terça-feira, 22 de julho de 2014

Aventuras de Alice no País das Maravilhas (Lewis Carrol)



            Originalmente publicada em 1865, Alice no País das Maravilhas é o conto de maior sucesso de Charles Lutwidge Dodgson, que utilizou o pseudônimo Lewis Carrol como assinatura. A obra logo se tornou universalmente aclamada e um clássico do universo infantil, ganhando várias adaptações para o teatro, cinema e desenho animado.
            Alice é uma garotinha que, certo dia, vê um coelho falante correr apressado pelo jardim com um relógio na mão e o persegue. Porém, o coelho se esconde em uma toca e, movida pela curiosidade, Alice cai dentro do buraco, indo parar em um mundo literalmente onírico e povoado por criaturas mágicas nunca antes vistas no universo real. Alice vê um frasco e bebe seu conteúdo, ficando extremamente pequena. Depois vê um bolo e o come, ficando absurdamente grande. E assim muitas outras descobertas se materializam, vindas de um mundo até então concebido somente em sonhos.
            Inventividade é uma palavra chave na obra Alice no País das Maravilhas. Um dodô neurótico por corridas que não levam a lugar nenhum; uma lagarta a fumar seu narguilé, sempre pronta a dar os melhores conselhos; uma rainha raivosa a ordenar que as cabeças de seus súditos fossem cortadas, sempre que lhe faziam algo em desagrado; um gato misterioso a pairar pelo ar; um chapeleiro louco viciado em tomar chá com seu companheiro, um coelho velho. Essas são apenas algumas das personagens para lá de intrigantes que Alice encontra naquele universo imaginativo.
            Não bastassem figuras cômicas e dotadas de características nada peculiares (uma lagarta que fuma, um gato que voa, animais que falam, bebidas e alimentos com poderes mágicos, etc.) o enredo também possui frases misteriosas e incompreensíveis. Uma das mais famosas é a charada proposta pelo Chapeleiro Louco a Alice: qual é a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha? Pior que encontrar tal semelhança é o leitor ter que se conformar com a ausência da resposta durante todo o livro.
            Em meio a tamanha fantasia, o livro suscita algumas questões: afinal, qual é o escopo do enredo? Onde Alice teria de chegar ou o que teria que fazer?        Qual a finalidade de todas as imagens que surgem e como elas se encadeiam para formar a história. A verdade mesmo é que a obra pode ser interpretada de várias formas, não se limitando a nenhuma delas. Para uns, pode ser símbolo do universo criativo das crianças; para outros, representa o encanto que a adolescência permite diante de tantas novidades; outros ainda dirão que é a representação do adulto que não deixou morrer em si a criança que foi um dia. Desta forma, a avaliação final desse clássico caberá à forma como cada um irá encarar toda a trama de nonsense que a criação de Lewis Carrol convida.
            Apesar das criaturas fantasiosas de Carrol, a história tem origem em uma de suas viagens reais. Durante um passeio a barco, Carrol contava uma história a três meninas (uma, por sinal, chamava-se Alice) e elas pediram que ele a escrevesse. E assim o fez, também enriquecendo o enredo com ilustrações de sua própria autoria. Mesmo sendo um conto infantil, Carrol não perdeu a oportunidade de satirizar a corte vitoriana inglesa. Em sua obra, tal sátira se expressa principalmente nas figuras do rei e da rainha de copas. Também o nome do Chapeleiro Maluco relaciona-se a um ditado inglês "To be mad as a hatter" (tão maluco quanto um chapeleiro) já que os ingleses acreditavam que o mercúrio usado para fazer chapéus deixava as pessoas loucas. Influências à parte, a história de Carrol é a tradução do universo onírico, onde tudo é permitido e nada é proibido.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:        Aventuras de Alice no País das Maravilhas
Autoria:      Lewis Carrol
Editora:      Objetiva
Ano:           2008
Local:         Rio de Janeiro
Edição:      
Gênero:      Fantasia | Nosense

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2010:

 

sábado, 12 de julho de 2014

O Ano de 1993 (José Saramago)


José Saramago é um escritor português famoso por seu estilo literário inteiramente próprio e pelo tom de ateísmo em seus escritos. Suas obras tiveram títulos adaptados para os palcos de teatro ou para as telas do cinema, como O Conto da Ilha Desconhecida e Ensaio sobre a Cegueira. Na obra em análise temos uma quebra do estilo de Saramago até então, de forma que o autor realiza uma mesclagem entre a fantasia poética e a prosa narrativa.
Embora sendo uma história curta, O Ano de 1993 traz uma temática indefinida sobre o escopo que compõe a estrutura dos fatos. Em uma análise do conjunto da obra, esta poderia ser definida como uma espécie de narrativa psicodélica em que os fatos narrados são sem nexo e sem conexão entre si. Não há personagens ou locais específicos, mas o que salta à vista é a impressão de uma cidade devastada, cujo senso de organização político-social foi seriamente quebrado. No entanto, esse plano de fundo é compreensível por se tornar o horizonte de sentido do contexto. Trata-se propriamente da narrativa descritiva do estado deplorável de um lugar que já fora belo e radiante.
Publicado em 1975, O Ano de 1993 traz influência do contexto histórico ocorrido há pouco em Portugal, da Revolução dos Cravos, que derrubara a ditadura salazarista. Desta forma, Saramago projeta em um futuro ainda distante – ano de 1993 – o retrato de uma sociedade corrompida e destruída pelos horrores da guerra, acreditando que seria esse o desfecho que ela acarretaria. Isso explica também o clima de melancolia, sobriedade e tragédia presente nas entrelinhas da narrativa.
Embora sem possuir uma linha de pensamento única, conforme foi dito anteriormente, alguns temas são evidenciados nos capítulos do texto: sexualidade, perpetuação da espécie, extinção, colapso social, religiosidade adaptada à circunstância, civilização em crise, etc.. Por meio deles, o autor delineia traços de indivíduos surpreendidos pela desestruturação iminente e obrigados a conduzirem suas vidas, independente da crise em que se encontram. Aqui é interessante notar os movimentos que são feitos diante da necessidade incontestável de adaptação e da missão moral de garantir a identidade enquanto civilização. Talvez seja um lapso de esperança que emana do sentimento, mesmo que fraco e abalado, do desejo tão humano de reconstrução e recomeço daquilo que fora completamente destruído.
O Ano de 1993 é um diferencial na produção de José Saramago. Nasce do imaginário do autor diante de um fato real da história de seu país. Como um todo, a ideia é de um horizonte apocalíptico. Com isso, Saramago de certa forma alerta para um final inevitável que o conflito sobreposto à diplomacia poderia ocasionar.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:         Ano de 1993, O
Autoria:       José Saramago
Editora:       Companhia das Letras
Ano:            2007
Local:          São Paulo
Edição:       
Gênero:       Épico

quarta-feira, 2 de julho de 2014

O Guia do Mochileiro das Galáxias (Douglas Adams)


           De toda a literatura de ficção científica os livros da série O Mochileiro das Galáxias talvez sejam os mais engraçados e também uns dos mais complexos de serem entendidos. Essa primeira obra da série dá uma ideia do caminho que os outros livros irão trilhar, bem como convida a imergir dentro de toda a paranoia galáctica, aparentemente sem nexo ou lógica, se levarmos em conta aquilo que estamos acostumados a ver em nosso mundo, uma ínfima partícula do universo.
            Tudo começa de maneira inusitada quando Arthur Dent acorda. Parecia ser mais um dia típico, não fossem os tratores a postos para destruírem sua casa, com o objetivo de construir uma estrada. Arthur tenta impedi-los, mas seu amigo Ford Prefect (que por sinal era um alienígena infiltrado entre os humanos) lhe diz que estava se preocupando à toa, já que o planeta Terra seria destruído dali a poucos minutos. Parecia uma ideia tosca, mas a profecia se cumpre quando uma nave Vogon surge anunciando o fim iminente, já que o governo intergaláctico tinha planos de construir uma via expressa no hiperespaço. Os Vogons eram uma raça desagradável, extremamente burocrática, que odiava mochileiros e, segundo recomendações, devia-se evitá-los quando quisessem ler poemas. Curiosamente, temiam toalhas, de forma que o melhor conselho para que alguém sobrevivesse era “saber onde estava sua toalha”.
            Com a destruição da Terra, Arthur é levado para nave onde fica conhecendo o famoso Guia do Mochileiro das Galáxias. Publicado pelas editoras de Ursa Menor, o guia era o livro mais importante de todas as eras, reunindo todos os conhecimentos necessários a um mochileiro. Seu lema principal: “Não entre em pânico”. Arthur e Ford embarcam na nave Coração de Ouro, e são levados à presença de Zaphod Beeblebox, presidente da galáxia. A nave era a primeira a utilizar o Gerador de Probabilidade Infinita, que permitia locomover para qualquer parte da galáxia, em questão de segundos. Nela Arthur também se encontra com Trillian (anteriormente conhecida como Tricia McMillan), que ele tentara namorar tempos atrás.
            A história se desenvolve com fatos meio hilários e desconexos. Auxiliados pelo robô Marvin, o grupo tenta encontrar o planeta Magrathea que, como reza a lenda, possuía um computador que havia dado a resposta para a pergunta fundamental sobre a vida, o universo e tudo o mais. Como a resposta não satisfez aqueles que a receberam, o computador afirmara que o essencial era saber qual a questão fundamental. Na procura por essa questão fundamental os mochileiros encontram um estranho planeta cuja razão de ser era fabricar outros planetas. Um de seus trabalhadores, cuja especialização era desenhar os fiordes, leva-os a conhecer a cópia do planeta Terra que ficara guardada nos arquivos. Com isso a possibilidade de novamente ter seu planeta de volta é reconsiderada por Arthur. Contudo, uma descoberta impressionante a respeito dos financiadores do planeta Terra deixá-lo-ia embasbacado.
            Como demonstrado, a história inventada por Douglas Adams não possui um nexo definido. Assemelha-se muito a um estilo nonsense cujo escopo é a ficção científica. Mesmo assim, o autor trabalha questões filosóficas, políticas e humanitárias – temperando-as com um acentuado tom de sátira - na medida em que desenvolve toda a trama. Também vale destacar sua criatividade ao inventar um universo com recursos avançados e tecnológicos, uma atitude visionária muito parecida com aquela que Júlio Verne teve em Viagem ao Centro da Terra. Mesmo tendo sido escrito há mais de 30 anos (1979) o enredo é absolutamente atual, graças a seu renovado senso de humor intergaláctico, capaz de romper os limites temporais.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:            Guia do Mochileiro das Galáxias, O
Autoria:         Douglas Adams
Editora:         Arqueiro
Ano:              2010
Local:            São Paulo
Edição:          1ª
Série:             Mochileiro das Galáxias, O - Livro I
Gênero:         Ficção científica | Nosense  

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2005: