sábado, 26 de janeiro de 2013

Paulo Apóstolo: um trabalhador que anuncia o Evangelho (Carlos Mesters)

paulo apostolo um trabalhador que anuncia o evangelho          É indiscutível que as cartas de Paulo ocupam um lugar importante no Novo Testamento Bíblico, para quem deseja conhecer a pessoa de Paulo e a repercussão da mensagem que anunciou. À luz desta fonte e também da tradição da Igreja, o Frei Carlos Mesters busca responder a dois objetivos nesta obra: 1º) conhecer Paulo; 2º) conhecer as comunidades fundadas por ele. No entanto, não se trata de um olhar para o passado simplesmente, mas olhar as cartas que Paulo endereçou às comunidades daquele tempo, para tentar responder às questões de hoje.
          O autor divide o tema de seu trabalho em quatro partes interligadas que visam dar a conhecer a pessoa do apóstolo: 1ª) do nascimento aos 28 anos de idade: o judeu observante; 2ª) dos 28 aos 41 anos de idade: o convertido fervoroso; 3ª) dos 41 aos 53 anos de idade: o missionário itinerante; 4ª) dos 53 anos até à morte aos 62 anos de idade: o prisioneiro (quatro anos) e o organizador das comunidades (cinco anos).
          Como todo aquele que é chamado apóstolo, Paulo também fez uma experiência de Deus em sua vida, que o mobilizou a anunciar o Evangelho. Judeu praticante, era um rígido defensor da lei, o que o tornou um perseguidor dos cristãos, para os quais o Messias esperado era o próprio Jesus, morto e ressuscitado. A “queda do cavalo” a caminho de Damasco o leva a um processo radical de conversão, integrando-o na comunidade dos cristãos. Surge então um anunciador incansável do Evangelho, que suporta padecimentos no corpo e na alma, viagens longas, perigosas e de retorno incerto, prisões, afrontas e perseguições, tudo isto a fim de levar adiante a tarefa empreendida como missionário itinerante. A espiritualidade para Paulo, deixa de ser um conjunto de ideias bonitas para se meditar, e passa a ser uma experiência concreta de Deus e de Jesus na comunidade e na luta do povo. Deste modo, a partir do encontro com Jesus, Paulo continua a ver as mesmas coisas de sempre: a vida, o povo, a Bíblia, a cidade, o passado, a Aliança, a Lei, o templo, a sinagoga, o trabalho, os conflitos, os lugares e tudo o que já pertencia ao seu mundo, agora porém, com outros olhos e outros valores.
          Outro ponto que chama a atenção, diz respeito ao título do livro: Paulo Apóstolo: um trabalhador que anuncia o Evangelho. Na sociedade grega ou helenista o “trabalhar com as próprias mãos” era visto como trabalho próprio de um escravo e impróprio para quem fosse cidadão ou homem livre. Tal concepção levava a um sonho comum de uma vida tranqüila, preenchida pelo estudo e meditação, sem trabalho manual. Tal privilégio era reservado aos filósofos e missionários, os quais eram acolhidos e sustentados de bom grado pelas comunidades, as quais viam neles a realização do sonho de todos. A Paulo, restavam as opções de impor um preço pelo ensino que dava, pedir esmolas nas praças ou se empregar como professor na casa de uma família rica, a fim de ganhar o necessário para viver. Ele inverte as coisas e passa a trabalhar para se auto sustentar e anunciar livremente o Evangelho.
          Paulo foi ainda um grande escritor de cartas. Algumas de sua própria autoria, como as escritas na prisão: Efésios, Colossenses, Filipenses e Filemon. Outras, provavelmente pelos discípulos: Hebreus, Tito, 2Timóteo, 2Tessaloniceses.
          Carlos Mesters apresenta a figura de Paulo bem detalhada e instigante. Alguém que soube ter convicção do que acreditava e transformar a vida de muitos com seu empenho missionário. Um exemplo completo para todo aquele que deseja atualizar a mensagem de Cristo, sem tirar os pés do contexto histórico da atualidade.
 
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Paulo Apóstolo
Subtítulo: um trabalhador que anuncia o Evangelho
Autoria:    Carlos Mesters
Editora:    Paulinas
Ano:         1991
Local:       São Paulo
Gênero:    Religião | Espiritualidade

sábado, 19 de janeiro de 2013

O Dia de Ângelo (Frei Betto)

dia de angelo, o          Frei Betto é dominicano e escritor. Durante a época do Regime Militar no Brasil, participou ativamente das forças de oposição. Sua obra conta com vários títulos que falam de aspectos da ditadura, dentre elas se destacando Batismo de Sangue, onde aborda o assassinato do líder comunista Carlos Marighela e o dossiê de Frei Tito de Alencar Lima. Eleito intelectual do ano em 1986, Frei Betto também foi político, participando como ministro à época do governo Luís Inácio Lula da Silva.
          A obra em questão, O Dia de Ângelo, é o primeiro romance do autor e narra a ficção de um modo tão vivo que se mistura com a realidade, uma vez que toda a trama é construída sob um contexto histórico verídico. Mais do que uma história com início, meio e fim determinados, Frei Betto busca abordar profundamente a condição humana frente à restrição de sua liberdade. Assim o faz tanto do lado padecente quando do lado castigante.
          Ângelo P. é um jornalista detido como "terrorista" pela Ditadura Militar dos anos 70. Sua principal acusação era a de participar dos movimentos socialistas de oposição fazendo circular cartas que iam contra os militares. Na prisão, Ângelo sofre sozinho e abandonado na solitária. Tão só que a companhia de uma aranha, uma barata ou um mosquito se tornam suas principais distrações. Em meio ao tédio das infindáveis horas passadas no cárcere, Ângelo se esforça ao máximo para fazer de si uma companhia para si mesmo. No entanto, as pretensiosas desculpas dos militares o fariam terminar com o corpo pendendo de uma janela, levando consigo a explicação de que era um "louco e por isso cometera suicídio".
          Frei Betto divide sua obra em três partes: 1ª) o dia de Ângelo; 2ª) a manobra para inocentar os militares; 3ª) o desfecho da história com a revelação da verdade por parte de quem fizera as vezes do torturador. Ângelo condensa em seus curtos momentos na prisão a riqueza de uma subjetividade que se depara com o limite da própria vida, sentindo no entanto, que ela pulsa na certeza da morte. As poucas palavras dão lugar para que se faça ouvir uma gama de reflexões. Nada tão cruel como entrar na briga já certo da derrota.
          Com o depoimento claro de quem viveu no cárcere e conheceu o lado sombrio que não foi escrito nas páginas heroicas da história, Frei Betto traduz em seu personagem aquilo que deve ter sido a história de muitos outros presos durante o regime militar. A história de Ângelo pode ser uma chave de entendimento para compreender o sumiço de tantos outros oposicionistas da Ditadura. Uma história de martírio, muito mais do que de glória.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Dia de Ângelo, O
Autoria:     Frei Betto
Editora:     Brasiliense
Ano:          1987
Local:        São Paulo
Edição:     
Gênero:     Drama

sábado, 12 de janeiro de 2013

O Senhor dos Aneis: a sociedade do anel (J. R. R. Tolkien)


            A geração contemporânea provou seu gosto especial pelas obras literárias de aventuras fantásticas onde existem os personagens principais que constroem a história do enredo, mas se misturam a diversos outros personagens secundários que trazem maior emoção à narrativa. O mundo de Tolkien é povoado dessas histórias, onde homens, hobbits, elfos, anões, orcs, balrogs, animais e diversas outras criaturas compõem um universo narrativo impressionante. O Senhor dos Aneis é a obra principal do autor e aquela cujo sucesso se espalhou em escala mundial, tanto que foi para as telas do cinema, em produções repletas de efeitos especiais que foram premiadas com diversos Oscar.
            O Senhor dos Aneis é a continuação de uma história iniciada em O Hobbit, quando Bilbo Bolseiro havia empreendido sua incrível jornada até a caverna do dragão Smaug. Neste primeiro volume da trilogia, publicado em 1954, o famoso ladrão celebrava seu onzetésimo (111 anos) aniversário e queria festejar com uma comemoração nunca antes vista no Condado. Mas a surpresa de Bilbo seria sua despedida não anunciada, fazendo uso do anel que havia ganhado sabiamente de Gollum. Porém, embora inofensivo em sua aparência, o anel trazia consigo um grande poder, havendo necessidade de ser destruído. A periculosidade do anel fora informada por Gandalf por meio do seguinte poema:

“Três Anéis para os Reis - Elfos sob este céu,
Sete para os Senhores - Anões em seus rochosos corredores,
Nove para Homens Mortais, fadados ao eterno sono,
Um para o Senhor do Escuro em seu escuro trono
Na Terra de Mordor onde as Sombras se deitam.
Um Anel para a todos governar, Um Anel para encontrá-los,
Um Anel para a todos trazer e na escuridão aprisioná-los
Na Terra de Mordor onde as Sombras se deitam"

             A origem dos anéis de poder é contada por Tolkien na obra O Silmarillion, embora seja brevemente esmiuçada nesta. Sauron, que era o maior dos servos de Morgoth (o maior representante do mal, no mundo de Tolkien), forjara aneis de poder que foram espalhados pelo mundo: 3 para os elfos, 7 para os anões, 9 para os homens e 1 para si mesmo, que dominaria todos os outros. Sauron havia perdido esse Anel Governante ao ser derrotado por Isildur em uma batalha. Isildur também havia sido assassinado e o anel ficara à deriva até ser encontrado por Gollum e, posteriormente, ganho por Bilbo. No entanto, por encerrar um grande poder, se tornaria extremamente perigoso caso caísse em mãos erradas, devendo assim, ser destruído no fogo de Mordor, localizado na Montanha da Perdição. Além do mais, a circunstância agravante era que os Cavaleiros Negros de Sauron (os Espectros do Anel) estavam a sua procura e o sentiam perfeitamente cada vez que era usado. Desta forma, por ser sobrinho e herdeiro de Bilbo, Frodo fora encarregado por Gandalf a levar o anel para que fosse destruído na Montanha da Perdição, onde fora forjado.
            Na casa de Elrond, em Valfenda – a terra dos elfos – fora formada a comitiva que acompanharia Frodo, o Portador do Anel. Dela faziam parte: 1) Quatro hobbits: Sam, amigo inseparável de Frodo; Pippin e Merry, habitantes do Condado; além do próprio Frodo; 2) Um mago: Gandalf, o Cinzento; 3) Um elfo: Legolas; 4) Dois humanos: Boromir, filho do regente de Gondor e Aragorn, herdeiro de Isildur; 5) Um anão: Gimli. Assim constituídos, os nove integrantes partem de Valfenda rumo às montanhas de Moria, em uma expedição repleta de riscos. Não bastassem os diversos orcs e balrogs que habitavam as regiões sombrias, a comitiva deveria ser capaz de driblar a atenção dos Cavaleiros Negros de Sauron, além de descobrirem a rota que lhes conduziria ao seu destino. Diante de tudo isso, o amedrontado hobbit Frodo, deveria vencer a tentação de usar o anel nas situações de perigo, já que o olho de Sauron estava sempre atento às emanações do Anel Governante.
            O universo de Tolkien é rico em fantasias e cuidadosamente construído. A forma como interliga os diversos personagens e os fantásticos cenários cria no leitor uma vontade natural de explorar cada vez mais as páginas do livro, visando descobrir o mistério a cada novo capítulo. Não é de se admirar que O Senhor dos Aneis se tornou um best-seller mundial e figura entre os maiores clássicos da literatura de todos os tempos, fazendo sucesso principalmente entre o público infanto-juvenil.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Senhor dos Aneis, O
Subtítulo: a sociedade do anel
Autoria:    J. R. R. Tolkien
Editora:    Martins Fontes
Ano:         2000
Local:       São Paulo
Edição:     3ª
Série:       Senhor dos Aneis, O - Livro I
Gênero:    Fantasia | Aventura

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2001:

sábado, 5 de janeiro de 2013

Nunca desista de seus sonhos (Augusto Cury)

nunca desista de seus sonhos          Augusto Cury é psiquiatra e cientista pós-graduado em Psicologia Social. Vários títulos integram sua obra, dentre os quais os best-sellers Análise da Inteligência de Cristo, Você é Insubstituível, Seja Líder de Si Mesmo e Pais brilhantes, professores fascinantes, dentre diversos outros. Suas pesquisas na área da inteligência, fazem com que seus livros sempre abordem assuntos como a qualidade de vida e o desenvolvimento da inteligência lógica, emocional e multifocal. O interesse por aprofundar o tema, fez com que fundasse a Academia da Inteligência.
          A capacidade de sonhar é uma faculdade que permite ao ser humano transcender seu horizonte espaço/tempo e projetar-se para além da realidade instantânea em que vive. Existem basicamente dois tipos de sonhos: os que surgem durante o sono (ilógicos) e os que surgem quando se está acordado (existenciais). No que diz respeito ao segundo grupo, os sonhos não se confundem com os desejos, uma vez que se aproximam muito mais de autênticos projetos de vida. Quem cultiva um sonho não desiste diante do que lhe é contrário e está disposto a fazer pequenos ou grandes sacrifícios para concretizá-lo. O sonho é o combustível da alma.
          Diante da fascinação vivida por quem se projeta para além de si mesmo, Augusto Cury tece sua análise das atividades de quatro grandes sonhadores: 1º) Jesus Cristo, considerado por ele o maior "vendedor de sonhos" e empreendedor da história; 2º) Abraham Lincoln, que de fracasso em fracasso, provou que somente a perseverança é capaz de conquistar os objetivos e conduzir rumo à grandes realizações; 3º) Martin Luther King, cujo sonho brotado em meio à rejeição e ao preconceito, traduziu-se em liberdade para milhares; 4º) O próprio autor, sem o qual não seria possível falar da importância de nunca desistir dos sonhos, se não houvesse experimentado a materialidade de suas palavras.
          No cultivo da arte de sonhar, Cury fornece diversos instrumentos para compreender os mecanismos para tal, bem como alguns fatores negativos que o venham dificultar. As circunstâncias da vida de cada ser humano, produzem certas janelas killers que o paralisam. Estas devem ser confrontadas com janelas paralelas, o que consiste em criticar os pensamentos negativos, sem submeter a emoção a eles. Quem não desiste de seus sonhos deve procurar vencer o fenômeno da psicoadaptação, a incapacidade da emoção humana de reagir na mesma intensidade, frente à exposição ao mesmo estímulo. Conceitos da pesquisa do próprio autor também enriquecem a análise dos sonhos como o registro automático da memória (RAM) e a inteligência multifocal. O passado não seria uma lembrança pura, mas uma reconstrução no presente, devido às variáveis multifocais que participam do processo de leitura da memória. Nesse processo, quatro fenômenos participariam da construção dos pensamentos, que são o eu, o autofluxo, a autochecagem da memória e a âncora da memória. O autor também faz uma crítica da sociedade moderna ao diagnosticá-la como portadora da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA): uma construção exagerada de pensamentos decorrente da qualidade de vida, doentia, preocupante e estressante. O normal hoje em dia, é ser doente.
          Assim, Augusto Cury vem despertar no leitor um olhar atento para a importância de seus sonhos em seu crescimento existencial e desenvolvimento como pessoa humana. Somente quem aprende a submeter a vida em prol de uma causa, torna-se capaz de assumir o papel principal no roteiro de sua própria história.
 
CURY, Jorge Augusto. Nunca desista de seus sonhos. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. 6ª ed. 160 pgs.