"Quando eu era
menino, os mais velhos perguntavam:
- O que você quer ser quando crescer?
Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino."
- O que você quer ser quando crescer?
Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino."
Marcado pela simplicidade e
singeleza com que é escrito, esse livro conta a representação de mundo do
menino Fernando e suas peripécias durante sua infância em Belo Horizonte. Lançado
em 1982, a obra escrita em primeira pessoa na verdade possui grande teor
autobiográfico, de forma que revela muito da própria infância do autor na
década de 20, em uma nostalgia que não lamenta o que passou e sim revive as
boas lembranças de um tempo vivido com toda pulsação possível.
As memórias de Fernando iniciam com
o conto da galinha de estimação, Fernanda, que ele ensinara a "falar"
e salvara de ir para a panela. Passam pelas estripulias junto aos amigos, bem
como as enrascadas ao enfrentar o valentão da escola. Vão até seu primeiro
encantamento apaixonante por sua melhor amiga, Mariana, que viria a se tornar
também sua primeira decepção amorosa. E por aí seguem diversas outras histórias
de um tempo gostoso que termina no episódio em que ele se vê como homem
formado, porém desejoso de voltar a ser menino novamente.
Para além das linhas deste romance,
temos um elogio da vida infantil que, com os tempos modernos, a técnica e as
comodidades atuais, vem sendo gradativamente substituída por novas formas de
comportamento que nem sempre libertam o mundo de fantasias das crianças. Nas
memórias do autor, cada detalhe era importante, como a composição de um cenário
bonito que o tempo não seria capaz de apagar. O terreiro de casa, as
advertências dos pais, o coelho Pastoof, o cachorro Hindenburgo e a galinha Fernanda
de estimação, a visita de sua prima Cíntia, o voo pelo céu de Belo Horizonte, o
seu reflexo no espelho transformado em um novo amigo sob o codinome Odnanref...
Ilustrações enriquecem ainda mais a narrativa, como se tivessem sido esboçadas pelo
próprio menino. Tudo transmite a essência de um passado bucólico que, se
possível fosse vivê-lo novamente, ainda que da mesma forma repetida, seria mais
pungente do que o tempo atual.
A obra é também uma jornada para a
Belo Horizonte de décadas passadas, quando se podia brincar tranquilamente em
lugares famosos que hoje foram dominados por todos os problemas característicos
de uma grande metrópole.
Através da prosa simples,
memorialística e muito próxima à linguagem coloquial, Fernando Sabino chama a
atenção para a importância de estimular e deixar livre a imaginação pueril das
crianças. É necessário deixá-las viverem e descobrirem o mundo mágico que as
cerca, sem querer moldá-las para serem pequenos adultos em miniatura. Isso moldará
e condicionará os adultos que elas virão a se tornar um dia. Contudo, talvez a
mensagem mais importante dessas páginas, seja a de que ninguém, por mais vivido
que seja, deve deixar morrer dentro de si a criança que foi um dia.
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título: Menino no Espelho, O
Subtítulo: romance
Autoria: Fernando Sabino
Editora: Record
Ano: 1994
Local: Rio de Janeiro
Edição: 39ª
Gênero: Romance
Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2014:
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