terça-feira, 7 de novembro de 2017

Hotel Brasil (Frei Betto)

            Romance de estreia de Frei Betto no gênero literatura policial a trama desse livro vai muito além da simples ficção para imergir profundamente na gama de problemas sociais que afetam o Rio de Janeiro, servindo também como uma amostra de todo o Brasil. Em virtude disso, apesar de ter sido escrito há quase duas décadas, trata-se de uma história completamente atual.
            Localizado na região carioca da Lapa, o Hotel Brasil, administrado por Dona Dinó, era uma moradia de baixo custo, cujos moradores compunham um perfil dos mais diversos. Certo dia, os habitantes são surpreendidos por um crime macabro: Marçal Joviano de Souza fora encontrado decapitado e com os olhos arrancados. De seu paradeiro, sabia-se somente que era envolvido em assuntos sobre pedras preciosas que trazia de Minas Gerais. Levado à polícia, o caso estava sob a investigação do delegado Olinto Del Bosco.
            Del Bosco convocara todos os moradores do hotel para colher seus depoimentos sobre o ocorrido. Nessas oitivas, cada morador é apresentado ao leitor: Cândido, professor e atuante em um movimento de ajuda a menores infratores; Jorge Maldonado, faxineiro do hotel; Marcelo Braga, jornalista inescrupuloso; Rosaura Dorotéia dos Santos, empregada doméstica fascinada em tornar-se atriz de telenovela; Rui Pacheco, assessor de um deputado na Assembleia Legislativa; Madame Laurência, cafetina; e Diamante Negro, transformista. O mais intrigante no caso que fora noticiado pela impressa como do “degolador da Lapa” era que o crime havia sido cometido sem sinais de arrombamento e sem que nenhum dos pertences da vítima fosse subtraído.
            Paralelamente às investigações, o livro também foca na vida do personagem Cândido e seu trabalho com os menores infratores. Ele trabalhava como redator em uma editora e conhecera a antropóloga Mônica Kundali. No decorrer da história um romance seria nutrido e maiores revelações sobre o passado angustiante da antropóloga viriam à tona através de suas cartas que nunca eram enviadas. Cândido também militava na defesa dos menores infratores. Num episódio em que alguns menores fugiram de uma casa de internação à custa do assassinato de alguns funcionários, Cândido vivencia seu lado paternalista com a garota Beatriz (Bia), uma adolescente meiga cuja inocência fora deturpada pela dura vida nas ruas. Ela era alvo de policiais corruptos e criminosos perigosos e Cândido não pouparia esforços para recuperá-la do mundo do crime, mesmo sabendo que seu envolvimento com a menor poderia sujar sua imagem. Para alguém que figurava como suspeito de um crime ocorrido no local onde morava, proteger menores procurados pela polícia era ainda mais incriminador.
            Hotel Brasil é uma história policial que não se limita ao suspense das investigações. Seu objetivo vai muito além, visando tecer uma crítica do contexto social à medida que o pinta nos traços mais verídicos. O episódio em que a polícia usa de tortura para que um dos interrogados confesse a autoria dos crimes é, na verdade, uma marca que o autor quis deixar de sua própria biografia, para que jamais seja esquecida a covardia dos militares durante a ditadura militar. Quem conhece um pouco da vida e obra de Frei Betto, sabe bem sobre a importância do destaque que o ele deixa para os flashes desse período que ele padeceu. Enfim, quando a identidade do(a) verdadeiro(a) assassino é finalmente revelada, tem-se também a constatação de que as aparências de fato enganam e que por mais inocente que possa parecer, há pessoas que cujas consciências são obscuras a ponto de revelarem-se como verdadeiros assassinos em série autores de crimes perfeitos.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:   Hotel Brasil
Autoria: Frei Betto
Editora: Ática
Ano:      1999
Local:    São Paulo
Gênero: Drama | Policial

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