quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A Sabedoria de Gandhi (Richard Attenborough)



            Esse pequeno livro traz uma coletânea de mais de 150 trechos de cartas, textos, discursos e citações daquele que foi uma das figuras mais influentes do século XX, cuidadosamente selecionadas e reunidas por Richard Attenborough. Como cineasta, o organizador da obra também dirigiu um filme clássico – Gandhi (1982) - sobre o mesmo personagem, vencedor de 8 Oscars.
            Sistematicamente, o organizador classifica os pensamentos de Gandhi em cinco temas: dia-a-dia, cooperação, não-violência, fé e paz.
            Mahatma Gandhi tornou-se um ícone da paz universal ao defender o Estado Indiano por meio de um movimento ativista que pregava a não-violência e a não-agressão. Inteiramente centrado na simplicidade de vida e na austeridade das ações, seguia o princípio da satyaghaha. Daí derivou o movimento indiano de resistência pacífica contra a injustiça, baseado na verdade (satya) e firmeza (agraha), que era tido como o "caminho da verdade". Para além das justificativas instintivas para atos hediondos, Gandhi acreditava que a ausência de qualquer tendência à violência (ahimsa) era um estado natural do espírito humano e é baseado nisso que o ser humano deve buscar a solução pacífica de todos os conflitos, mediante o diálogo, a cooperação e a concórdia. A não-violência é a mais nobre das atitudes e forte expressão da coragem no mais alto grau, dispondo-se até mesmo ao sofrimento. A fé em Deus consistiria em um motor encorajador para essa prática da não-violência e as religiões, ao invés de se confundirem na busca pelo deus verdadeiro, deveriam servir como caminho para o alcance da paz de espírito e a paz universal: "As religiões são estradas diferentes convergindo para o mesmo ponto. O que importa tomarmos caminhos diferentes desde que alcancemos o mesmo objetivo?".
            Em uma abordagem da política das massas, Gandhi considerava que o mais difícil de ser alcançado era fazer com que o povo adquirisse consciência de sua força quando unido em prol do mesmo objetivo. Contudo é importante superar a oclocacia, ou seja, o governo exercido pelas massas, que não pensam e simplesmente repetem inadvertidamente aquilo que algum líder lhes inspira. Era necessário introduzir a lei do povo em lugar da lei das massas.
            Gandhi também ensinava que devia ser dado ao trabalho manual o mesmo valor que era atribuído aos aprendizados intelectuais. Com isso, atacava a tendência a valorizar mais aqueles que discutiam e implantavam os regimes, em detrimento daqueles que executavam os processos, vistos como meros repetidores de processos. Com sua vida humilde e de nenhuma extravagância, o mahatma pregava a simplicidade como fonte de igualdade de todos os seres em sua bela e mais pura essência, de forma que o acúmulo de bens, valores ou títulos não se sobreponham à exaltação da dignidade de pessoa humana que cada um carrega consigo, logo ao nascer.
            Os textos apresentados nesse pequeno resumo da filosofia de Gandhi questionam profundamente os fios que estruturam a sociedade moderna e fazem com que o leitor reflita na atualidade de sua própria vida, assim como nos caminhos próximos ou distantes que o mundo trilha. Contudo, tais ideias podem também tornarem-se estéreis, como simples palavras de um livro de estante, caso não promovam mudanças objetivas. Isso porque, como idealista pragmático que era, para Gandhi, os escritos não possuem valor algum se não forem verificáveis mediante ações concretas e promotoras de mais vida.

 REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:        Sabedoria de Gandhi, A
Autoria:      Richard Attenborough (org.)
Editora:      Sextante
Ano:           2008
Local:         Rio de Janeiro
Edição:       1ª
Gênero:      Filosofia | Hinduísmo

Confira o trailer do filme Gandhi produzido em 1982:


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