segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Éramos Seis (Maria José Dupré)

            De todos os títulos da nostálgica Coleção Vaga-lume, talvez seja esse um dos mais célebres, especialmente porque foi adaptado para telenovelas por quatro vezes, sendo a mais famosa aquela que foi ao ar pela emissora Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), em 1994.
            Nos anos iniciais do século XX, Dona Lola e o marido Sr. Júlio começavam a formar seu núcleo familiar com o nascimento do primeiro filho: Carlos. Haviam saído de Itapetininga e foram morar em São Paulo, levando na bagagem a esperança de melhorias com maiores oportunidades de emprego. Com o passar dos anos, outros três filhos vieram: Alfredo, Julinho e Isabel. Para garantir o sustento de toda a família e conseguir quitar as parcelas da casa nova, Júlio trabalhava em uma loja enquanto Lola atendia a encomendas de doces.
            A obra é inteiramente narrada em primeira pessoa pela protagonista, Dona Lola. Portanto, trata-se de um livro de memórias de um período de mais ou menos vinte anos de sua família. Eventos do cotidiano, amenidades, comemorações familiares e viagens são as memórias boas que ficaram marcadas no espírito de Lola. Contudo, a vida dera duros golpes logo nos primeiros anos da educação dos filhos, sendo os mais doloridos a morte de sua mãe em Itapetininga e a perda do marido, vítima de uma úlcera. Desde então, Lola passa a ser a imagem da mãe guerreira responsável pela criação dos quatro filhos, sendo ajudada principalmente por Tia Candoca e pela vizinha, Dona Genu.
            Após a morte de Júlio, a família passara por sérias dificuldades financeiras. Carlos e Alfredo começaram a trabalhar para ajudar a mãe, como também para que Julinho e Isabel pudessem continuar os estudos. Nessa labuta, a personalidade de cada um vai se exteriorizando: Carlos era o filho estudioso, obediente e dedicado inteiramente à família; Alfredo era rebelde, deixando empregos bons a contragosto da mãe e do irmão, além de envolver-se com grupos que nutriam ideiais comunistas; Julinho era dado aos negócios e tornar-se-ia o primeiro filho a sair de casa, indo morar no Rio de Janeiro por causa de uma boa oferta de emprego; Isabel recebia o maior investimento em termos de educação para que se tornasse professora. Dona Lola era uma mãe tradicional que aconselhava os filhos sobre o que pensava ser o melhor para eles, além de preocupar-se bastante com a imagem social de sua família. Tamanha dedicação, no entanto, não receberia o mesmo grau de correspondência de todos eles. E é justamente por causa dos diversos ideiais da juventude, somado às ciladas da vida, que vemos Dona Lola cada vez mais só, levando a compreender o acertado título dessa obra magnífica: Éramos Seis. Como uma mulher forte, ela representa todas as mães que veem sua família se acabar pouco a pouco, deixando-as solitárias e reféns das lembranças nostálgicas de um passado bom.
            Muito embora o sucesso obtido ao se popularizar com a telenovela, principalmente numa época em que as televisões tornavam-se um eletrodoméstico cada vez mais cobiçado e acessível aos brasileiros, a importância dessa obra resulta também no fato de que ela é uma imagem de grande parte das famílias dos anos 80, 90, com seus dramas e conquistas. Importante observar também que, em um país cujo analfabetismo era bastante alto, “assistir” a um livro era a maneira mais acessível de absorver o seu conteúdo. O fenômeno do êxodo rural ocasionara a migração de diversas famílias do campo para as cidades, em busca de melhores oportunidades. Com isso, tais núcleos familiares viviam nas cidades mas, vez ou outra, visitavam os parentes que ficaram no interior. A educação também era o grande trunfo para garantir o bom futuro dos jovens e, se formar um filho no colegial já era motivo de orgulho, quanto mais vê-lo obtendo um diploma de ensino superior, o que representava até mesmo um novo status social. Vemos ainda a questão dos bens materiais, de forma que um dos medidores do sucesso financeiro era conseguir comprar um veículo. Portanto, se confrontarmos essa história com os sonhos de muitos brasileiros que assistiam encantados a adaptação dessa obra fantástica, veremos a carga de esperança que ela despertava, fazendo com que se tornasse, mais do que um grande sucesso, um ideal a ser vivido.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:   Éramos Seis
Autoria: Maria José Dupré
Editora: Ática
Ano:      1987
Local:    São Paulo
Edição:  30ª
Série:    Coleção Vaga-lume
Gênero: Drama

Confira o 1º capítulo da novela lançada pelo SBT:


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