Allan Massie é um autor especialista em
romances históricos. Neste, conta a história de Marcos, de quem se dizia ser
filho de São Miguel Arcanjo, durante o período das invasões bárbaras ao Império
Romano. O título se justifica pois o autor enfatiza uma época crepuscular em
que o mundo vinha adormecendo de uma cultura marcadamente impregnada pelos
mitos e uma visão religiosa da sociedade, para uma cultura onde o cristianismo
começava a ser alvo de questionamentos e os barbarismos ameaçavam o poder
político. Concomitantemente, tal período marca também o início de acontecimentos
que levariam ao declínio do Império Romano.
Marcos é um jovem que, durante suas aventuras,
perpassa pelos povos gregos e italianos, como quem descobre um outro lado do
mundo na Idade Média. Durante suas expedições, os personagens que encontra o
fazem explorar seus principais conceitos sobre a religião, especialmente sobre
o cristianismo, credo que ele mesmo professava. Num mundo cujo cristianismo
ainda é profundamente marcado pela visão mítica e por lendas, Marcos conhece
também o lado lascivo que muitos de seus adeptos praticavam, sem remorso ou
temor pela concepção de pecado, mas sim entregues aos prazeres e paixões,
muitas vezes justificadas por conceitos filosóficos.
O início da jornada de Marcos começa quando o
Imperador Honório o envia, acompanhado do Padre Bernardo, do cavalariço grego
Quíron e do pajem Gito para que fosse o mensageiro responsável por levar sua
mensagem de trégua junto aos visigodos, liderados pelo irredutível Alarico. No
entanto, a irmã do rei, princesa Honória, tinha outros intuitos discordantes do
imperador, já que ela buscava também perverter o sagaz João, o Entendido,
conselheiro de Alarico, por quem nutria grande aversão. A proposta soaria
ineficaz e os visigodos partiriam rumo a Roma para um saque que entraria
definitivamente para a história romana como um dos eventos mais desastrosos de sua
existência.
Em suas aventuras, por conveniência, Marcos se
casa com uma grega de nome Artemísia, filha de Melanipos, um rico proprietário
de cavalos e vinhedos, ainda que seu coração fosse mais afeto a Pulquérrima. Ao
passar por Constantinopla, a imperatriz Eudóxia o envia para uma nova missão,
sob a recomendação de que Artemísia ficasse a seu serviço até que Marcos
retornasse da perigosa saga. Contudo, traiçoeira que era, a imperatriz manda
cegar Artemísia e deixá-la vagar como mendiga pelo império de Constantino,
relatando uma história trágica para Marcos, quando esse regressa à pedido da
própria imperatriz. Nesse episódio vemos uma trama envolvendo o famoso João
Crisóstomo, arcebispo que tecia duras críticas ao comportamento da imperatriz.
A história é entremeada pelos deuses e heróis
gregos e romanos, revelando os reflexos que uma era de mitos ainda respingavam
em uma cultura cujo cristianismo era a religião dominante. Há um debate em torno
do que seria o Santo Graal, talvez até mesmo antecipando a lenda do próximo
volume da Trilogia Eterna Roma, Rei Artur.
Como romance histórico, a preocupação do autor em manter o caráter narrativo
oculta um pouco caráter informativo que alguns leitores talvez possam esperar.
Contudo, ao viajar por um dos mais emblemáticos períodos da civilização humana,
a história não perde seu valor, ainda que sua trama possua traços
essencialmente fictícios. Enfim, inaugurando a trilogia Eterna Roma a obra tem o mérito de louvar a perenidade do Império
Romano, mesmo em tempos de duras crises.
REFERÊNCIA
LITERÁRIA
Título: Crepúsculo do Mundo, O
Subtítulo: um romance da Idade das Trevas
Autoria: Allan Massie
Editora: Ediouro
Ano: 2002
Local: Rio de Janeiro
Série: Eterna Roma - Vol. I
Gênero: Épico | História
Nenhum comentário:
Postar um comentário