Esse é um livro de memórias reais em que o
autor relata a experiência trágica que o converteu de um homem livre em um
escravo por doze anos, na metade do século XIX. Foi o texto que inspirou a
adaptação para o cinema lançada em 2014, vencedora de 3 Oscars.
Solomon Northup era um homem negro
que levava sua vida normalmente junto à mulher e os filhos em Saratoga Springs (Nova
Iorque). Dentre seus talentos estava o de ser um excelente violinista. Certo
dia, deparou-se com uma dupla de homens que lhe ofereceram uma oportunidade
única e imperdível de trabalho. Dividido entre a comunicação com a família e a
impossibilidade de perder aquela oferta, Solomon decide partir junto com os
homens, ainda mais porque os homens providenciaram toda a documentação que lhe
assegurava a condição de homem livre. Tragicamente, tratava-se de uma farsa, e
os documentos falsos acabaram por torná-lo a mais nova vítima do regime
escravista reinante àquela época nos Estados Unidos.
Solomon foi embarcado a bordo de um
navio com outros negros – homens, mulheres e crianças – na mesma condição. Era
o início de um pesadelo que minava todos os seus sonhos de gozar os benefícios
de uma vida livre. Qualquer tentativa de provar sua liberdade era logo punida
com açoites e castigos atrozes, tornando a submissão um alívio menos penoso,
embora não mais aceitável. Logo, logo Solomon entenderia que, na condição de
negro escravo, não lhe restava qualquer palavra senão àquelas suficientes ao
cumprimento da vontade de seu senhor.
Durante sua escravidão nas fazendas
de Bayou Boeuf, Solomon foi vendido a vários senhores. Em certo momento foi
apelidado de Platt, o que tornou seu verdadeiro nome desconhecido naquela
sociedade escravocrata. Suas habilidades como músico, a disciplina de sua
conduta e produtividade no desempenho dos trabalhos tornavam-no um escravo de
valor considerável. Seus relatos reconhecem o Sr. William Ford como tendo sido
um patrão bom. Contudo, Solomon teve atritos com Tibeats, que quase o levaram a
ser castigado até a morte. Mas foi nas fazendas de Edwin Epps que Solomon
passou a maior parte dos seus anos como escravo, assim como as mais terríveis experiências.
As terras de Epps ficavam em
Marksville (Louisiana), mais precisamente na Paróquia de Avoyelles. A população
negra era submetida a um tratamento semelhante em todas as fazendas escravistas
dos EUA. Cada escravo possuía como bens a roupa do corpo, geralmente feita de
algodão cru, uma cabaça e uma saca de algodão que eram também seus utensílios
nas lavouras de algodão e cana-de-açúcar. Aqueles que faziam algum trabalho
extra ou que se destacavam de alguma forma podiam receber roupas, alguns adornos
(para as mulheres), algum outro objeto e até mesmo alguns trocados. Seu
alimento era basicamente uma ração feita de milho triturado e toucinho, sendo
que as condições deste nem sempre eram apropriadas ao consumo. Apesar de não
ser uma prática comum, não havia restrição de que os escravos se casassem. Caso
algum escravo necessitasse visitar parentes em outra fazenda próxima, era-lhe
concedido um salvo-conduto. Desse modo, ainda que fossem pegos no caminho por
algum feitor (funcionários extremamente violentos, contratados pelos senhores,
responsáveis por punir escravos fugitivos), não lhes caberia nenhum castigo. Os
escravos trabalhavam forçadamente nas lavouras o dia inteiro, fizesse sol ou
chuva. Aqueles que não atingissem uma produtividade mínima eram castigados
severamente ao fim do dia, indistintamente se homens ou mulheres. O único dia
em que era-lhes concedido descanso era no Natal, quando festejavam e dançavam
alegremente.
Um negro feito escravo dificilmente
retomaria sua liberdade novamente. Contudo, Solomon usou sua perspicácia para
alcançar seu objetivo. Em uma primeira tentativa de enviar uma carta aos seus
conhecidos, o mensageiro o traiu e, por pouco escapou da ira de Epps. Na
segunda, um carpinteiro dotado de ideias antiescravistas foi fundamental na
libertação de Solomon em 1853. Era Bass, que topou arriscar a própria segurança
em nome da liberdade daquele cativo duramente injustiçado.
A narrativa do autor possui um
estilo essencialmente descritivo dos fatos, deixando que o próprio leitor absorva
e reprove os abusos cometidos pelos senhores de escravos. Os relatos são
comoventes e dramáticos, principalmente aqueles que narram os castigos
aplicados aos negros, sempre injustificados por tamanha covardia e violência,
de forma que, quando as feridas não matavam o escravo, imprimiam em sua pele
cicatrizes e sequelas terríveis. Trata-se de uma obra bastante atual para que
os temas do racismo e da discriminação racial sejam novamente colocados em
debate, a fim de que tais atrocidades jamais venham a ser cometidas novamente.
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título: 12 Anos de Escravidão
Autoria: Solomon Northup
Editora: Penguin: Companhia das Letras
Ano: 2014
Local: São Paulo
Gênero: Escravidão | Autobiografia
Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2013:
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