quinta-feira, 19 de março de 2015

La Hojarasca (Gabriel García Marquéz)

Publicado em 1955, La Hojarasca é uma novela que, pela primeira vez, aborda o cenário de Macondo, famoso na obra-prima de Gabriel García Marquéz, Cem Anos de Solidão.
Um fato é o disparo para que toda a história venha a tona, assim como a justificativa em volta da qual todo o discurso se origina: o falecimento de um homem. Até então poderia ser um fato comum, não fossem as circunstâncias de aparecimento daquele homem, assim como a imagem que o imaginário coletivo formulara dele.
A história que delineia as páginas desse clássico é construída a partir do ponto de vista de três pessoas distintas por suas gerações e vínculos familiares: o coronel, sua filha (Isabel) e seu neto. Desta forma, um estilo narrativo sempre em primeira pessoa, permite identificar quem é o atual falante através de suas impressões e visão de mundo. O coronel recorda toda a trajetória daquele homem, desde sua primeira aparição, tentando compreender os motivos para que tenha agido de forma não compatível com sua profissão e preferido a desaprovação popular. Por sua vez, Isabel destaca o temor pelo ódio do povo e as más impressões que aquela obra de misericórdia poderia provocar, visto que aquele era um homem desgraçado. Primeira vez diante de um defunto, o discurso do menino foca os fatos sequenciais à morte daquele homem, como a chegada a visão do corpo, o velório e a procissão do enterro.
Aquele homem havia aparecido em Macondo de forma repentina dirigira-se à casa do coronel, ainda na época em que sua esposa era viva. O coronel apiedara-se daquele homem taciturno e de poucas palavras e lhe oferecera pousada, sendo que, a partir de então, ele saíra de sua casa somente dentro do caixão. Algum tempo depois, descobriu-se que o misterioso indivíduo era médico e, em decorrência disso, dois fatos suscitaram o sentimento coletivo de ódio e rancor, que atacaria diretamente o coronel, ao desejar um enterro cristão para o infeliz. No primeiro, durante uma época de guerras civis, o médico negara prestar seus serviços aos feridos. No segundo, tendo-se envolvido com Meme, uma índia que servia à família do anfitrião, quando esta caíra em uma febre mortal, novamente o médico negou-lhe assistência, sem nenhum motivo aparente. Tamanha indiferença ao sofrimento alheio suscitou uma onda de revolta nos habitantes, de forma que viam com indiferença a todos aqueles que prestassem alguma ajuda ao médico, como se compartilhassem de sua natureza impiedosa.
Outros personagens secundários são abordados nas reflexões dos protagonistas: Meme, a mulher que teve um caso com o médico; Martín, esposo de Isabel; Adelaida, madrasta de Isabel; “El cachorro”, apelido dado ao padre que chegou a Macondo no mesmo dia em que o médico, e que era conhecido por suas ideias subversivas.
Do início ao fim, o trabalho com a questão do tempo é uma marca importante desse livro de Gabriel García. Ao mesmo tempo em que os fatos do presente ocorrem, as reminiscências do passado intercalam lembranças e impressões que denotam a representação de mundo dos personagens. Isso aponta traços de um realismo mágico, uma vez que joga com as diversas formas de manipulação do tempo, porém sem o desfocar de sua localização existencial na obra. Muito mais do que narrar fatos, essa técnica serve para acentuar impressões, de forma que muito da psique dos narradores é revelada.
       O fato inicial– a morte do médico – aguça curiosidade que acompanhará o leitor por todo o livro: quem era esse homem e porque sua morte significa tanto. O resto será um juntar de peças, como num quebra-cabeça literário em que o leitor pode desenvolver suas habilidades em desvendar a psique dos personagens do texto. Daí nasce outra consequência importante e magnífica: seria aquele homem de fato uma pessoa má ou aquele povo tornara-se mal ao não compreender o médico em seu ser mais profundo?

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:        Hojarasca, La
Autoria:      Gabriel García Marquéz
Editora:      Debolsillo
Ano:            2008
Local:          Barcelona
Edição:        1ª
Gênero:      Drama

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