Em tempos nos quais a literatura fantástica
arrasta milhões de fãs com seus personagens sob a aparência de bruxos,
vampiros, anões, deuses e heróis, o Brasil pode se orgulhar com essa obra de um
autor filho seu. Em um país onde a religiosidade é uma das principais marcas
pelo mundo, Eduardo Spohr inova ao criar uma trama envolvendo entidades bíblicas
se envolvendo em batalhas épicas. Sem dúvida, a obra não deixa a desejar quando
confrontada com as histórias estrangeiras que mais fazem sucesso nos dias
atuais.
Dos textos bíblicos, a história usa
essencialmente as figuras dos anjos e arcanjos como personagens principais, mas
não deixa de fazer referência às histórias mais elementares do texto sagrado,
como a criação do universo, a Torre de Babel, o nascimento e morte de Jesus
Cristo e, principalmente o anúncio feito no livro do apocalipse.
Os três arcanjos – Miguel, Rafael e Gabriel –
ocupam lugar de destaque. Antes da criação do universo, a casta dos arcanjos
havia sido concebida pelo Criador para servi-lo e proteger sua criação. Não
eram seres dotados dos sentimentos tipicamente humanos, mas o orgulho e a
dedicação à sua missão os tornavam soldados valorosos, ainda que inflamados de
ciúme pelo tamanho amor que Deus dedicara aos "homens feitos de
barro". E assim, Deus criara o mundo e descansara no sétimo dia... E
justamente durante a hibernação do Criador (que, por sinal, durara toda a
história da humanidade) é que acontecem os fatos que dão corpo àquela que seria
a Batalha do Apocalipse.
O arcanjo Miguel era o guardião da sala que
dava acesso ao recinto no qual o Criador repousava no plano etéreo onde viviam
os celestiais. Contudo, sua mente se pervertera e o orgulho tomara-lhe o
coração, de forma que se tornara uma ameaça não só aos habitantes do mundo
espiritual como também aos seres humanos, fazendo com que eclodisse uma
rebelião no plano etéreo, objetivando destroná-lo. Toda a atividade que
acontecia no mundo estava intimamente ligada àquilo que ocorria também no plano
espiritual. Todos acreditavam que uma batalha apocalíptica anteciparia o Dia do
Acerto de Contas, quando o próprio Deus despertaria de seu sono e, vendo a
maldade que se disseminara pelo universo que criara, novamente transformaria
sua criação, destruindo todos aqueles que não aprenderam a conviver nela. No
entanto, justamente nesse momento, o arcanjo Miguel intencionava tomar finalmente
o lugar do altíssimo e submeter todas as castas do céu e do inferno ao seu
domínio.
O anjo Ablon era um querubim renegado que fora
condenado a vagar pelo mundo por sua rebeldia contra o arcanjo Miguel. Antes
Primeiro General do exército celeste e único sobrevivente dos dezoito renegados,
vivia agora refugiado no Rio de Janeiro e pressentia os sinais dos tempos, os
quais indicavam a proximidade da batalha entre o céu e o inferno, que daria
novos rumos à história humana. Em sua trajetória conta com o auxílio de
Shamira, cognominada Feiticeira de En-Dor, que fora libertada da prisão de
Babel, milhares de anos atrás, e por quem nutria grande afeto. Ablon recebe uma
proposta tentadora de Lúcifer, o príncipe dos demônios, para que liderasse suas
tropas contra os exércitos de Miguel na Batalha do Armagedom. Mesmo sabendo que
anjo caído era sagaz e nada confiável, era a única forma sábia de possuir algum
poder para enfrentar o arcanjo perverso e libertar a humanidade de um jugo
nunca antes concebido.
O livro talvez suscite mais críticas negativas
por parte daqueles leitores mais religiosos. A ideia de que Deus é um ser
adormecido enquanto a humanidade segue seu curso é por deveras, inconcebível.
Além disso, o sono do altíssimo coloca-o como alguém alheio a tudo o que está
ocorrendo, como se nada o perturbasse em seu repouso sagrado. Além do mais, se
Deus é o todo-poderoso, porque temer a ameaça de um arcanjo que está em plano
inferior à sua grandeza. A obra de Spohr galga trilhas que requerem ligações
lógicas entre os fatos, uma vez que é impossível dissociá-la da história
bíblica conhecida, tomando-a como simples ficção. Contudo, a riqueza dos
personagens e suas antologias povoam o enredo com uma densidade marcante. Tanto
é que as páginas finais possuem um glossário para que o leitor não se perca no
emaranhado de fatos, personagens e apelidos que a história apresenta.
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título: Batalha do Apocalipse, A
Subtítulo: da queda dos anjos ao crepúsculo do mundo
Autoria: Eduardo Spohr
Editora: Verus
Ano: 2011
Local: Campinas
Edição: 15ª
Gênero: Anjos | Ação
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