Romance de estreia de Frei Betto no gênero literatura
policial a trama desse livro vai muito além da simples ficção para imergir
profundamente na gama de problemas sociais que afetam o Rio de Janeiro,
servindo também como uma amostra de todo o Brasil. Em virtude disso, apesar de
ter sido escrito há quase duas décadas, trata-se de uma história completamente
atual.
Localizado na região carioca da
Lapa, o Hotel Brasil, administrado por Dona Dinó, era uma moradia de baixo
custo, cujos moradores compunham um perfil dos mais diversos. Certo dia, os
habitantes são surpreendidos por um crime macabro: Marçal Joviano de Souza fora
encontrado decapitado e com os olhos arrancados. De seu paradeiro, sabia-se
somente que era envolvido em assuntos sobre pedras preciosas que trazia de
Minas Gerais. Levado à polícia, o caso estava sob a investigação do delegado
Olinto Del Bosco.
Del Bosco convocara todos os
moradores do hotel para colher seus depoimentos sobre o ocorrido. Nessas
oitivas, cada morador é apresentado ao leitor: Cândido, professor e atuante em
um movimento de ajuda a menores infratores; Jorge Maldonado, faxineiro do
hotel; Marcelo Braga, jornalista inescrupuloso; Rosaura Dorotéia dos Santos,
empregada doméstica fascinada em tornar-se atriz de telenovela; Rui Pacheco,
assessor de um deputado na Assembleia Legislativa; Madame Laurência, cafetina;
e Diamante Negro, transformista. O mais intrigante no caso que fora noticiado
pela impressa como do “degolador da Lapa” era que o crime havia sido cometido
sem sinais de arrombamento e sem que nenhum dos pertences da vítima fosse
subtraído.
Paralelamente às investigações, o
livro também foca na vida do personagem Cândido e seu trabalho com os menores
infratores. Ele trabalhava como redator em uma editora e conhecera a
antropóloga Mônica Kundali. No decorrer da história um romance seria nutrido e
maiores revelações sobre o passado angustiante da antropóloga viriam à tona
através de suas cartas que nunca eram enviadas. Cândido também militava na
defesa dos menores infratores. Num episódio em que alguns menores fugiram de
uma casa de internação à custa do assassinato de alguns funcionários, Cândido
vivencia seu lado paternalista com a garota Beatriz (Bia), uma adolescente
meiga cuja inocência fora deturpada pela dura vida nas ruas. Ela era alvo de
policiais corruptos e criminosos perigosos e Cândido não pouparia esforços para
recuperá-la do mundo do crime, mesmo sabendo que seu envolvimento com a menor
poderia sujar sua imagem. Para alguém que figurava como suspeito de um crime
ocorrido no local onde morava, proteger menores procurados pela polícia era
ainda mais incriminador.
Hotel
Brasil é uma história policial que não se limita ao suspense das
investigações. Seu objetivo vai muito além, visando tecer uma crítica do
contexto social à medida que o pinta nos traços mais verídicos. O episódio em
que a polícia usa de tortura para que um dos interrogados confesse a autoria
dos crimes é, na verdade, uma marca que o autor quis deixar de sua própria
biografia, para que jamais seja esquecida a covardia dos militares durante a
ditadura militar. Quem conhece um pouco da vida e obra de Frei Betto, sabe bem
sobre a importância do destaque que o ele deixa para os flashes desse período que ele padeceu. Enfim, quando a identidade
do(a) verdadeiro(a) assassino é finalmente revelada, tem-se também a
constatação de que as aparências de fato enganam e que por mais inocente que
possa parecer, há pessoas que cujas consciências são obscuras a ponto de
revelarem-se como verdadeiros assassinos em série autores de crimes perfeitos.
REFERÊNCIA
LITERÁRIA
Título: Hotel Brasil
Autoria: Frei Betto
Editora: Ática
Ano: 1999
Local: São Paulo
Gênero: Drama | Policial
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