sábado, 26 de março de 2016

A Revolução dos Bichos (George Orwell)



            Originalmente lançado em 1945 esse livro se enquadra na lista dos livros mais influentes de todos os tempos e leitura obrigatória no rol dos clássicos mundiais. Como seu próprio autor se referiu, trata-se de um "conto de fadas" da vida real, onde a história visa fazer uma crítica ao sistema político dominante, focado na Revolução Russa de 1917.
            O Major era um velho porco de uma fazenda que, às vésperas de sua morte revela a todos os animais o sonho que teve: o dia em que os animais finalmente se libertariam do jugo de dominação dos humanos. A ideia logo contagiou a todos que cantaram em uníssono o hino da revolução "Bichos da Inglaterra". Porém o destino fora ingrato com o Major, que morreu três dias depois, ficando a missão de liderar a revolução para os porcos Bola-de-Neve e Napoleão, que se julgavam mais inteligentes que os outros animais. A tomada do controle da fazenda se deu quando o proprietário Sr. Jones esqueceu-se de alimentar os bichos, de forma que foi expulso de suas terras. A Granja do Solar era agora a Granja dos Bichos e os animais selaram seu triunfo com a edição de sete mandamentos que encerravam os Princípios do Animalismo e deveriam ser observados por todos. Porém, para aqueles animais menos astutos bastaria compreender um único mandamento o qual rezava: "Quatro pernas bom, duas pernas ruim".
            Os humanos tentaram a retomada da fazenda naquela que ficou conhecida como Batalha do Estábulo. O porco Bola-de-Neve lutara bravamente para assegurar o domínio dos animais e tivera a ideia de construir um moinho de vento que garantisse aos animais a energia que necessitavam para que a fazenda progredisse. O porco Napoleão, inflado de inveja pelo sucesso do companheiro, dissemina ideias de que ele era um traidor e expulsa Bola-de-Neve da fazenda, tornando-o inimigo número um dos animais e apropriando-se de suas melhores ideias. Napoleão também promove modificações sutis nos Princípios do Animalismo, de forma que os porcos dirigentes da fazenda teriam regalias não estendidas aos outros bichos. A principal justificativa, incrivelmente aceita por todos, era de que os porcos gastavam muita energia com o trabalho intelectual de buscar melhorias para todos. Daí a necessidade de que tivessem mais conforto.
            O cenário que sucede os fatos é o dos animais que trabalham duro na construção do moinho, principalmente o cavalo Sansão cujas máximas mais famosas eram "Napoleão tem sempre razão" e "Trabalharei ainda mais". O moinho chega a ser terminado por duas vezes e também destruído por duas vezes devido às investidas dos humanos que não davam crédito à sagacidade dos animais. Enfim, o episódio mais marcante da história é quando as forças de Sansão se esgotam e, sob as alegações de que seria levado para tratamento da saúde, os porcos o entregam a um abatedouro de cavalos para livrarem-se definitivamente daquele inútil e inservível animal.
            A obra de Orwell questiona diretamente o eterno conflito entre aristocracia e proletariado expresso nas ideias do pensador Karl Marx. Ela reflete o contexto de dominação de uma classe sobre a outra bem como a cegueira do lado mais fraco que cede ao fardo que os porcos impõem sobre os ombros dos animais. O cavalo Sansão é a representação perfeita da exploração em cima do trabalhador que não possui qualquer valor, principalmente quando está mais debilitado. O ápice dessa dominação é incrivelmente retratado no episódio final, quando os animais veem pela janela o interior da casa do Sr. Jones, onde os porcos festejavam com os senhores Frederick e Pilkington, donos das granjas vizinhas, um acordo que haviam celebrado. Essa cena emblemática é o ápice de toda a obra e sua conclusão, onde era difícil distinguir se os porcos tinham virado homens ou se eram os homens que tinham virado porcos.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Revolução dos Bichos, A
Subtítulo: um conto de fadas
Autoria:    George Orwell
Editora:    Companhia das Letras
Ano:         2007
Local:       São Paulo
Edição:     1ª
Gênero:    Sátira
 
Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 1999:

quarta-feira, 16 de março de 2016

O Restaurante no Fim do Universo (Douglas Adams)


"Existe uma teoria que diz que, se um dia alguém descobrir exatamente para que serve o Universo
e por que ele está aqui, ele desaparecerá instantaneamente e será substituído por algo ainda mais estranho e inexplicável.
Existe uma segunda teoria que diz que isso já aconteceu."


            A nave Coração de Ouro voa pelo espaço sideral tendo a bordo Zaphod Beeblebrox, Trillian, Marvin (com uma melancolia contagiante!), Ford Prefect e Athur Dent, o único humano entre a tripulação. Contudo, enquanto os viajantes se incomodam com um computador que não sabe fazer um chá ao gosto do terráqueo, uma nave Vogon furtivamente se aproxima para destruir por completo a Coração de Ouro. Embora a destruição parecesse iminente e inevitável, os tripulantes conseguem se livrar do perigo, indo parar no Milliways, mais conhecido como o restaurante no fim do universo.
            Nesse local absurdo, Douglas Adams, com um toque refinado de bom humor já convida para um paradoxo: como conceber um fim para o universo, já que ele é absurdamente grande, encerrando em si a melhor ideia do que é uma coisa infinita? O Milliways é uma resposta a essa intrigante pergunta: um local construído a partir dos fragmentos do planeta onde se encontra, fechado numa bolha do tempo e projetado em direção ao futuro exatamente para o momento preciso do fim do universo. Na verdade, ele era o local onde um seleto grupo de espectadores apreciaria os momentos finais de todo o universo, com uma visão privilegiada, drinques para brindar esse grande momento da história e bois suculentos que se oferecem para serem comidos. Era um oásis que desafiava qualquer gramático a encontrar a conjugação perfeita para os verbos naquele exato momento onde o futuro já era um presente passado. Enfim, nossos tripulantes haviam embarcado numa verdadeira odisseia através do tempo, indo ao seu fim, bem como a outros períodos da história.
            Imbuído de sua personalidade ensimesmada, Zaphod Beeblebrox ansiava por encontrar o homem que comandava o universo. Quanto o encontra, tem diante de si um homem profundamente cético e alheio ao curso das coisas, aparentemente sem nenhum objetivo definido para a complexa máquina que criara. A história rapidamente passa para a busca da questão fundamental da vida, do universo e de tudo mais, já abordada no primeiro volume da série. Como a resposta fornecida pelo Pensador Profundo (42!) não havia satisfeito, e diante do fato de que o fundamental seria descobrir a pergunta para essa resposta, auxiliados pelos homens das cavernas, nossos viajantes finalmente encontram essa pergunta, mas ficam embasbacados por simplesmente não compreenderem simplesmente nada do que possa significar. Essa é a ponte para a sequência que virá com o terceiro livro.
            Embora cômico do início ao fim, O Restaurante no Fim do Universo não é um livro facilmente compreensível, uma vez que trata de questões profundamente filosóficas em uma trama que rompe com qualquer "enlatado literário" dos tempos atuais. Um leitor mais atento, verá que Adams continua tecendo uma crítica da sociedade e suas valores, principalmente no episódio da nave do planeta Golgafrinchan, onde haviam sido reunidas pessoas cujas profissões eram as mais "inúteis" possíveis e cuja nave fora enviada para se chocar com o planeta Terra e povoá-lo. Outras partes simplesmente ressaltam sua louvável criatividade, como a banda que terminava seus shows sempre com uma explosão de uma nave lançada de encontro ao sol e cujo som era tão incrivelmente avassalador, que toda a aparelhagem de som foi colocada em outro planeta bem distante do público. 

REFERÊNCIA LITERÁRIA

Título:   Restaurante no Fim do Universo, O
Autoria: Douglas Adams
Editora: Arqueiro
Ano:      2010
Local:    São Paulo
Série:    Mochileiro das Galáxias, O - Livro II
Gênero: Ficção científica | Nosense

domingo, 6 de março de 2016

Zoo (James Patterson / Michael Ledwidge)


         Existem diversas teorias apocalípticas que buscam explicitar os eventos que farão com que o mundo seja totalmente destruído e a humanidade finalmente seja exterminada. Na literatura e no cinema são inúmeras as produções nesse sentido, mas muitas delas acabam por tornar-se meras versões de um causa comum que pode ser fenômenos naturais, invasões alienígenas, acidentes nucleares, infestação de zumbis, etc.. Essa obra não deixa de apontar para um possível fim da humanidade, porém inova na forma como esses acontecimentos ocorrerão de modo inédito.
            Jackson Oz é o pesquisador de uma teoria que o mundo científico repudiava veementemente por considerá-la improvável diante dos fatos. Biólogo que era vinha observando o comportamento de várias espécies de animais pelo mundo todo e percebia que os hábitos de algumas sociedades vinham se alterando radicalmente nos últimos anos. Certas espécies de animais estavam se agrupando em bandos cada vez mais selvagens e sua agressividade era percebida nos ataques fatais aos seres humanos que se tornavam cada vez mais comuns nos diversos países do planeta. Isso alimentava sua teoria do CAH ou Conflitos entre Animais e Humanos.
            Durante uma viagem à Botsuana na África, Oz e seu amigo são vítimas de um ataque de leões. O mais intrigante era que os felinos tinham uma estratégia inteligentemente elaborada, como se fossem um exército bem organizado e preciso em atacar seus alvos. Nesse incidente Oz conhece Chloe, que também fora vítima de um ataque. Oz e Chloe passam a trabalhar juntos na mesma teoria e a missão mais complicada para os dois seria convencer as autoridades da gravidade da situação que vinha se formando. Caso medidas emergenciais não fossem tomadas, poderia ser tarde demais.
            Oz recebeu atenção e credibilidade somente depois que a filha da presidente dos Estados Unidos fora brutalmente morta pelo animal de estimação da família. A investigação das causas de tamanha transformação no mundo animal era fundamental para traçar uma linha de ação. O governo já havia iniciado o extermínio de diversos animais cujo comportamento trazia insegurança à população, mas tamanha matança poderia ocasionar um desequilíbrio sem precedentes no ecossistema. Os cientistas trabalhavam com a hipótese de uma epidemia de raiva principalmente entre os mamíferos, mas tal hipótese não encontrava força, uma vez que era improvável que um vírus ou bactéria se espalhasse em tão pouco tempo pelo mundo, atingindo proporções alarmantes.
            Oz descobriu que as alterações comportamentais deviam-se a um distúrbio no nível de feromônios dos animais. Tal substância possibilitava a comunicação entre as espécies. A radiação eletromagnética e a poluição do meio ambiente eram os fatores que potencializaram a alteração dessa substância no cérebro dos animais, fazendo com que os instintos deles se voltassem contra aqueles que sempre os dominaram desde os primórdios da humanidade. Portanto, era urgente interferir diretamente nas causas desses dois agentes, principalmente no uso de celulares e veículos emissores de CO2. Porém, a humanidade estaria preparada para abrir mão de certas regalias em função de sua própria existência?
            A obra escrita por James Patterson em parceria com Michael Ledwidge foi adaptada para uma série televisiva produzida pela rede de televisão americana CBS, cuja primeira temporada foi lançada em 2015. A temática do enredo é interessante e o desenvolvimento do livro em capítulos curtos torna a leitura ainda mais empolgante. Contudo, a solução para a onda de ataques implantada primordialmente nos EUA é tratada de uma forma muito simplista perante as comodidades e dependências que os tempos atuais vivem. Imagine os habitantes do país mais poderoso do mundo deixarem de usar seus veículos e telefones celulares por três dias em prol da paz e harmonia mundial entre o homem e a natureza... Mais do que uma ideia ironicamente absurda é a velha concepção de que a salvação do mundo começa pelos bons exemplos dos norte-americanos. O desfecho da obra também deixa em aberto o fim da história, o que faz o leitor desejar uma continuação em breve.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:    Zoo
Autoria:  James Patterson / Michael Ledwidge
Editora:  Arqueiro
Ano:       2015
Local:     São Paulo
Gênero:  Drama | Suspense

Confira o trailer da série lançada em 2015: