sábado, 18 de maio de 2013

Dia de São Nunca à Tarde (Roberto Drummond)


           O famoso autor de Hilda Furacão, falecido em 2002, consagrou toda a sua carreira com esta sua última obra, Dia de São Nunca à Tarde. Trata-se de uma novela de leitura facílima e rápida, mas construída em um contexto bastante interessante. Tal novela é o único texto dado como acabado que integrava uma obra de contos não terminada intitulada “Recordações do Paraíso”.
            O espaço onde ocorre a trama é a cidade mineira de Conceição do Mato Dentro, onde estava localizado o Colégio São Francisco, durante um mês de agosto na década de 50. Este era um internato curioso pelos padres que o dirigiam e pelos fantasmas que o habitavam, especialmente os dos padres José Matusalém e Buta. O diretor geral era Frei Vicente de Licodia, que havia adquirido a fama de santo na cidade, devido aos diversos milagres que havia realizado. Frei Tanajura era um dos colaboradores do internato, acumulando diversas funções, dentre elas a de supervisor e juiz de futebol. Tinha pavor de ser enviado para morar entre os índios cintas-largas na Amazônia e por isso, exercia suas funções com rigor e aplicação. Qualquer desvio de conduta ou mesmo suspeita era registrado em um diário, a fim de que tivesse pleno controle dos internos diante de Frei Vicente.
          As atividades no colégio haviam recomeçado e com elas o retorno dos alunos. Dentre esses, um era especialmente esperado com maior ansiedade que os demais: Gabriel, que tinha uma irmã gêmea chamada Gabriela, diferenciando-se desta apenas pelas roupas que vestia. Gabriel era aguardado principalmente por fazer parte do time de futebol do colégio, o “Estrela Solitária Futebol Clube”, e por compor o famoso “Trio Maldito”, juntamente com Tomzé e Ruivo. Frei Vicente conservava certa rixa com o time do Colégio Arnaldo de Belo Horizonte e via em Gabriel a esperança de mais uma vitória no próximo torneio. Contudo, o retorno do jovem traria também a grande incógnita que permeia toda a obra.
           Gabriel voltara na limusine de sua mãe em certa tarde e junto dele vinha Gabriela, encantando a todos por sua formosura. Porém, havia muito, Gabriel trazia consigo a curiosidade em ser mulher e Gabriela a curiosidade em ser homem. Desta forma, Gabriel decide ser Gabriela, voltando com sua mãe para casa e Gabriela decide ser Gabriel, permanecendo junto aos internos. Aparentemente nenhuma suspeita levantaram, mas logo estas viriam, principalmente pela forma desajeitada com a bola, nos treinos de futebol. Frei Tanajura logo desconfiaria que alguma troca houvesse sido feita, mas temia revelar suas suspeitas a Frei Vicente, devido à cegueira que este estava frente ao júbilo provocado pelo retorno de Gabriel. Além do mais, suspeitas não são verdades e mais uma vez o que ficara é o enigma: afinal, Gabriela se fazia de Gabriel?
      Enriquecida por certo teor cômico pelas características de seus personagens, Dia de São Nunca à Tarde é a primeira obra em que o autor aborda de maneira mais clara a questão da sexualidade, que era também uma de suas obsessões em vida. E exatamente com essa obra, Roberto Drummond finalizou toda uma vida literária que o consagrou como um dos grandes nomes da literatura brasileira.

DRUMMOND, Roberto. Dia de São Nunca à Tarde. São Paulo: Geração Editorial, 2004. 88 pgs.

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