domingo, 18 de janeiro de 2015

12 Anos de Escravidão (Solomon Northup)



Esse é um livro de memórias reais em que o autor relata a experiência trágica que o converteu de um homem livre em um escravo por doze anos, na metade do século XIX. Foi o texto que inspirou a adaptação para o cinema lançada em 2014, vencedora de 3 Oscars.
            Solomon Northup era um homem negro que levava sua vida normalmente junto à mulher e os filhos em Saratoga Springs (Nova Iorque). Dentre seus talentos estava o de ser um excelente violinista. Certo dia, deparou-se com uma dupla de homens que lhe ofereceram uma oportunidade única e imperdível de trabalho. Dividido entre a comunicação com a família e a impossibilidade de perder aquela oferta, Solomon decide partir junto com os homens, ainda mais porque os homens providenciaram toda a documentação que lhe assegurava a condição de homem livre. Tragicamente, tratava-se de uma farsa, e os documentos falsos acabaram por torná-lo a mais nova vítima do regime escravista reinante àquela época nos Estados Unidos.
            Solomon foi embarcado a bordo de um navio com outros negros – homens, mulheres e crianças – na mesma condição. Era o início de um pesadelo que minava todos os seus sonhos de gozar os benefícios de uma vida livre. Qualquer tentativa de provar sua liberdade era logo punida com açoites e castigos atrozes, tornando a submissão um alívio menos penoso, embora não mais aceitável. Logo, logo Solomon entenderia que, na condição de negro escravo, não lhe restava qualquer palavra senão àquelas suficientes ao cumprimento da vontade de seu senhor.
            Durante sua escravidão nas fazendas de Bayou Boeuf, Solomon foi vendido a vários senhores. Em certo momento foi apelidado de Platt, o que tornou seu verdadeiro nome desconhecido naquela sociedade escravocrata. Suas habilidades como músico, a disciplina de sua conduta e produtividade no desempenho dos trabalhos tornavam-no um escravo de valor considerável. Seus relatos reconhecem o Sr. William Ford como tendo sido um patrão bom. Contudo, Solomon teve atritos com Tibeats, que quase o levaram a ser castigado até a morte. Mas foi nas fazendas de Edwin Epps que Solomon passou a maior parte dos seus anos como escravo, assim como as mais terríveis experiências.
            As terras de Epps ficavam em Marksville (Louisiana), mais precisamente na Paróquia de Avoyelles. A população negra era submetida a um tratamento semelhante em todas as fazendas escravistas dos EUA. Cada escravo possuía como bens a roupa do corpo, geralmente feita de algodão cru, uma cabaça e uma saca de algodão que eram também seus utensílios nas lavouras de algodão e cana-de-açúcar. Aqueles que faziam algum trabalho extra ou que se destacavam de alguma forma podiam receber roupas, alguns adornos (para as mulheres), algum outro objeto e até mesmo alguns trocados. Seu alimento era basicamente uma ração feita de milho triturado e toucinho, sendo que as condições deste nem sempre eram apropriadas ao consumo. Apesar de não ser uma prática comum, não havia restrição de que os escravos se casassem. Caso algum escravo necessitasse visitar parentes em outra fazenda próxima, era-lhe concedido um salvo-conduto. Desse modo, ainda que fossem pegos no caminho por algum feitor (funcionários extremamente violentos, contratados pelos senhores, responsáveis por punir escravos fugitivos), não lhes caberia nenhum castigo. Os escravos trabalhavam forçadamente nas lavouras o dia inteiro, fizesse sol ou chuva. Aqueles que não atingissem uma produtividade mínima eram castigados severamente ao fim do dia, indistintamente se homens ou mulheres. O único dia em que era-lhes concedido descanso era no Natal, quando festejavam e dançavam alegremente.
            Um negro feito escravo dificilmente retomaria sua liberdade novamente. Contudo, Solomon usou sua perspicácia para alcançar seu objetivo. Em uma primeira tentativa de enviar uma carta aos seus conhecidos, o mensageiro o traiu e, por pouco escapou da ira de Epps. Na segunda, um carpinteiro dotado de ideias antiescravistas foi fundamental na libertação de Solomon em 1853. Era Bass, que topou arriscar a própria segurança em nome da liberdade daquele cativo duramente injustiçado.
            A narrativa do autor possui um estilo essencialmente descritivo dos fatos, deixando que o próprio leitor absorva e reprove os abusos cometidos pelos senhores de escravos. Os relatos são comoventes e dramáticos, principalmente aqueles que narram os castigos aplicados aos negros, sempre injustificados por tamanha covardia e violência, de forma que, quando as feridas não matavam o escravo, imprimiam em sua pele cicatrizes e sequelas terríveis. Trata-se de uma obra bastante atual para que os temas do racismo e da discriminação racial sejam novamente colocados em debate, a fim de que tais atrocidades jamais venham a ser cometidas novamente.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:        12 Anos de Escravidão
Autoria:      Solomon Northup
Editora:      Penguin: Companhia das Letras
Ano:           2014
Local:         São Paulo
Gênero:      Escravidão | Autobiografia

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2013:


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