A vida no século XXI
está cheia de revezes que lançam as pessoas em conflitos existenciais dos
quais, muitas vezes, não dão conta por si mesmas. Nesse ínterim, surgem as
diversas abordagens terapêuticas oriundas da psicologia, psicanálise e
tradições orientais. A proposta da autora desse livro é apresentar a Filosofia
Clínica como uma alternativa para aqueles que buscam compreender melhor seu
modo de ser no mundo, bem como a gama de questões que permeia sua existência.
Tradicionalmente, a
filosofia sempre abordou as questões mais profundas do ser humano, uma vez que
transita pelas diversas áreas: cosmologia, existencialismo, analítica da
linguagem, epistemologia, lógica, ciência e etc.. O papel do ser humano
enquanto ser pensante ocupa uma posição privilegiada no processo de
conhecimento, já que é ele o protagonista da atividade racional, sempre visando
conhecer melhor a si mesmo. Consequentemente, pode-se dizer que a filosofia
clínica, surge como uma recuperação desse papel original que a tradição
filosófica sempre exerceu, de retomada da reflexão acerca das dimensões que
abarcam a existência.
A sistematização da
filosofia para tratamento clínico vem ocorrendo desde 1971. Contudo, esse livro
aborda o método idealizado pelo filósofo brasileiro Lúcio Packter em 1994. Lúcio
buscava uma resposta à universalidade do tratamento das doenças que as pessoas
se queixavam, ao constatar que muitas delas não tinham origem biológica e sim
existencial. Dessa forma, cada pessoa possui um mundo próprio e uma forma
individual de relacionar-se com esse mundo. A historicidade visa identificar os
conceitos fundamentais que regem a existência, assim como sua gênese. Isso dirá
sobre como a movimentação existencial contribui para a constituição do universo
em que cada um se encontra. Partindo da historicidade do partilhante o filósofo
clínico tenta localizar a pessoa existencialmente e analisar como ela se
relaciona com os diversos componentes que moldam sua existência. Tal exame é
feito por meio de um método que relaciona três etapas básicas: 1ª) Exames das
categorias; 2ª) Estrutura de pensamento; 3ª) Análise dos submodos e suas
relações com a Estrutura de pensamento.
Em filosofia clínica,
cada pessoa é assumida como portadora de uma representação de mundo própria,
sem julgamentos do que seja considerado certo ou errado. Necessariamente, os
problemas reclamados devem ser tratados a partir do contexto em que se
encontram. Deve-se buscar a compreensão interna do problema relacionado com
toda a estrutura da pessoa e não de forma isolada. Em decorrência disso, essa
terapia descarta a classificação do partilhante como portador de alguma patologia
ou doença, já que tudo decorre de uma maneira diferente de se situar no mesmo
mundo, dando lugar a maneiras singulares de existência. Tal característica atribui
uma condição mais humana a essa abordagem terapêutica.
O papel da filosofia
não é a busca por respostas e sim o fomento à investigação reflexiva, de forma
que as respostas se construam por si mesmas. Assim, a aplicação do legado da
história da filosofia ao indivíduo é uma forma de direcionar toda uma gama de conhecimentos
para uma causa nobre e justa. Afinal, dentre as questões humanas está a
felicidade, e o melhor caminho para encontrá-la está na tomada de posse do próprio
existir.
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título: Como ler a Filosofia Clínica
Subtítulo: prática da autonomia do pensamento
Autoria: Monica Aiub
Editora: Paulus
Ano: 2010
Local: São Paulo
Série: Como ler Filosofia
Gênero: Filosofia | Terapia
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