Exaltando
a tradição da cultura japonesa, John Allyn busca recontar em formato de prosa a
incrível história que, para muitos, trata-se apenas de uma lenda. A edição traz
em sua capa um cartaz do filme estrelado por Keanu Reeves e lançado em 2014,
muito embora haja significativas diferenças entre a mídia literária e a mídia
cinematográfica.
No
Japão feudal do século XVIII, mais precisamente por volta do ano 1701, a
província de Ako vivia sob o comando do respeitado mestre samurai Lorde Asano
Naganori. O país vivia submetido à Lei de Preservação da Vida, decretada pelo Xógun
– líder supremo de todo o Japão, em que todo o ser vivente, seja humano ou
animal, deveria ter preservado seu sagrado direito à vida e à incolumidade de
sua existência. Incitado pelo alto funcionário do xógun, Kira Yoshihisa, Lorde
Asano comete-lhe uma agressão tida como imperdoável naquela sociedade
fortemente marcada pela disciplina e obediência. Consequentemente, o daimio é condenado a praticar o seppuku, ou seja, ferir-se fatalmente,
como sinal de honra e expiação. Com sua morte, quarenta e sete guerreiros são
rebaixados à condição de ronins, o
que significava que agora eram samurais sem mestre. Em uma sociedade cuja
referência das lideranças era extremamente importante, ser um ronin era o mesmo que pertencer a uma
categoria desprezada na pirâmide social.
A
lealdade e honra à memória do falecido mestre não deixariam que aqueles
ex-samurais aceitassem passivamente a condição que um golpe injusto do destino
lhes submetera. Com isso, liderados por Oishi, vingar seu antigo mestre tornar-se-ia
o propósito de vida que permitiria àqueles ronins
serem coerentes com a memória de seus ensinamentos. Nesse contexto,
desvela-se o que seria o maior destaque da cultura japonesa a que o autor se
propõe ao recontar a história dos ronins:
o código de honra samurai (bushidô),
no qual valores como a justiça, lealdade, verdade e fidelidade aos princípios
constituir-se-iam no principal meio de um ronin
alcançar algum orgulho em suas atitudes. Destaca-se pois a grande mensagem que
a lenda e a obra buscam transmitir, segundo a qual a fidelidade aos princípios
deve ser algo religiosamente protegido, ainda que isso signifique perder a
própria vida.
A
narrativa de John Allyn, embora bastante informativa, por vezes se perde na
extensão reflexiva sobre as intenções de seus personagens. Mesmo assim, a leitura
flui com bastante rapidez tornando o livro uma obra agradável e interessante.
Existem diversos personagens secundários que demonstram a importância dos laços
familiares para o personagem principal. Talvez uma crítica negativa seja na
apresentação gráfica que a edição trouxe em sua capa e contracapa ao exibir um
pôster do filme. O leitor que se dedicar a buscar saber qual dos personagens do
livro seria aquele estrelado por Keanu Reeves pode se decepcionar. O filme,
cuja fantasia alimenta ainda mais a crença de que a história dos ronins não passa de uma lenda, serve
muito mais aos anseios mercadológicos da indústria do cinema do que à exibição
de um recorte da rica história japonesa. Dessa forma, a obra de John Allyn e a
produção cinematográfica são duas coisas distintas e independentes entre si,
fazendo com que a referência que o livro faz ao filme sirva puramente a uma
jogada de marqueting. Enfim, a lenda dos 47 Ronins exalta a inconformidade
diante das condições que a vida impõe, fazendo com que a honra seja buscada
dentro de si mesmo e não frente àquilo que a sociedade considera como
memorável.
REFERÊNCIA
LITERÁRIA
Título: 47 Ronins, Os
Subtítulo: a clássica história de lealdade, coragem e vingança
Autoria: John Allyn
Editora: Novo Século Editora
Ano: 2013
Local: Barueri
Gênero: Drama
Confira o trailer do filme lançado pela Universal Pictures em 2014:
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