segunda-feira, 29 de junho de 2015

A Garota das Laranjas (Jostein Gaarder)

            Mesmo quando se dirige ao público infantil, o autor de O Mundo de Sofia, consegue uma façanha brilhante: fazer com que as crianças reflitam os mistérios da vida, ao mesmo tempo em que se divertem nas páginas de um livro. Deste modo, a obra em questão é um convite para pensar um pouco não só no mistério da existência humana, como também sentir a força dos laços que nos unem às pessoas queridas.
            George Roed é o próprio narrador da história, um garoto de 15 anos. Durante uma arrumação no sótão de sua casa, ao percorrer e revirar utensílios antigos que ficaram encostados e esquecidos pelo tempo, sua avó deparara-se com um carrinho de bebê. Era o carrinho usado para transportar o neto mas, o que mais intrigava era um chumaço de folhas numa espécie de fundo falso do carrinho. Logo constataram que se tratava de uma longa carta escrita pelo pai de George, Jan Olav, em agosto de 1990, e que somente agora, 11 anos depois, fora descoberta. Emocionado, George se apossa dos papeis e se fecha em seu quarto, desejoso de que nada pudesse perturbar o eco da voz de seu pai, há tanto tempo esquecida.
          George perdera o pai quando estava prestes a completar 4 anos de idade. Atualmente, vivia em Humlevei (Oslo, Noruega) com sua mãe, o padrasto Jorgen, e uma irmã, Mirian, filha de seu padrasto. A carta de seu pai continha uma revelação nunca antes conhecida, das memórias que Jan não queria que se perdessem com sua morte. Importante assinalar que quando ele havia escrito a carta, já sabia da gravidade de sua doença e desejava deixar para o filho algumas palavras de seu amor paternal.
            O escopo principal da carta de Jan Olav, concentra-se na história de como havia conhecido a mãe de George, ou melhor dizendo, como havia conhecido a "garota das laranjas". Tudo começara a partir de um encontro imprevisível em um ônibus, quando a garota supostamente fugia de um homem, e continuara em encontros sucessivos não programados. O fato da garota estar sempre vestida com um anoraque (roupa felpuda para lugares frios) de caminhante, e segurando um saco de papel cheio de laranjas intrigava o pai de George. Com o passar do tempo, os dois conversaram e, quando um certo romance parecia estar surgindo, a garota fizera um pedido curioso para Jan: que aguardasse seis meses, pois, caso conseguisse, encontrar-se-iam todos os dias nos seis meses seguintes. Aquela proposta vinha na direção oposta aos anseios de Jan e seis meses pareciam uma eternidade. Com isso, o pacto fora quebrado quando, após ter recebido um cartão-postal remetido de Sevilha (Espanha), viajara para lá, em busca da garota das laranjas, mesmo sem um endereço definido para iniciar. O resultado disso mudaria definitivamente o futuro dos dois, mas o romance terminaria em tragédia com a descoberta da grave doença de Jan Olav.
            Embora soe enfadonho e com um certo romantismo pedante em algumas partes, a obra possui um valor especial pelo contexto global de seu enredo. Um pai, que morrera há tantos anos, dirige-se ao filho como se estivesse presentificando sua existência, com as palavras escritas pouco tempo antes de sua morte e não acabadas. O universo era algo fantástico para Jan Olav, demonstrado principalmente na narrativa do fato de uma noite marcante: quando ficou com o filho bebê no colo, apreciando as inúmeras estrelas que podiam ver. Tal encanto é demonstrado também nas perguntas que o pai dirige ao filho sobre o lançamento do telescópio Hubble ao espaço. Enfim, por meio da evocação da memória afetiva dos personagens, o autor visa chama a atenção para a beleza e o encanto de tudo o que existe e acontece na vida humana, antes que a morte desfaça os contornos dessa grande aquarela.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:     Garota das Laranjas, A
Autoria:   Jostein Gaarder
Editora:   Companhia das Letras
Ano:        2005
Local:      São Paulo
Edição:    
Gênero:   Infanto-juvenil

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Guerra dos Tronos (George R. R. Martin)

            Esse volume é o primeiro da série Crônicas de Gelo e Fogo, que conquistou milhares de fãs não só dos livros, como também da adaptação cinematográfica produzida pela HBO desde 2011, sob o nome de Game of Thrones. As características gerais do mundo inventado por George R. R. Martin o colocam próximo do trabalho que fez o autor de O Senhor dos Aneis, de forma que ele é considerado o Tolkien norteamericano. Todavia, o universo dos dois também é muito distante, razões as quais serão expostas após o resumo abaixo.
            Como introdução de uma das melhores sagas de todos os tempos, nesse livro temos a ambientação dos Sete Reinos de Westeros e a narração dos fatos que os levarão a uma guerra inigualável. Lorde Eddard Stark (também chamado Ned) é o patriarca da casa Stark cujas terras situavam-se no norte de Westeros. Era a região mais gelada dos Sete Reinos e a prolongada duração do verão anunciava um inverno ainda mais duradouro e rigoroso. Além disso, a família Stark era a mais próxima da Muralha que protegia Westeros dos "Outros", uma tribo selvagem que não trazia novos incidentes há milhares de anos, mas cuja crença ainda era a de que existiam. A tarefa de vigia cabia aos membros da Patrulha da Noite, formada por homens com votos permanentes que os diferenciavam dos demais guerreiros, dentre eles o filho bastardo de Ned, Jon Snow.
            A atribuição de Mão do Rei fazia com que seu detentor servisse ao soberano, comandasse seus exércitos e o aconselhasse em suas decisões, detendo quase que os mesmos poderes para governar. Após tomar conhecimento da morte de Jon Arryn, a Mão anterior, que exercera o cargo durante 14 anos, a comitiva do rei - formada pelo Rei Robert Baratheon, sua esposa Cersei Lannister, o irmão dela e comandante militar, Jaime, e os filhos do casal, com destaque para o herdeiro Joffrey - vai a Winterfell e Robert convida o amigo Eddard Stark para assumir a função. Eddard aceita, mesmo confuso sob a desaprovação de sua esposa Catelyn Stark, e logo segue viagem junto acompanhado das filhas Sansa (uma garota requintada) e Arya (a mais rebelde de todas) rumo à capital dos Sete Reinos, Porto Real, onde vivia o rei.
            Em outras terras dos Sete Reinos, além do Mar Estreito, a princesa Daenerys Targaryen havia sido prometida em casamento ao senhor dos guerreiros nômades (dothrakis), Khal Drogo. Daenerys e seu irmão Vyseris intencionavam organizar um exército para conquistar o Trono de Ferro de Porto Real. Drogo engravida Daenerys, consumando uma união histórica entre os dois povos. Uma profecia ditava que o filho dos dois viria para unir os dothraki e governar o mundo
            Em Porto Real, Eddard é alertado de que havia fortes indícios de que Jon Arryn fora assassinado mediante envenenamento por lágrimas de Lys. Alheio a isso, o Rei Robert manda organizar jogos comemorativos para saudar o novo Mão do Rei. Paralelamente, a filha de Eddard, Sansa, alimenta sua paixão pelo futuro herdeiro do trono, Joffrey, enquanto a pequena Arya prossegue em seus treinamentos com espada, autorizada pelo pai. Ares de conspiração eram cada vez mais claros em Porto Real e a rainha Cersei, apoiada pelo irmão Jaime, faria de tudo para que os Stark perdessem sua primazia e os Lannister dominassem o trono que tanto ambicionavam. As reviravoltas da história são muitas e a maior guerra de todos os tempos estava apenas começando...
            No que diz respeito à variedade de personagens, gênese dos Sete Reinos, desenvolvimento da trama com fatos intercalados, fornecimento dos elementos da geografia do espaço (mapas), árvore genealógica dos personagens, linguagens próprias, e muitos outros elementos, a obra se aproxima bastante do trabalho de maior sucesso do inglês J. R. R. Tolkien. Contudo, vale a pena salientar algumas diferenças peculiares que também as distanciam: em O Senhor dos Aneis, nos três livros a trama desenvolve-se baseada objetivo de Frodo em destruir o Anel de Poder. Em Crônicas do Gelo e Fogo, a princípio, não há um objetivo claro, de forma que esse primeiro livro, parece ser como que uma explicação detalhada dos acontecimentos que antecedem ao que continuará a ser desenvolvido nos outros livros: a guerra entre os reinos. Falando a respeito da ficção, mesmo ambas as séries sendo do gênero de literatura fantástica, a série de George Martin possui personagens mais reais, cujos trajes assemelham-se muito àqueles da Idade Média, muito diferente dos orcs, elfos, hobbits, homens e anões de Tolkien.  Outro ponto importante em que essa série destaca-se está no quesito extensão. Crônicas de Gelo e Fogo possui livros enormes com acontecimentos vários: são sete volumes gigantes enquanto que a saga de Tolkien ocorre em três partes. Tolkien escreve uma história infanto-juvenil enquanto George Martin impõe certa censura, já que abusa das cenas de sexo, violência, traição e tudo o mais que não é aconselhado a leitores mirins. Porém ambas as sagas merecem o devido respeito e possuem um lugar de destaque no pódio da literatura contemporânea, de forma que seus autores serão imortalizados pela audácia em escrever com tanta perspicácia o mundo fantástico formulado em suas mentes.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:     Guerra dos Tronos, A
Autoria:   George R. R. Martin
Editora:   Leya
Ano:        2010
Local:      São Paulo
Edição:    
Série:      Crônicas de Gelo e Fogo - Livro I
Gênero:   Ficção fantástica

Confira o trailer da adaptação para a série televisiva produzida pela HBO:

terça-feira, 9 de junho de 2015

Como viver a dois (Allan & Barbara Pease)


            A vida dos casais heterossexuais é marcada por situações, muitas vezes cômicas, em virtude das diferenças existentes no modo de ser entre homens e mulheres. Como isso, hábitos, comportamentos, preferências e decisões muitas vezes se chocam de maneira inteiramente divergente. Aprender a conciliar as diferenças em prol do compromisso assumido de viver junto com o outro pode ser a chave-mestra para uma relação saudável e duradoura. Contudo, alcançar esse objetivo pode parecer bem mais complicado do que se imagina...
            Quando o assunto é relacionamento, essa palavra soa de formas diferentes aos ouvidos de homens e mulheres. Isso porque o convívio com o parceiro (a) requer muito mais do que o comprometimento afetivo. Trata-se de construir algo juntos, desde a enfadonha divisão das tarefas do lar até a constituição do sentido relacional em ser família. Com isso, os casais experimentam situações inusitadas no dia a dia que, podem arrancar gostosas risadas ou mesmo apimentar acaloradas discussões. Por que os homens tem o hábito de não abaixar a tampa do vaso sanitário? Por que as mulheres demoram tanto quando vão sair de casa? Por que os homens não largam o controle remoto e, pior que isso, ficam trocando de canal o tempo todo? Por que as mulheres falam tanto quando se juntam a outras? Por que os homens são tão fissurados em esportes? Por que as mulheres encaram a tarefa de interpretar um mapa como se estivessem desvendando o genoma de uma cadeia de DNA? Por que os homens são incapazes de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo? Por que as mulheres gostam tanto de serem ouvidas mas quase nunca se fazem compreender acerca do que realmente pretendem com a conversa? Essas são algumas das interessantes pistas que os autores pretendem abordar.
            Os diferentes assuntos tratados na obra, para além de seu caráter humorístico, visam demonstrar que, tanto homens quanto mulheres tem muito a aprender com o parceiro. Muitos dos comportamentos assumidos por um e outro são pautados pela herança biológica herdada com a evolução. Para isso, importa estar sempre atento à correção de alguns maus costumes ou mesmo buscar entender o outro em seus momentos e costumes, digamos, "bizarros". Desta forma, tem-se um caminho para evitar aquilo que constantemente é alvo de discussões, desmitificando a ideia de que é impossível compreender um ao outro pois são muito diferentes entre si.
            A obra é constituída de pequenas frases, como também ricamente ilustrada com figuras que expressam situações diárias e comuns a maioria dos casais. Cada capítulo traz um tema, com diferentes abordagens da vida a dois. Contudo, para aqueles que já leram uma ou outra obra dos autores, o livro apresentará várias repetições de assuntos já desenvolvidos em outros trabalhos. Mesmo assim, vale a pena ler, aprender e dar algumas risadas com esse pequeno guia divertido para o bom convívio e o sucesso no relacionamento.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:     Como viver a dois
Autoria:   Allan Pease / Barbara Pease
Editora:   Sextante
Ano:        2011
Local:      Rio de Janeiro
Edição:    
Gênero:   Comportamento