quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Uma Breve História do Mundo (Geoffrey Blainey)

            O autor dessa obra tem uma proposta ousada: condensar milhares de anos e acontecimentos em um único livro. O resultado é uma narrativa agradável, completa e abrangente, muito útil para quem deseja uma noção do todo da humanidade através dos séculos.
            Mais do que uma ordem cronológica rigorosa, o autor opta por abordar fases da evolução humana, a partir de sua ação na historicidade. Os primeiros passos devem ter sido dados na África, há 2 milhões de anos, por seres não essencialmente humanos, mas em evolução. Divididos em pequenos grupos, a vida nômade foi fundamental para a preservação da espécie pelo mundo e a descoberta do fogo, juntamente com o manuseio de ferramentas, algo determinante para a evolução. Os humanos transitaram por toda a Pangéia (quando os continentes formavam um só) e se espalharam por suas regiões. O desenvolvimento de técnicas de agricultura favoreceu para que a espécie fosse abandonando aos poucos a vida nômade, de forma que, nessa transição coexistiram dois grupos: nômades X perenes. Além do mais, o derretimento das geleiras e a elevação dos níveis dos mares (por volta de 15000 a.C.) promoveram transformações que ditaram novas formas de vida e sobrevivência. A espécie evoluía para um homo sapiens que se organizava em civilizações, à medida que o cérebro aumentava de tamanho. Conforme estudos, tal aumento estava intrinsecamente associado ao desenvolvimento da inteligência e a linguagem talvez tenha sido a maior e mais útil invenção humana.
            As culturas grega e romana trouxeram influências tão significativas para a história mundial que seus reflexos duram até os dias atuais. Seus lampejos estão nas artes, política, filosofia, engenharia, arquitetura e nas religiões milenares. Houve um tempo em que os impérios romano e chinês foram as duas maiores potências, sendo que o primeiro viria a se tornar a maior civilização do ocidente por muitos anos. Somente o cristianismo e as invasões recorrentes viriam a ocasionar sua ruína e queda consequente.
            O desejo de espalhar a mensagem religiosa (principalmente do budismo e cristianismo) impulsionou o trabalho da imprensa e seu advento. Era a faísca para que a circulação da informação estourasse por todos o mundo. Ademais, as viagens e descobertas de novas terras feitas por Cristóvão Colombo e Vasco da Gama no século XV foram algo jamais repetido na história mundial, pelo impacto que produziram. Com a descoberta das colônias americanas disseminou-se um verdadeiro “supermercado” pelo Atlântico. Produtos e animais eram levados e trazidos para as Américas. Acredita-se que até mesmo doenças como a sífilis teriam vindo como os colonizadores. Paralelamente o mundo europeu sofria a transformação que a Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero e João Calvino provocaram, exigindo da Igreja Católica uma revisão na prática de sua doutrina.
            A consolidação do imenso território norte-americano e as diversas colônias inglesas foram fatores preponderantes para tornarem o inglês a língua mais falada no mundo. Os Estados Unidos surgiram como a potência ocidental e a União Soviética como a potência oriental. Tamanho poder conduziria a disputas sangrentas como a Primeira Guerra Mundial (conflito essencialmente europeu) e a Segunda Guerra Mundial (conflito mundial dividido entre dois campos: um na Ásia, outro na Europa).
            Os tópicos até então abordados são uma amostra dos fatos analisados por Blainey. O livro aborda a história contada na visão de um único historiador, de forma breve, porém riquíssima. Um jeito suave de aprender acerca dos passos da humanidade e os valores que conduziram o ser humano em sua evolução.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:   Uma Breve História do Mundo
Autoria: Geoffrey Blainey
Editora: Fundamento Educacional
Ano:      2008
Local:    São Paulo
Gênero: História

domingo, 14 de agosto de 2016

Os Mortos-vivos: o que nos tornamos (v.10) (Robert Kirkman)



            No universo “The Walking Dead” (título original da série) os pequenos grupos peregrinos nunca estão sozinhos. Vez ou outra eles se esbarram, na maioria delas, envoltos num clima hostil no primeiro encontro, ou até que se prove o contrário. Esse volume desenvolve o encontro ocorrido no último volume, em que Rick e seu grupo deparou-se com o trio formado por Eugene, Rosita e Abraham. Contudo, a decisão de formarem uma parceria parte do pressuposto revelado por Eugene, de que sabia exatamente os motivos que desencadearam o apocalipse zumbi e tinha condições de procurar vias de destruir definitivamente aquele mal.
Frente às revelações inéditas, Rick e seu grupo decidem acompanhar Eugene, Rosita e Abraham rumo a Washington. Durante uma vigília pelo caminho, após acordar de um pesadelo em que Lori subitamente se transforma em um zumbi e tenta o atacar, novamente Rick é acometido por seus delírios com o telefone, agindo como se a esposa estivesse do outro lado da linha. O dia amanhece e o grupo segue em frente, recolhendo alguns produtos em uma loja, mesmo cercados pelos zumbis. Ao observar o comportamento fraco de um errante, Eugene toma nota de seu modo de agir em relação aos demais. Para o cientista, os mortos-vivos parecem necessitar de alguma espécie de nutrição para manterem seus organismos animados. De volta para a estrada, durante mais uma noite de vigília, Gleen depara-se com uma imagem horripilante: Maggie suicidara por enforcamento.
Por um triz, Maggie é retirada e tem a vida salva. Contudo, uma discussão entre Rick e Abraham acerca da conveniência ou não atirar de uma vez na garota, evitando uma possível transformação, faz com que o orgulho de Abraham seja ferido. Para ele era extremamente difícil suportar alguém lhe dando ordens. Por pouco ele não mata Rick, quando este estava sendo atacado por um zumbi...
Diante da proximidade, Rick tem a ideia de ir até o local onde morou a fim de recolher alguns artefatos em um departamento, os quais seriam úteis diante de imprevistos na viagem. Dessa forma, o grupo novamente se divide e Rick, Carl e Abraham partem na nova busca. Durante a vigília de uma noite, o trio é atacado por outro trio, que se dizia dono da estrada e ameaçava abusar sexualmente de Carl. Esse fato acende a ira de Rick que eliminas os bandidos. Movido pela compaixão, Abraham decide contar como perdeu sua família.
Abraham conta sua história marcada por desastres a Rick. Ele tivera a esposa e a filha estupradas ao confiar em vizinhos, no início da praga. Ao chegarem ao local onde era a residência de Rick, ele se depara com um velho conhecido, Morgan, que também o reconhece. Rick toma conhecimento da transformação de seu filho Duane e, ao ver que ele mantinha a criança-zumbi em cárcere, convence-o a terminar com aquele sofrimento e juntar-se a eles na jornada. Enquanto isso o grupo que ficou no acampamento busca um local mais seguro e confortável para aguardarem o retorno de Rick e os outros.
Morgan apresenta sinais de delírio que causam espanto em Rick e Abraham. Mesmo assim, eles seguem seu curso e encontram o local onde Rick dissera haver armamento e munição. No retorno, o trio depara-se com uma manada que os cerca e os faz armarem um plano de fuga emergencial. Enfim, conseguem encontrar o acampamento onde o resto do grupo ficou. Devido à proximidade da manada, todos devem novamente colocar o pé na estrada em busca de um novo local para se instalarem.
            Fazendo jus ao tema do volume, temos a abordagem de uma questão moral que enseja um pouco de reflexão: a súbita mudança provocada pelo apocalipse zumbi justifica a manutenção de antigos padrões morais? O tratamento dado às pessoas queridas que se tornam ameaças ao se transformarem, devendo serem impiedosamente eliminadas, justificaria também um comportamento agressivo para com os seres humanos “sãos” que assumem atitudes hostis e até mesmo danosas aos outros? “O que nos tornamos” reflete um pouco sobre essa questão muito mais instintiva do que moral no cenário que foi instalado e o conflito do episódio de quase suicídio de Maggie é um exemplo.
Pela primeira vez o questionamento acerca do que teria originado a multiplicação dos mortos-vivos é abordado. Dessa forma, os autores parecem inaugurar uma nova temporada, mudando o escopo dos objetivos. Se antes a principal razão para se manterem vivos eram os laços afetivos, agora a questão da busca pelas vias de eliminação da praga passam a ter caráter primordial na missão dos sobreviventes. Todavia, ainda não há razões suficientemente verídicas de que o cientista Eugene de fato saiba algo a respeito de tudo o que aconteceu. E num reino de mentiras que causaram tamanha destruição nas vivências daqueles personagens, essa pode ser somente mais uma delas...

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Mortos-vivos, Os
Subtítulo: o que nos tornamos (v.12)
Autoria:    Robert Kirkman / Charlie Adlard
Editora:    HQM Editora
Ano:         2013
Local:       São Paulo
Série:       Mortos-vivos, Os - Volume XII
Gênero:   Zumbi | Suspense | História em quadrinhos

Confira um trecho da série lançada pela AMC:


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

O Dragão de Gelo (George R. R. Martin)

            Autor da série Crônicas de Gelo e Fogo (adaptada para um seriado sob o título de Game of Thrones), George Martin traz nesse livro uma obra voltada mais para o público infantil. Consequentemente, o estilo do autor foi perfeitamente adaptado para os pequenos, enriquecendo ainda mais a história com ilustrações cuidadosamente trabalhadas pelo artista espanhol Luis Royo para que um pouco do rico imaginário do autor seja contado às crianças.
            Adara era uma garotinha que vivia com o pai e seus irmãos mais velhos Geoff e Teri em uma aldeia. Mais que tudo, ela adorava o inverno e se divertia a brincar com os lagartos de gelo. Era uma criança diferenciada, nascida durante o mais rigoroso inverno de que se tinha notícia e que, inclusive, havia ceifado a vida de sua mãe, logo após lhe dar à luz. Encantava-se com o Dragão de Gelo, uma criatura lendária e temida por todos, uma vez que, por onde passava, espalhava um frio tão intenso que a tudo congelava. Ainda pequena, Adara vira o Dragão de Gelo e passeara montada em suas asas, selando uma amizade eterna.
            Certo dia, seu tio Hal – um dos cavaleiros do rei - chegou trazendo a notícia de que o exército inimigo se fortalecera e um novo ataque era iminente. Mesmo sob aquela advertência, o pai de Adara decidiu permanecer onde estava, levando em conta todas as experiência por que tinha passado naquele lugar, de forma que ele se tornara especial. Adara se rejubilou com a decisão do pai, uma vez que sua maior preocupação era ter de ficar distante do Dragão de Gelo.
            O Dragão de Gelo aproxima-se muito mais de um conto do que de simples história voltada para crianças. Enquanto os pequenos irão apenas se encantar com a vida de Adara e sua amizade com o dragão, um olhar mais profundo poderá viajar por outras mensagens. Adara é uma menina ressentida pela perda da mãe e introvertida em decorrência disso. Tal fato instalara certa frieza em seu coração, talvez uma marca do próprio ambiente em que vivia e do contexto que vitimou sua mãe. Por outro lado, seu encantamento com o Dragão de Gelo é o elemento chave que a torna uma criança cujo coração congelado pela dor é aquecido pela força de uma amizade sem precedentes. Daí pode-se extrair a mensagem da importância dos laços afetivos na superação de traumas capazes de esfriar a chama de vida que as crianças possuem. Olhando por esse lado, pode-se afirmar que Adara e o Dragão de Gelo ocupam o centro de toda a história sem que, no entanto, um seja mais protagonista do que o outro, visto que o tema da amizade é a espinha dorsal em que a história se desenvolve. Pode-se dizer que a obra segue uma tendência de inovação no que diz respeito ao gênero fábula. Enquanto as já consagradas histórias de Branca de Neve e os Sete Anões, Cinderela, A Bela e a Fera, etc., enalteciam a beleza do romantismo que supera até mesmo a morte, novos autores como Joanne K. Rowling, Tolkien e George Martin destacam a importância da amizade na superação dos problemas da vida, sob o ambiente da literatura fantástica.
            A obra em questão foi publicada muito tempo antes da série que consagrou George Martin como um dos mais influentes escritores dos tempos modernos, de forma que muitos críticos a consideram como um esboço do que viria a surgir depois. Nela é possível visualizar os elementos que o autor mais aprecia em suas obras: dragões, cenários invernais, batalhas fantásticas, criaturas mitológicas, etc.. Enfim, trata-se de um excelente começo antes que as crianças se interessem por mergulhar no denso mundo de gelo e fogo.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:   Dragão de Gelo, O
Autoria: George R. R. Martin
Editora: Leya
Ano:      2014
Local:    São Paulo
Gênero: Conto | Fábula