De todos os títulos da nostálgica
Coleção Vaga-lume, talvez seja esse um dos mais célebres, especialmente porque
foi adaptado para telenovelas por quatro vezes, sendo a mais famosa aquela que
foi ao ar pela emissora Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), em 1994.
Nos anos iniciais do século XX, Dona
Lola e o marido Sr. Júlio começavam a formar seu núcleo familiar com o nascimento
do primeiro filho: Carlos. Haviam saído de Itapetininga e foram morar em São
Paulo, levando na bagagem a esperança de melhorias com maiores oportunidades de
emprego. Com o passar dos anos, outros três filhos vieram: Alfredo, Julinho e
Isabel. Para garantir o sustento de toda a família e conseguir quitar as
parcelas da casa nova, Júlio trabalhava em uma loja enquanto Lola atendia a
encomendas de doces.
A obra é inteiramente narrada em
primeira pessoa pela protagonista, Dona Lola. Portanto, trata-se de um livro de
memórias de um período de mais ou menos vinte anos de sua família. Eventos do
cotidiano, amenidades, comemorações familiares e viagens são as memórias boas
que ficaram marcadas no espírito de Lola. Contudo, a vida dera duros golpes
logo nos primeiros anos da educação dos filhos, sendo os mais doloridos a morte
de sua mãe em Itapetininga e a perda do marido, vítima de uma úlcera. Desde
então, Lola passa a ser a imagem da mãe guerreira responsável pela criação dos
quatro filhos, sendo ajudada principalmente por Tia Candoca e pela vizinha,
Dona Genu.
Após a morte de Júlio, a família
passara por sérias dificuldades financeiras. Carlos e Alfredo começaram a
trabalhar para ajudar a mãe, como também para que Julinho e Isabel pudessem
continuar os estudos. Nessa labuta, a personalidade de cada um vai se
exteriorizando: Carlos era o filho estudioso, obediente e dedicado inteiramente
à família; Alfredo era rebelde, deixando empregos bons a contragosto da mãe e
do irmão, além de envolver-se com grupos que nutriam ideiais comunistas;
Julinho era dado aos negócios e tornar-se-ia o primeiro filho a sair de casa,
indo morar no Rio de Janeiro por causa de uma boa oferta de emprego; Isabel
recebia o maior investimento em termos de educação para que se tornasse professora.
Dona Lola era uma mãe tradicional que aconselhava os filhos sobre o que pensava
ser o melhor para eles, além de preocupar-se bastante com a imagem social de
sua família. Tamanha dedicação, no entanto, não receberia o mesmo grau de
correspondência de todos eles. E é justamente por causa dos diversos ideiais da
juventude, somado às ciladas da vida, que vemos Dona Lola cada vez mais só,
levando a compreender o acertado título dessa obra magnífica: Éramos Seis. Como uma mulher forte, ela
representa todas as mães que veem sua família se acabar pouco a pouco,
deixando-as solitárias e reféns das lembranças nostálgicas de um passado bom.
Muito embora o sucesso obtido ao se
popularizar com a telenovela, principalmente numa época em que as televisões
tornavam-se um eletrodoméstico cada vez mais cobiçado e acessível aos
brasileiros, a importância dessa obra resulta também no fato de que ela é uma
imagem de grande parte das famílias dos anos 80, 90, com seus dramas e
conquistas. Importante observar também que, em um país cujo analfabetismo era
bastante alto, “assistir” a um livro era a maneira mais acessível de absorver o
seu conteúdo. O fenômeno do êxodo rural ocasionara a migração de diversas
famílias do campo para as cidades, em busca de melhores oportunidades. Com
isso, tais núcleos familiares viviam nas cidades mas, vez ou outra, visitavam
os parentes que ficaram no interior. A educação também era o grande trunfo para
garantir o bom futuro dos jovens e, se formar um filho no colegial já era
motivo de orgulho, quanto mais vê-lo obtendo um diploma de ensino superior, o
que representava até mesmo um novo status social. Vemos ainda a questão dos
bens materiais, de forma que um dos medidores do sucesso financeiro era
conseguir comprar um veículo. Portanto, se confrontarmos essa história com os
sonhos de muitos brasileiros que assistiam encantados a adaptação dessa obra
fantástica, veremos a carga de esperança que ela despertava, fazendo com que se
tornasse, mais do que um grande sucesso, um ideal a ser vivido.
REFERÊNCIA
LITERÁRIA
Título: Éramos Seis
Autoria: Maria José Dupré
Editora: Ática
Ano: 1987
Local: São Paulo
Edição: 30ª
Série: Coleção Vaga-lume
Gênero: Drama
Confira o 1º capítulo da novela lançada pelo SBT:
excelente post!
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