Quincas Venâncio é um garimpeiro que vive com o
filho Quinquim em uma tapera no estado do Mato Grosso. Como a mãe do garoto já
era falecida, cabia a Quincas a dura tarefa de extrair do garimpo o sustento
para si e para o filho. Trabalhador dedicado, alimentava-o o sonho de um dia
encontrar o diamante que finalmente seria capaz de fazê-lo descansara daquela
lida e fornecer melhores condições de vida. Enquanto não chegava o sonhado dia,
seguia sua labuta no garimpo, levando consigo o filho pequeno como
acompanhante.
Certa vez o filho amanhecera meio adoentado e
Quincas resolvera deixá-lo em casa, mesmo que as preocupações com a segurança
fossem grandes. A região em que viviam era cercada de tribos indígenas, algumas
delas pacíficas e outras selvagens, cujos ataques eram bastante comuns. Aquele
dia preocupante traria consigo duas notícias opostas entre si: no garimpo,
Quincas finalmente encontrara o objeto de seus sonhos; em casa, o filho havia
sido raptado por um grupo de índios Xavantes, muito temidos por serem selvagens
e perigosos. Além do garoto Quinquim, Joana Borora, que era indígena e
professora, também havia sido levada. Joana socorrera diversas crianças da
escola durante o inesperado ataque e se oferecera em lugar dos pequenos, a fim
de poupar-lhes a vida. Para Quincas e os outros garimpeiros da Vila de Poxoréu,
a luta contra o tempo seria fundamental para encontrar o filho e a professora,
antes que algo pior viesse a acontecer.
Desde a morte da mãe, vítima de uma febre palustre
(malária), Quinquim costumava acordar repentinamente todas as noites, clamando por
ela. Preocupada pelo fato de que os índios pudessem interpretar isso como um
grito de socorro pelas madrugadas, Joana assume um papel maternal na vida da
criança e tem a brilhante ideia de acalmá-la através de uma história. Daí nasce
uma história dentro de outra, sendo o personagem principal o jabuti Carumbé,
que saíra de casa à procura do fim do mundo. Nos moldes do melhor folclore,
Carumbé traduz a riqueza das histórias da cultura brasileira, assim como outras
clássicas como o Saci-Pererê, Boitatá, Curupira, etc..
Cientes de que os brancos viriam em resgate dos
reféns, os índios preparam uma emboscada para pegá-los desprevenidos. Contudo,
a sagacidade de Joana leva-a a colocar uma mensagem dentro de uma porunga
(cabaça de abóbora) e enviá-la rio abaixo. A estratégia funciona perfeitamente
e os brancos chegam à aldeia em um momento em que somente mulheres e crianças
estavam na tribo. Após cem noites junto aos índios, Joana e Quinquim são
resgatados pacificamente. Após tomar conhecimento do carinho maternal que a
professora dedicara ao filho, Quincas e Joana nutrem um profundo amor entre si
e se casam em uma cerimônia bastante festejada na Vila de Poxoréu.
A história narrada pelo casal Ofélia e Narbal é
extremamente leve e instrutiva. Além de celebrar os elementos da cultura
matogrossense com palavras típicas e cenários bucólicos, a história de Carumbé
enriquece a trama com uma mensagem de que, para além das próprias limitações, é
aquilo em que acreditamos que nos move para seguirmos em frente. O desfecho
feliz do resgate da professora e do garoto Quinquim transmite ainda mais leveza
para a obra, demonstrando que índios e brancos podem conviver pacificamente,
ainda que existam conflitos entre eles. Esperança, paciência e confiança são
algumas das palavras que traduzem o escopo dessa obra, além de, é claro, o
amor, capaz de superar as mais “tapuias” noites da vida.
REFERÊNCIA
LITERÁRIA
Título: Cem Noites Tapuias
Autoria: Ofélia Fontes / Narbal Fontes
Editora: Ática
Ano: 1976
Local: São Paulo
Edição: 2ª
Série: Coleção Vaga-lume
Gênero: Infanto-juvenil | Drama
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