sábado, 6 de abril de 2013

Auto da Compadecida (Ariano Suassuna)



         Totalmente enraizada na cultura brasileira, a obra Auto da Compadecida (1955) surge da tradição nordestina. Como é esclarecida por seu próprio autor, a peça de teatro não foi completamente inventada em sua mente, mas surgiu a partir dos poemas e romances de literatura de cordel. Dentre esses, os que mais influenciaram foram O Dinheiro (Leandro Gomes de Barros), História do cavalo que defecava dinheiro (anônimo) e O Castigo da Soberba (anônimo). Em cada ato da peça escrita por Suassuna, os traços e paralelos com esses textos são bastante visíveis.

        Na pequena cidade nordestina de Taperoá, viviam dois amigos: João Grilo e Chicó. O primeiro, esperto e inteligente, usava de sua astúcia para livra-se de situações embaraçosas ou se beneficiar delas. O segundo, medroso e indeciso, por vezes atrapalhava os planos do amigo, fazendo com que fossem desmascarados. Assim viviam a vida tranquilamente no povoado, até que um fato inusitado mudara o rumo de tudo.

        Os patrões de João Grilo, um padeiro e sua mulher, haviam perdido um cachorro que estava doente e muito estimavam. Diante de tal afeto, João Grilo e o amigo Chicó procuram o padre, para que faça o enterro do animal com todas as honras das exéquias. Em um primeiro momento assustados com tal horrendo sacrilégio, o padre e o sacristão somente se deixam convencer quando João Grilo os engana dizendo ser o animal de um habitante de renome em Taperoá. Este, Antonio Moraes, procura o padre para que benza seu filho doente e fica alarmado quando o clérigo se dirige a ele como se seu filho fosse um animal. Mesmo a contragosto, o padre autoriza o sacristão a fazer o enterro em latim. No entanto, a situação se agrava ao chegar aos ouvidos do bispo, bem como os maus tratos que Antonio Moraes recebera.

        O envolvimento do bispo na história faz João Grilo recorrer a um novo estratagema: a afirmação de que o cachorro deixara um testamento concedendo alguns valores aos ministros da igreja. Bispo, padre e sacristão aceitam revisar o cometimento do pecado mas um novo personagem muda o curso da história. O cangaceiro Severino e seu capanga chegam à cidade e matam os religiosos, o padeiro e sua mulher. Ao chegar a vez de João Grilo e Chicó, mais uma vez a astúcia de João livra o amigo, ao preço de sua própria vida, depois de morrerem o cangaceiro e seu comparsa.

        No terceiro ato dá-se o julgamento dos réus diante de Manuel (vulgo Jesus Cristo) e do Encourado (o demônio). As acusações aos religiosos de sodomia, interesses contrários ao evangelho e mau cumprimento dos ritos eram graves. Ao padeiro pesava a queixa de explorar os funcionários e a sua mulher, a acusação de adultério (por sinal, cometido com Chicó). Aos cangaceiros, o fato de serem assassinos. Por fim, a João Grilo vinha a acusação de enganador e mentiroso. Os pecados cometidos eram graves e até mesmo Manuel via a dificuldade na salvação. Porém, o apelo a Virgem Maria, a Compadecida, transformaria toda a história, por incrível que pareça, graças a mais uma das artimanhas de João Grilo.

        Uma das características mais marcantes dessa obra é seu acentuado tom cômico e humorístico. A reprodução quase literal das falas dos personagens com o típico sotaque regionalista ajuda a ilustrar divertidamente a cena no imaginário do leitor. Um grande sucesso não só na literatura como também em suas adaptações para os palcos e para o cinema.


SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 35ª ed.. Rio de Janeiro: Agir, 2005. 188 pgs.


Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2000:
  

 

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