As histórias sobre amizade são naturalmente
especiais por retratarem momentos simples mas significativos da vida dos amigos.
Um passeio, uma conversa informal, um encontro casual revelam a diferença que a
simples presença do outro pode ocasionar. Nesta obra, tal relação é demonstrada
em toda a sua profundidade, porém em outro plano: a amizade entre um cachorro e
seu dono.
John e Jenny Grogan eram recém-casados, viviam
em West Palm Beach (Flórida), trabalhavam como jornalistas e faziam planos para
o futuro. Entre eles, estava o de terem filhos, mas a experiência desastrosa de
Jenny no cuidado com uma simples planta, lhe fez acreditar que ela não estava
preparada para tornar-se mãe. Diante disso, uma experiência com outro ser vivo
talvez lhe ajudasse antes de conceber uma criança de fato. Nesse contexto,
entra na vida do casal o cachorro Marley, que iria mudar completamente a vida
da família.
Marley era um filhote de labrador que, inicialmente
encantou o casal pelo jeito meigo e carinhoso. Porém, aquele animalzinho que
mais parecia um inofensivo bicho de pelúcia logo cresceria e extravasaria toda
a sua energia, levando seus donos à loucura. Marley cresce em tamanho mas
conserva seu instinto hiperativo, brincalhão e bagunceiro, sempre carinhoso e
leal, o que se tornou o mimo de John e Jenny.
Passado um período de “estágio” com o cachorro,
o casal Grogan decide ter seu primeiro filho. No entanto, essa primeira
tentativa se transformara em uma angústia em suas vidas, já que a criança
nascera morta, estando Jenny na quinta semana de gravidez. Arrasados por isso,
acreditavam que o motivo para tal fora o uso de pesticidas no combate a insetos
em sua nova casa, durante a gestação. No entanto, a tristeza provocada por esse
fato não roubou do casal o sonho de ter filhos. Se eles eram capazes de cuidar
de um animal que, aparentemente era o “pior cão do mundo”, por que não seriam
capazes de cuidar de uma criança?
A natureza elétrica de Marley levou os Grogan a
adotarem medidas de educação canina. Informado da boa reputação de tal método,
John passou a levar Marley a aulas de adestramento animal. Porém, sua
intransigência e indisciplina fizeram com que os outros cães ficassem dispersos
nas aulas e que a tutora expulsasse Marley, alegando que ele era novo demais
para ser submetido a medidas educativas. Caberia aos próprios donos a tarefa de
ensiná-lo a não pular nas pessoas durante os passeios, não cavar buracos pelo
quintal, não comer as roupas do varal, conter seu apetite voraz e etc..
Contudo, o principal desafio seria controlar o ataque frenético e descontrolado
de Marley diante das crises de pânico provocadas pelos barulhos dos trovões.
Todas as confusões e encrencas que Marley
colocou seus donos somente os faziam estimar cada vez mais sua companhia. O
convívio com o cão mostrava-lhes também a importância de levar a vida de forma
leve e divertida, como se nada fosse sério ou realmente importasse. Assim,
recuperados do grande baque que o aborto provocara, John e Jenny tentam uma
nova gravidez e obtêm sucesso como o nascimento de Patrick. Mais tarde, outros
dois filhos, Conor e Collen (a única menina), viriam completar a alegria do
casal. No nascimento de Conor, uma depressão pós-parto de Jenny quase custou a
despedida de Marley da casa, devido a sua impaciência diante das estripulias do
animal.
O tempo passou e novos acontecimentos se
sucederam na vida da família. John buscava inovações na carreira profissional
e, diante da oferta para ser colunista do The
Philadelphia Inquirer, se muda com a esposa, os filhos e o cão para Boca
Raton, zona rural da Pensilvânia. Marley também já era um cão idoso e, após 13
anos de intensa atividade, vinha apresentando sérios problemas de saúde como
fraqueza nas patas traseiras, artrite, surdez, além de um problema gástrico
corrigível apenas por uma intervenção cirúrgica de alto custo. Mesmo
inconformados, restava aos Grogan se prepararem para a cruel despedida de um
cão que havia marcado suas vidas tão intensamente. Jamais se esqueceriam das
peripécias de um cão que havia feito tudo em vida: estrelado como artista de
uma gravação cinematográfica, “fechado” uma praia pública para cães, evitado
que uma jovem de 17 anos fosse morta após ser esfaqueada, além de ser o motivo
de alegria da casa por tantos anos.
A história de Marley & Eu é, acima de tudo, uma história real. O autor foi
encorajado a relatar seu convívio com o animal após publicar um artigo na
coluna em que escrevia, pouco depois da morte de Marley. Os leitores se
empolgaram em contar experiências semelhantes que tiveram com labradores e cães
de outras raças. Nela, encontramos fatos hilários, cenas intrigantes e também
trechos dramáticos que demonstram a importâncias das relações, por serem tão
frágeis e singelas. Rapidamente o livro se tornou um dos mais vendidos no mundo
todo e ganhou também uma adaptação para as telas do cinema pela 20th Century
Fox. Enfim, a história demonstra sutilmente a consolidação do dito popular de
que “o cão é o melhor amigo do homem”.
GROGAN,
John. Marley & eu: a vida e o amor ao lado do pior cão do mundo.
São Paulo: Prestígio, 2006. 268 pgs.
Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2008:
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