sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

A Batalha do Apocalipse (Eduardo Spohr)



Em tempos nos quais a literatura fantástica arrasta milhões de fãs com seus personagens sob a aparência de bruxos, vampiros, anões, deuses e heróis, o Brasil pode se orgulhar com essa obra de um autor filho seu. Em um país onde a religiosidade é uma das principais marcas pelo mundo, Eduardo Spohr inova ao criar uma trama envolvendo entidades bíblicas se envolvendo em batalhas épicas. Sem dúvida, a obra não deixa a desejar quando confrontada com as histórias estrangeiras que mais fazem sucesso nos dias atuais.
Dos textos bíblicos, a história usa essencialmente as figuras dos anjos e arcanjos como personagens principais, mas não deixa de fazer referência às histórias mais elementares do texto sagrado, como a criação do universo, a Torre de Babel, o nascimento e morte de Jesus Cristo e, principalmente o anúncio feito no livro do apocalipse.
Os três arcanjos – Miguel, Rafael e Gabriel – ocupam lugar de destaque. Antes da criação do universo, a casta dos arcanjos havia sido concebida pelo Criador para servi-lo e proteger sua criação. Não eram seres dotados dos sentimentos tipicamente humanos, mas o orgulho e a dedicação à sua missão os tornavam soldados valorosos, ainda que inflamados de ciúme pelo tamanho amor que Deus dedicara aos "homens feitos de barro". E assim, Deus criara o mundo e descansara no sétimo dia... E justamente durante a hibernação do Criador (que, por sinal, durara toda a história da humanidade) é que acontecem os fatos que dão corpo àquela que seria a Batalha do Apocalipse.
O arcanjo Miguel era o guardião da sala que dava acesso ao recinto no qual o Criador repousava no plano etéreo onde viviam os celestiais. Contudo, sua mente se pervertera e o orgulho tomara-lhe o coração, de forma que se tornara uma ameaça não só aos habitantes do mundo espiritual como também aos seres humanos, fazendo com que eclodisse uma rebelião no plano etéreo, objetivando destroná-lo. Toda a atividade que acontecia no mundo estava intimamente ligada àquilo que ocorria também no plano espiritual. Todos acreditavam que uma batalha apocalíptica anteciparia o Dia do Acerto de Contas, quando o próprio Deus despertaria de seu sono e, vendo a maldade que se disseminara pelo universo que criara, novamente transformaria sua criação, destruindo todos aqueles que não aprenderam a conviver nela. No entanto, justamente nesse momento, o arcanjo Miguel intencionava tomar finalmente o lugar do altíssimo e submeter todas as castas do céu e do inferno ao seu domínio.
O anjo Ablon era um querubim renegado que fora condenado a vagar pelo mundo por sua rebeldia contra o arcanjo Miguel. Antes Primeiro General do exército celeste e único sobrevivente dos dezoito renegados, vivia agora refugiado no Rio de Janeiro e pressentia os sinais dos tempos, os quais indicavam a proximidade da batalha entre o céu e o inferno, que daria novos rumos à história humana. Em sua trajetória conta com o auxílio de Shamira, cognominada Feiticeira de En-Dor, que fora libertada da prisão de Babel, milhares de anos atrás, e por quem nutria grande afeto. Ablon recebe uma proposta tentadora de Lúcifer, o príncipe dos demônios, para que liderasse suas tropas contra os exércitos de Miguel na Batalha do Armagedom. Mesmo sabendo que anjo caído era sagaz e nada confiável, era a única forma sábia de possuir algum poder para enfrentar o arcanjo perverso e libertar a humanidade de um jugo nunca antes concebido.
O livro talvez suscite mais críticas negativas por parte daqueles leitores mais religiosos. A ideia de que Deus é um ser adormecido enquanto a humanidade segue seu curso é por deveras, inconcebível. Além disso, o sono do altíssimo coloca-o como alguém alheio a tudo o que está ocorrendo, como se nada o perturbasse em seu repouso sagrado. Além do mais, se Deus é o todo-poderoso, porque temer a ameaça de um arcanjo que está em plano inferior à sua grandeza. A obra de Spohr galga trilhas que requerem ligações lógicas entre os fatos, uma vez que é impossível dissociá-la da história bíblica conhecida, tomando-a como simples ficção. Contudo, a riqueza dos personagens e suas antologias povoam o enredo com uma densidade marcante. Tanto é que as páginas finais possuem um glossário para que o leitor não se perca no emaranhado de fatos, personagens e apelidos que a história apresenta.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:        Batalha do Apocalipse, A
Subtítulo:  da queda dos anjos ao crepúsculo do mundo
Autoria:     Eduardo Spohr
Editora:     Verus
Ano:          2011
Local:        Campinas
Edição:      15ª
Gênero:     Anjos | Ação

Nenhum comentário:

Postar um comentário