofre um aborto após ter ingerido morfina na noite das dores do parto, visando um efeito calmante. Consternada, Bárbara aprisiona Cora Mendes visando libertá-la do vício que lhe fez perder a filha.
          Maria da Tempestade retrata a odisseia de uma vida cujos tormentos, sofrimentos e tristezas eram violentamente confrontados com a certeza de dar ouvidos à voz do próprio coração, para encontrar a felicidade. É a própria Bárbara Sena que conta sua história em 1ª pessoa. Um destaque especial para a vivacidade com que a personalidade dos diversos personagens é descrita e elencada no enredo da história. Uma saga intrigante que busca superar a visão enganosa dos guardas ingênuos de nossos lares.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Maria da Tempestade
Autoria:     João Mohana
Editora:     Agir
Ano:          1966
Local:        Rio de Janeiro
Edição:     
Gênero:     Drama

sábado, 2 de fevereiro de 2013

O Parque dos Dinossauros (Michael Crichton)



              Poucos autores são capazes de criar um enredo de ficção científica com elementos tão reais, que deixam no leitor uma certa curiosidade cética acerca da (im)possibilidade da materialização de uma história semelhante. Em O Parque dos Dinossauros, Michael Crichton consegue essa façanha, com refinada maestria, justificando o porquê a obra se tornou um sucesso digno da pomposa adaptação para o cinema produzida pelo ilustre diretor Steven Spielberg.
            A trama se inicia com o episódio do ataque de um suposto lagarto Basiliscus amoratus a uma criança numa praia da Costa Rica, o que trouxe um alerta aos pesquisadores da área. Mais tarde, descobrir-se-ia que, na verdade tratava-se de um procompsognathus, uma espécie de dinossauro, extinta a milhões de anos. Os paleontólogos Alan Grant e Ellie Sattler haviam sido convidados a esclarecerem o caso do incidente, visto que tinham um amplo conhecimento sobre dinossauros. Nesse contexto, são apresentados ao Sr. John Alfred Hammond, o qual lhes faria um convite, no mínimo, inusitado.
            Hammond era o fundador da International Genetic (InGen), uma empresa especializada em pesquisas de engenharia genética, que havia comprado a ilha de Isla Nublar, na Costa Rica, a fim de aplicar seus experimentos. A ideia matriz da InGen era transformar a ilha numa reserva biológica onde seriam criados animais jurássicos extintos, obtidos a partir da manipulação genética do DNA do sangue extraído de mosquitos fossilizados em âmbar (seiva de árvore). Mais tarde, o empreendimento seria aberto à visitação turística, inaugurando uma ideia inovadora e revolucionária no turismo ecológico. O escopo principal de tal empreitada, para além da pesquisa genética, era o lucro, já que representava um Parque Ecológico Jurássico inédito na história da humanidade. Donald Genaro era o advogado e conselheiro geral da InGen, que ajudara Hammond na fundação da companhia, atraindo investidores para as pesquisas e o projeto da ilha. Assim, John Hammond convida seu advogado, o casal de paleontólogos e Ian Malcolm para uma visita de fim de semana ao parque. Esse último era um matemático, que aprendera a fazer a ponte entre o mundo teórico e o mundo real. No que diz respeito à ilha jurássica, afirmava veementemente a teoria de que sistemas complexos não podem ser controlados (Teoria do Caos) e a natureza não pode ser imitada.
            O maior deleite de Hammond era que o parque impressionasse principalmente as crianças e, portanto, levara também seus netos Tim e Alexis para que integrassem a comitiva. No entanto, o que era para ser um passeio fantástico de observação de animais pré-históricos, tornar-se-ia uma viagem tenebrosa graças a uma conspiração.
            Denis Nedry havia trabalhado na programação do sistema do parque. Visando roubar fetos de dinossauros para comercializá-los, Nedry desligara a força do gerador principal, iniciando uma catástrofe. Com isso, as cercas de alta tensão e os sensores de movimento haviam sido desativados, expondo os visitantes aos temíveis ataques dos dinossauros, que agora transitariam livremente pelo parque. Dentre todos, os mais temidos eram os abomináveis Tiranossauros Rex e os sagazes Velociraptores, capazes de exterminarem a todos num único ataque. Não bastasse a necessidade desesperada de salvar a própria vida, era preciso também correr contra o tempo, na tentativa de que um barco que partira da ilha para Puntarenas, e que havia sido invadido por dinossauros, fosse avisado antes de chegar à costa, evitando pois um ataque continental e a disseminação do pânico pela revelação da novidade. A sobrevivência era uma questão primordial e o veterinário Harding e o gerenciador do sistema de controle John Arnold eram peças-chave para que a força fosse novamente religada e o parque controlado. Porém, a dimensão da destruição causada pelos animais, mostrar-se-ia como uma catástrofe nunca antes imaginada por qualquer ser humano.
            A obra de Michael Crichton suscita no leitor um clima de adrenalina e suspense, desde o início. Não é só a ferocidade das criaturas jurássicas que alimenta o terror, como também a atmosfera de insegurança, presente principalmente quando Alan Grant descobre um grande equívoco dos cientistas do parque. Inicialmente, acreditava-se que os dinossauros não pudessem se reproduzir, já que eram todos fêmeas. Grant constataria que a origem evolucionária dos mesmos como anfíbios, provava que isso não era verdade e que o controle do parque não era tão eficiente quanto parecia. Outras curiosidades teóricas que enriquecem o lado científico da obra, são a tese de que os dinossauros são mais parecidos com as aves do que com os répteis e a Teoria do caos, tão defendida por Ian Malcolm, postulando o comportamento imprevisível de sistemas complexos.
            Enfim, O Parque dos Dinossauros representa um talismã do que há de melhor na ficção científica literária.

CRICHTON, Michael. O Parque dos Dinossauros. São Paulo: Best Seller: Círculo do Livro, [1992?]. 3ª ed.. 474 pgs.

               Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 1993: