A história desse romance se passa em Londres,
durante a década de 1820. A julgar pelo título, tem-se a impressão de que a
narrativa abordará algum tema de suspense, até mesmo apimentado com um pouco de
terror. Contudo, tal expectativa não é correspondida, de forma que a história
apresenta-se de uma forma pouco instigante e até mesmo sem um desfecho
convincente.
Gabriel Swift é órfão e chega à capital
inglesa, onde começa suas aulas com o professor de anatomia Edwin Poll, sob
recomendação de seu tutor. Era sua chance de salvar seu futuro, construindo uma
carreira sólida no ramo da medicina. As leis daquela época eram bem rigorosas
em relação às autorizações para a necropsia, de forma que somente corpos de
criminosos devidamente autorizados pela justiça poderia ser submetidos aos
estudos de exumação. Nesse contexto, o contrabando era a melhor alternativa
para que o ensino da anatomia não fosse prejudicado. Lucan era um dos
principais fornecedores desse comércio macabro, saqueando os túmulos dos
cemitérios a fim de obter a matéria-prima que era tão importante para os
anatomistas. Quanto mais frescos e em menor estado de decomposição os corpos
fossem obtidos, maior era o valor que os professores pagavam por eles.
Gabriel não era um aluno vocacionado para a
medicina. Seus talentos eram mais desenvolvidos em desenhar as partes que eram
dissecadas. No que diz respeito à sua vida amorosa, nutria uma grande afeição
por uma prostituta famosa cujo nome era Arabella além de ser um viciado em
ópio. Incomodava-o o fato de que tinha de se conformar em dividir a pessoa
amada com outros homens, ao ponto de tal paixão levar Gabriel a agredir a
pessoa errada, de forma que não lhe restara outra punição senão a dispensa do
quadro de discentes do professor Poll. Sem dinheiro e largado pelas ruas, Lucan
acaba envolvendo Gabriel em seu ofício macabro de conseguir defuntos e lucrar
com esse negócio. Contudo, a obsessão de Lucan pelo lucro levaria a uma onda de
assassinatos, no intuito de conseguir vender corpos ainda mais frescos e obter
um melhor pagamento com isso. Gabriel se perde no vício e, principalmente,
nesse trabalho sujo, perdendo até mesmo sua própria identidade e subvertendo os
valores que o ópio ainda não apagara de sua consciência.
Não obstante o resumo anterior seja mais do que
suficiente para que um autor de sucesso construa uma história instigante, não é
o que acontece com O Ladrão de Cadáveres.
Por outro lado, o que temos é uma narrativa cansativa, sem um escopo e um
objetivo claros, com personagens confusos e poucos diálogos. Somente a divisão
em capítulos curtos é capaz de torná-lo menos monótono. A obra divide-se em
duas partes e a segunda tem como objetivo esclarecer um pouco os acontecimentos
consequentes da primeira, principalmente depois de Gabriel envolver-se nos
assassinatos para sustentar seu vício em ópio. De forma um tanto pior, essa
segunda parte deixa a desejar no quesito desenvolvimento e desfecho. Com tantas
críticas negativas, talvez possamos tirar bom proveito desse livro se o lermos
sob a ótica da reflexão que ele traz sobre algumas dicotomias: vida/morte,
vício/prazer, honestidade/corrupção, amor/possessão, etc.. Enfim, é o tipo de
obra cuja apresentação visual da capa e o título aguçam o interesse, mas cujo
enredo desafia o leitor a investigar a verdadeira mensagem que o autor e
principalmente o protagonista ansiaram por transmitir. Trata-se de um livro que
trabalha mais com a reflexão ao invés de fornecer um entretenimento leve e
divertido.
REFERÊNCIA
LITERÁRIA
Título: Ladrão de Cadáveres, O
Autoria: James Bradley
Editora: Record
Ano: 2013
Local: Rio de Janeiro
Gênero: Drama
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