Os autores dessa obra são especialistas em pesquisas das
diferenças comportamentais entre homens e mulheres. Por isso, o que encontramos
nela é uma abordagem divertida, que traz diversas situações das amenidades do
dia-a-dia e, principalmente, a forma diferente como homens e mulheres encaram
as mesmas. Os estudos são baseados em teses elaboradas em pesquisas de
características comuns dominantes apresentadas pela maioria dos grupos
estudados.
O advento do século XXI trouxe
consigo a quebra do paradigma dos papeis de homem e mulher definidos.
Atividades antes desempenhadas somente por homens são agora exercidas com um
toque sutil por mulheres, assim como atividades estritamente femininas ganham
um capricho especial dos homens. Por outro lado, observa-se uma atitude
conservadora no desempenho de certas funções. As raízes biológicas de um e
outro, para os autores, justificam tal padrão.
Nos primórdios de sua evolução, o
homem sempre desempenhou o papel de caçador. Cabia-lhe a tarefa de trazer o
sustento para a companheira e a cria, bem como lhes garantir proteção. Com
isso, desenvolveu uma visão do tipo “túnel” e adaptou sua psique e reflexos
para a caça. Além do mais, a observação e o silêncio eram fundamentais no abate
da presa. Em outro plano, à mulher coube o papel de protetora. Sua tarefa era
cuidar do lar, gerar e tratar da cria. Com isso, desenvolveu uma visão
periférica ampla e detalhada, bem como adaptou sua psique, intuição e reflexos
para a percepção detalhada do ambiente. Como interagia mais com as outras
mulheres da tribo, desenvolveu melhor a habilidade de comunicação. Postas essas
diferenças, o quadro abaixo sintetiza as características de um e outro:
♀
|
♂
|
Pensa alto
|
Fala sozinho
|
Discurso indireto
|
Discurso direto
|
Emocional
|
Literal
|
Fala muito
|
Ouve muito
|
Sugestiva
|
Objetivo
|
Prolixa
|
Lógico
|
Duas situações ilustram as
diferentes formas de um e outro encararem um mesmo fato: direção de um carro e
compras em um shopping. Enquanto para a mulher dirigir significa deslocar de um
ponto A para um ponto B sem transtornos, para o homem é ser capaz de trazer
para o concreto uma projeção formulada em seu cérebro, que envolve desde a
leitura de um mapa até a reação dos reflexos, dada a sua habilidade espacial
desenvolvida. Tal habilidade remonta aos seus mais primitivos instintos de
caça. Por outro lado, enquanto num passeio ao shopping o homem age com
objetivos determinados (sabe o que quer, como quer e onde encontrar), a mulher
encara isso como uma atividade lúdica (não se preocupa com o tempo, cansaço,
custo, etc.).
As diferenças revelam-se também no
âmbito social. O homem busca poder e demonstração de força. Daí a justificativa
para esconder seus sentimentos, fechando-se e calando. Para a mulher, ao
contrário, verbalizar é uma forma de cooperação na solução de seus conflitos. Desse
modo, enquanto ele é atraído pelo que vê, ela é atraída por aquilo que ouve. Compreender
e conciliar essas diferenças é um fator preponderante para o cultivo de uma boa
relação.
Os autores analisam também a questão
dos desvios sexuais de conduta. Para isso se fundamentam em pesquisas
científicas que provam que o homossexualismo e o lesbianismo estão ligados à
proporção de hormônio que o feto recebeu durante a vida uterina. Isso explica o
fato de existirem pessoas biologicamente masculinas e psicologicamente
femininas ou vice-versa. Por sua vez, a produção de tal hormônio relaciona-se à
qualidade da gestação, principalmente à saúde física, mental e psíquica da mãe.
Já a adolescência é a fase propícia para o desenvolvimento das tendências
sexuais do/a menino/a devido à explosão hormonal que lhe é característica.
Enfim, a pergunta-título da obra é
respondida mais uma vez recorrendo à tese da evolução biológica. As mulheres se
interessam mais pelo romance e pelo amor pois, como o sexo visa biologicamente
a reprodução, para elas é importante levar em conta os fatores necessários e
determinantes para o cuidado com a cria. Deste modo, uma relação monogâmica lhe
seria mais benéfica, visto a necessidade de proteção. O cérebro masculino, ao
contrário, é estruturalmente poligâmico pois, como bom perpetuador da espécie,
o homem tende a cumprir seu objetivo principal: a reprodução. Daí uma das
explicações para que os homens tenham maiores tendências promíscuas e as
mulheres sejam tão atacadas pelo ciúme. O valor cultural do matrimônio é o que
impõe restrições às tendências instintivas e permite que ambos busquem ser
felizes vivendo um para o outro.
PEASE, Allan // PEASE,
Barbara. Por que os homens fazem sexo e
as mulheres fazem amor?: uma visão científica (e bem-humorada) de nossas
diferenças. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. 192 pgs.
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