
A pastoral entre os pobres parte do reconhecimento de que é o próprio Deus presente no mundo, que caminha com o povo na história, não como espectador, e sim como vítima dos mecanismos de morte. A partir daí, uma provocação aos religiosos: “Podemos nós entender o Evangelho, lendo-o desde nossa posição privilegiada no sistema, a partir do poder, da segurança, da instituição...?” (p. 19). A alternativa da inserção surge como um êxodo em direção aos oprimidos, na busca por encontrar o próprio Deus, que se encarnou entre os pobres, viveu como pobre e morreu pobre. Por isto, quer significar uma aceitação dos desafios contra a realidade de injustiça, dos dominadores e das ideologias. Inserir é também comungar da sabedoria, cultura e fé do povo, na busca de opções concretas que realizem o seu projeto na história. Trata-se de cultivar uma espiritualidade celebrativa, atenta às necessidades concretas, que produziriam a libertação da opressão. É ser sinal de contradição, frente ao curso da humanidade. Enfim, é um transcender de uma experiência meramente individual e narcísica de Deus, para uma experiência coletiva e libertadora, contemplando a Deus, na caminhada com seu povo. A realização concreta desse projeto leva à percepção de um reino de Deus que já está presente no mundo, pelas sementes de esperança que surgem, mas ainda não completamente, em virtude das injustiças e desigualdades entre as pessoas.
Contemplar a Deus na história é se comprometer com a vida. Nem uma práxis que se rotiniza no ativismo exacerbado, nem uma espiritualidade que se fecha sobre si mesma, sem inquietar-se diante de quem mais sofre. A inserção é a opção por viver como o povo, na busca de implodir em seu meio a mensagem de amor e fraternidade de Jesus, na luta pela justiça.
Destinado aos que fazem do compromisso com o oprimido o escopo da vivência radical e engajada da boa-nova do Evangelho, esta obra vem reacender essa opção fundamental. A urgência de uma pastoral coerente e eficaz é a demanda da Igreja, frente à realidade que se descortina sempre mais desafiadora. A vida religiosa é chamada a se desinstalar de seus confortos e se inserir entre os que são o alvo de seu discurso, rosto humano e oprimido de um Deus que caminha com seu povo, em Jesus Cristo.
REFERÊNCIA
LITERÁRIA
Título: Deus Oprimido, O
Subtítulo: em busca de uma espiritualidade da inserção
Autoria: Benjamin Gonzáles Buelta
Editora: CRB
Ano: 1989
Local: Rio de Janeiro
Gênero: Espiritualidade | Religião
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