Originalmente publicado em 1954, somente
anos mais tarde essa obra alcançou grande popularidade, devido à repercussão de
sua história. Garantiu ao autor a obtenção do Prêmio Nobel em 1983 e teve duas
adaptações para o cinema, em 1963 e 1990, respectivamente. É considerada um
clássico da literatura pós-Segunda Guerra Mundial e fez com que algumas bandas
famosas a homenageassem em suas músicas.
Os
traços de realidade da história são usados como alegorias no sentido de melhor
transmitir a mensagem da obra: como o ser humano regride a seus instintos primitivos
em situações limite. Embora não seja narrado o fato, tudo começa com um
acidente aéreo em que os únicos sobreviventes são garotos de uma escola que
estavam sendo levados para longe das zonas de guerra. Longe de serem crianças
indefesas e ingênuas, a necessidade de sobrevivência clama para que se
organizem e consigam triunfar daquele episódio catastrófico. Nesse grupo,
alguns personagens se destacam e suas características possuem traços bastante
peculiares: Ralph, o líder do grupo, traduz o espírito de democracia;
Porquinho, frequentemente debochado pelos colegas em virtude de seu corpo
obeso, na verdade é o mais inteligente; Jack, dotado de um espírito orgulhoso, possui
um caráter extremamente frio para atividades insanas como a caça aos porcos.
Talvez
a maior alegoria seja a organização em sociedade a que o grupo é submetido.
Algumas regras foram combinadas como a necessidade de ter em mãos uma concha
para que alguém pudesse ter a palavra, bem como o cuidado em manter uma
fogueira sempre acesa, já que algum navio poderia ver a fumaça e resgatar os
meninos. Contudo, a existência de regras logo mostraria que isso não é sinônimo
de organização, principalmente quando elas são confrontadas com os mais
primitivos instintos humanos. Um exemplo é o episódio em que, ao partirem para
a caçada de um porco que permitiria aos garotos se alimentarem de carne, os
mesmos descuidam da fogueira e a deixam apagar, justamente quando no horizonte
se vislumbrava uma embarcação. Era o estopim para que a divergência nos modos
de pensamento fomentasse a divisão e o confronto entre eles.
O
tema do medo é abordado no livro a partir da suposta existência de um “Bicho”
que poderia aniquilar os meninos. Quanto a isso, enquanto alguns se fecham e
receiam outros se encorajam na busca por descobrir a criatura e destruí-la. Uma
visão que Simon teve a partir de uma cabeça de porco revela o lado místico de
toda essa alegoria. Afinal, aquela superstição era ou não verídica? A
simbologia desse termo mostrará que o “Bicho” na verdade era a natureza humana
e sua capacidade de fazer o mal quando se sente acuada.
O
ambiente paradisíaco da ilha talvez tenha sido escolhido pelo autor para
distanciar ao máximo da sociedade como a concebemos. Trata-se de um retorno à
vida primitiva e uma metáfora da regressão humana ao seu estado mais essencial.
Confrontados com a distância das comodidades modernas e a necessidade de
sobrevivência, os garotos são movidos a comportamentos cruéis, alguns devido a
discordâncias pessoais, outros devido à disputa pela supremacia. Isso leva o
leitor a um questionamento: por se tratarem de crianças, podemos supor que a
tendência para o mal é algo inato ao ser humano ou algo aprendido, em virtude
das circunstâncias da vida? Enfim, é possível concluir que o tema do mal é
muito presente, justificando até mesmo o título do livro que é uma tradução
mais romanceada para o termo hebraico Belzebu
(Ba’al Zebub).
REFERÊNCIA
LITERÁRIA
Título: Senhor das Moscas, O
Autoria: William Golding
Editora: O Globo | Folha de São Paulo
Ano: 2003
Local: Rio de Janeiro | São Paulo
Gênero: Drama | Alegoria
Confira a adaptação para o cinema lançada em 1990:
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