domingo, 5 de junho de 2016

Como ler a Filosofia Clínica (Monica Aiub)

A vida no século XXI está cheia de revezes que lançam as pessoas em conflitos existenciais dos quais, muitas vezes, não dão conta por si mesmas. Nesse ínterim, surgem as diversas abordagens terapêuticas oriundas da psicologia, psicanálise e tradições orientais. A proposta da autora desse livro é apresentar a Filosofia Clínica como uma alternativa para aqueles que buscam compreender melhor seu modo de ser no mundo, bem como a gama de questões que permeia sua existência.
Tradicionalmente, a filosofia sempre abordou as questões mais profundas do ser humano, uma vez que transita pelas diversas áreas: cosmologia, existencialismo, analítica da linguagem, epistemologia, lógica, ciência e etc.. O papel do ser humano enquanto ser pensante ocupa uma posição privilegiada no processo de conhecimento, já que é ele o protagonista da atividade racional, sempre visando conhecer melhor a si mesmo. Consequentemente, pode-se dizer que a filosofia clínica, surge como uma recuperação desse papel original que a tradição filosófica sempre exerceu, de retomada da reflexão acerca das dimensões que abarcam a existência.
A sistematização da filosofia para tratamento clínico vem ocorrendo desde 1971. Contudo, esse livro aborda o método idealizado pelo filósofo brasileiro Lúcio Packter em 1994. Lúcio buscava uma resposta à universalidade do tratamento das doenças que as pessoas se queixavam, ao constatar que muitas delas não tinham origem biológica e sim existencial. Dessa forma, cada pessoa possui um mundo próprio e uma forma individual de relacionar-se com esse mundo. A historicidade visa identificar os conceitos fundamentais que regem a existência, assim como sua gênese. Isso dirá sobre como a movimentação existencial contribui para a constituição do universo em que cada um se encontra. Partindo da historicidade do partilhante o filósofo clínico tenta localizar a pessoa existencialmente e analisar como ela se relaciona com os diversos componentes que moldam sua existência. Tal exame é feito por meio de um método que relaciona três etapas básicas: 1ª) Exames das categorias; 2ª) Estrutura de pensamento; 3ª) Análise dos submodos e suas relações com a Estrutura de pensamento.
Em filosofia clínica, cada pessoa é assumida como portadora de uma representação de mundo própria, sem julgamentos do que seja considerado certo ou errado. Necessariamente, os problemas reclamados devem ser tratados a partir do contexto em que se encontram. Deve-se buscar a compreensão interna do problema relacionado com toda a estrutura da pessoa e não de forma isolada. Em decorrência disso, essa terapia descarta a classificação do partilhante como portador de alguma patologia ou doença, já que tudo decorre de uma maneira diferente de se situar no mesmo mundo, dando lugar a maneiras singulares de existência. Tal característica atribui uma condição mais humana a essa abordagem terapêutica.
O papel da filosofia não é a busca por respostas e sim o fomento à investigação reflexiva, de forma que as respostas se construam por si mesmas. Assim, a aplicação do legado da história da filosofia ao indivíduo é uma forma de direcionar toda uma gama de conhecimentos para uma causa nobre e justa. Afinal, dentre as questões humanas está a felicidade, e o melhor caminho para encontrá-la está na tomada de posse do próprio existir.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Como ler a Filosofia Clínica
Subtítulo: prática da autonomia do pensamento
Autoria:    Monica Aiub
Editora:    Paulus
Ano:         2010
Local:       São Paulo
Série:       Como ler Filosofia
Gênero:    Filosofia | Terapia

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