sábado, 26 de maio de 2012

O Outro Caminho (João Mohana)

o outro caminho"Quantas vezes tive vontade de desesperar. Vós bem o sabeis.
Vós mesmo sois quem sabeis realmente. E se não fôsseis vós,
tenho certeza que teria abandonado tudo, desesperado."
 
          João Miguel Mohana é autor de diversos títulos que abordam a espiritualidade cristã, bem como peças de teatro e romances. Algumas obras suas são: Maria da Tempestade, O Encontro, Sofrer e Amar, Padres e Bispos Auto-analisados, etc.. Muitas foram traduzidas para o alemão, espanhol e italiano.
          Embora atribuída a ele, O Outro Caminho não é uma obra totalmente escrita por João Mohana. Como deixa claro nas primeiras páginas, trata-se de relatos autobiográficos escritos por seu irmão e publicados após sua morte por Mohana. Ele o fez acreditando que a vida do irmão era uma história digna de ser contada, devido ao emaranhado de provações que suportou. João Mohana apenas acrescentou algumas poucas notas para que o leitor aproveitasse ao máximo a história principal.
          Eyder Fernandes Carvalho era uma criança como qualquer outra de vila Barro Vermelho, no Maranhão, a não ser pelo futuro promissor que sua mãe sonhava. Como preço de uma promessa, Dona Santinha oferecera a vida do filho a Deus, preparando-lhe desde cedo o caminho, a fim de que seus passos o guiassem rumo ao sacerdócio. Seu pai, no entanto, era mais comedido e acreditava ser importante dar ao filho certa liberdade de decisão.
          A vontade da mãe começa a ser feita quando finalmente Eyder embarca no vapor (locomotiva) junto ao pai, com destino ao seminário. Aos temores diante da nova vida e saudades da terra natal, misturavam-se os encantamentos com a pororoca, fenômeno que o menino vira pela primeira vez na vida.
          No seminário Eyder aprendera toda a dimensão do sagrado que cerca a vida do vocacionado, como também amadurecera sua fé, escolhas e decisões. Diante do temor que a vocação despertava, partilhara com um bispo amigo e com seu pai suas dúvidas, tendo recebido conselhos divergentes de cada um: do primeiro, que era preferível não se ordenar um com vocação do que outro que a não a tenha; do segundo, que não se ordenar seria um desgosto até mesmo fatal para sua mãe. Eyder relata que foi com o coração oprimido que se ordenou, quando sua alma na verdade ansiava por outro sacramento.
          A primeira paróquia de P.e Eyder fora em Viana, próxima ao Barro, onde nascera. Lá sua alma seria atravessada pela espada que lhe deixaria uma chaga para o resto da vida. Abalado emocionalmente pelos encantos de uma mulher que denomina simplesmente como Viúva, mesmo resistindo ao extremo, certa noite dormira com ela na casa paroquial. Sua má fama correra por toda a cidade e arredores e, mesmo transferindo-se para outros lugares, P.e Eyder sempre iria ser desacreditado pelos paroquianos. A isso somavam-se as rixas políticas de forças que viam no pároco um mero articulador de interesses.
          A narrativa de Eyder deixa claro que sua vida sempre fora uma cruz pesada para seus ombros carregarem. Jamais vivera a vida que queria e sim a que sua mãe sonhara. Mesmo assim, lutou heroicamente consigo mesmo para que o desespero não lhe trouxesse mal maior. Sofreu. E sofreu muito. Teve a Deus mais como um companheiro para enxugar-lhe as lágrimas do que para aliviar-lhe as penas. Somente por esta ótica percebe-se que o martírio que viveu foi o caminho para sua própria remissão. Remissão que não relatou, já que teve de abraçar a morte para alcançá-la por completo.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Outro Caminho, O
Autoria:     João Mohana
Editora:     Agir
Ano:          1974
Local:        Rio de Janeiro
Edição:     
Gênero:     Drama

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