sábado, 1 de abril de 2017

O Senhor das Moscas (William Golding)

            Originalmente publicado em 1954, somente anos mais tarde essa obra alcançou grande popularidade, devido à repercussão de sua história. Garantiu ao autor a obtenção do Prêmio Nobel em 1983 e teve duas adaptações para o cinema, em 1963 e 1990, respectivamente. É considerada um clássico da literatura pós-Segunda Guerra Mundial e fez com que algumas bandas famosas a homenageassem em suas músicas.
            Os traços de realidade da história são usados como alegorias no sentido de melhor transmitir a mensagem da obra: como o ser humano regride a seus instintos primitivos em situações limite. Embora não seja narrado o fato, tudo começa com um acidente aéreo em que os únicos sobreviventes são garotos de uma escola que estavam sendo levados para longe das zonas de guerra. Longe de serem crianças indefesas e ingênuas, a necessidade de sobrevivência clama para que se organizem e consigam triunfar daquele episódio catastrófico. Nesse grupo, alguns personagens se destacam e suas características possuem traços bastante peculiares: Ralph, o líder do grupo, traduz o espírito de democracia; Porquinho, frequentemente debochado pelos colegas em virtude de seu corpo obeso, na verdade é o mais inteligente; Jack, dotado de um espírito orgulhoso, possui um caráter extremamente frio para atividades insanas como a caça aos porcos.
            Talvez a maior alegoria seja a organização em sociedade a que o grupo é submetido. Algumas regras foram combinadas como a necessidade de ter em mãos uma concha para que alguém pudesse ter a palavra, bem como o cuidado em manter uma fogueira sempre acesa, já que algum navio poderia ver a fumaça e resgatar os meninos. Contudo, a existência de regras logo mostraria que isso não é sinônimo de organização, principalmente quando elas são confrontadas com os mais primitivos instintos humanos. Um exemplo é o episódio em que, ao partirem para a caçada de um porco que permitiria aos garotos se alimentarem de carne, os mesmos descuidam da fogueira e a deixam apagar, justamente quando no horizonte se vislumbrava uma embarcação. Era o estopim para que a divergência nos modos de pensamento fomentasse a divisão e o confronto entre eles.
            O tema do medo é abordado no livro a partir da suposta existência de um “Bicho” que poderia aniquilar os meninos. Quanto a isso, enquanto alguns se fecham e receiam outros se encorajam na busca por descobrir a criatura e destruí-la. Uma visão que Simon teve a partir de uma cabeça de porco revela o lado místico de toda essa alegoria. Afinal, aquela superstição era ou não verídica? A simbologia desse termo mostrará que o “Bicho” na verdade era a natureza humana e sua capacidade de fazer o mal quando se sente acuada.
            O ambiente paradisíaco da ilha talvez tenha sido escolhido pelo autor para distanciar ao máximo da sociedade como a concebemos. Trata-se de um retorno à vida primitiva e uma metáfora da regressão humana ao seu estado mais essencial. Confrontados com a distância das comodidades modernas e a necessidade de sobrevivência, os garotos são movidos a comportamentos cruéis, alguns devido a discordâncias pessoais, outros devido à disputa pela supremacia. Isso leva o leitor a um questionamento: por se tratarem de crianças, podemos supor que a tendência para o mal é algo inato ao ser humano ou algo aprendido, em virtude das circunstâncias da vida? Enfim, é possível concluir que o tema do mal é muito presente, justificando até mesmo o título do livro que é uma tradução mais romanceada para o termo hebraico Belzebu (Ba’al Zebub).

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:   Senhor das Moscas, O
Autoria: William Golding
Editora: O Globo | Folha de São Paulo
Ano:      2003
Local:    Rio de Janeiro | São Paulo
Gênero: Drama | Alegoria

Confira a adaptação para o cinema lançada em 1990:

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