sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Tuya (Claudia Piñeiro)



             A literatura argentina não é algo tão famoso pelo mundo tanto quanto a música e o romantismo das cidades desse país. Portanto Tuya traz uma amostra dessa manifestação artística, através de uma trama ricamente elaborada. O resultado é uma novela dramática que convida a uma reflexão para além da própria história.
            Inés é uma mulher descontente pois, havia algum tempo, seu marido, Ernesto, não a satisfazia com as relações sexuais e parecia não se importar com o longo tempo de abstinência. O casal tinha uma filha, Lali, que não se relacionava com a mãe tão bem quanto com o pai e, então com 17 anos de idade, dava mostras de vir sentindo alguma perturbação, devido às suas mudanças comportamentais. Desta forma, a família vivia seus dias, cada um conservando mais uma atitude individualista que um verdadeiro espírito de diálogo e união.
            A estranheza daquele clima familiar move Inés a desconfiar que seu marido a estava traindo, de forma que ela mesma se põe a investigá-lo. Em uma noite, ao segui-lo às ocultas até o Lago de Palermo, Inés presencia como única testemunha, um terrível incidente no qual a mulher com quem Ernesto estava, Alicia, morre ao bater a cabeça em uma pedra, após uma discussão com Ernesto, e este, para ocultar o fato, lança o corpo no lago. Mesmo sabendo da enrascada em que o marido havia se metido, Inés opta pelo silêncio e se põe a continuar suas próprias investigações sobre o caso.
            Algumas semanas se passaram e a polícia estava longe das provas que incriminariam o verdadeiro homicida. Em uma inspeção no apartamento de Alicia, Inés descobre provas suficientes para incriminar Ernesto da traição, mas não tem claros os vestígios que apontam ser Alicia sua amante. Isto porque havia um terceiro nome envolvido: Charo, que era o nome profissional para a fotógrafa e sobrinha de Alicia, Amparo Sonria, filha de um doutor famoso. O caso se tornava cada vez mais obscuro, principalmente porque havia algumas cartas escritas a Ernesto e assinadas por "Tuya". Afinal, quem seria "Tuya"? Como encaixar as peças desse enigma e descobrir toda a verdade acerca dos fatos? "Tuya" de fato seria o nome de algum dos personagens da novela ou seria um termo usado pela autora para representar a ameaça sentida por Inés ao seu matrimônio?
            Analisando superficialmente o resumo da novela, parece possuir uma trama simples mas, mesmo assim, atraente. Contudo, outros fatores enriquecem a estrutura da obra. A narrativa mescla diversas vozes, das quais a narração de Inés em primeira pessoa é a principal. Em outros momentos, temos o diálogo direto evidenciado nas conversas de Lali ao telefone, falando sobre a descoberta de sua gravidez e o desejo de provocar um aborto em uma clínica especializada. O texto conta ainda com algumas notícias desvinculadas dos capítulos que compõem a trama e que evidenciam sobre a investigação realizada em paralelo pela polícia. Trechos de artigos da medicina forense contribuem para somar ao conhecimento do leitor e convocam-no a levantar suas próprias suposições acerca do ocorrido.
            O romance de Cláudia Piñero não possui uma temática inédita mas sua estrutura contribui para que não seja mais uma novela enfadonha sobre casos de traição. Inés é a figura da mulher decidida e atuante, capaz de ir em busca dos vestígios e fazer bem seu papel de detetive, principalmente através de seus "quadros sinóticos", cruzando fatos, levantando hipóteses, analisando alternativas. Digamos que o desfecho da obra não é algo que sirva de recompensa a todo esse esforço, mas que tal esforço é fruto de uma busca por resposta que recompensa a si mesma.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Tuya
Autoria:    Claudia Piñeiro
Editora:    Alfaguara
Ano:         2008
Local:       Buenos Aires
Edição:     1ª (texto em espanhol)
Gênero:    Drama

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