Poucos autores são capazes de criar um
enredo de ficção científica com elementos tão reais, que deixam no leitor uma
certa curiosidade cética acerca da (im)possibilidade da materialização de uma
história semelhante. Em O Parque dos
Dinossauros, Michael Crichton consegue essa façanha, com refinada maestria,
justificando o porquê a obra se tornou um sucesso digno da pomposa adaptação
para o cinema produzida pelo ilustre diretor Steven Spielberg.
A
trama se inicia com o episódio do ataque de um suposto lagarto Basiliscus amoratus a uma criança numa
praia da Costa Rica, o que trouxe um alerta aos pesquisadores da área. Mais
tarde, descobrir-se-ia que, na verdade tratava-se de um procompsognathus, uma espécie de dinossauro, extinta a milhões de
anos. Os paleontólogos Alan Grant e Ellie Sattler haviam sido convidados a
esclarecerem o caso do incidente, visto que tinham um amplo conhecimento sobre
dinossauros. Nesse contexto, são apresentados ao Sr. John Alfred Hammond, o
qual lhes faria um convite, no mínimo, inusitado.
Hammond
era o fundador da International Genetic (InGen), uma empresa especializada em
pesquisas de engenharia genética, que havia comprado a ilha de Isla Nublar, na
Costa Rica, a fim de aplicar seus experimentos. A ideia matriz da InGen era
transformar a ilha numa reserva biológica onde seriam criados animais
jurássicos extintos, obtidos a partir da manipulação genética do DNA do sangue
extraído de mosquitos fossilizados em âmbar (seiva de árvore). Mais tarde, o
empreendimento seria aberto à visitação turística, inaugurando uma ideia
inovadora e revolucionária no turismo ecológico. O escopo principal de tal
empreitada, para além da pesquisa genética, era o lucro, já que representava um
Parque Ecológico Jurássico inédito na história da humanidade. Donald Genaro era
o advogado e conselheiro geral da InGen, que ajudara Hammond na fundação da companhia,
atraindo investidores para as pesquisas e o projeto da ilha. Assim, John
Hammond convida seu advogado, o casal de paleontólogos e Ian Malcolm para uma
visita de fim de semana ao parque. Esse último era um matemático, que aprendera
a fazer a ponte entre o mundo teórico e o mundo real. No que diz respeito à
ilha jurássica, afirmava veementemente a teoria de que sistemas complexos não
podem ser controlados (Teoria do Caos) e a natureza não pode ser imitada.
O
maior deleite de Hammond era que o parque impressionasse principalmente as
crianças e, portanto, levara também seus netos Tim e Alexis para que
integrassem a comitiva. No entanto, o que era para ser um passeio fantástico de
observação de animais pré-históricos, tornar-se-ia uma viagem tenebrosa graças a
uma conspiração.
Denis
Nedry havia trabalhado na programação do sistema do parque. Visando roubar
fetos de dinossauros para comercializá-los, Nedry desligara a força do gerador
principal, iniciando uma catástrofe. Com isso, as cercas de alta tensão e os
sensores de movimento haviam sido desativados, expondo os visitantes aos
temíveis ataques dos dinossauros, que agora transitariam livremente pelo
parque. Dentre todos, os mais temidos eram os abomináveis Tiranossauros Rex e os sagazes Velociraptores,
capazes de exterminarem a todos num único ataque. Não bastasse a necessidade
desesperada de salvar a própria vida, era preciso também correr contra o tempo,
na tentativa de que um barco que partira da ilha para Puntarenas, e que havia
sido invadido por dinossauros, fosse avisado antes de chegar à costa, evitando
pois um ataque continental e a disseminação do pânico pela revelação da
novidade. A sobrevivência era uma questão primordial e o veterinário Harding e
o gerenciador do sistema de controle John Arnold eram peças-chave para que a
força fosse novamente religada e o parque controlado. Porém, a dimensão da
destruição causada pelos animais, mostrar-se-ia como uma catástrofe nunca antes
imaginada por qualquer ser humano.
A
obra de Michael Crichton suscita no leitor um clima de adrenalina e suspense,
desde o início. Não é só a ferocidade das criaturas jurássicas que alimenta o
terror, como também a atmosfera de insegurança, presente principalmente quando
Alan Grant descobre um grande equívoco dos cientistas do parque. Inicialmente,
acreditava-se que os dinossauros não pudessem se reproduzir, já que eram todos
fêmeas. Grant constataria que a origem evolucionária dos mesmos como anfíbios,
provava que isso não era verdade e que o controle do parque não era tão eficiente
quanto parecia. Outras curiosidades teóricas que enriquecem o lado científico
da obra, são a tese de que os dinossauros são mais parecidos com as aves do que
com os répteis e a Teoria do caos, tão defendida por Ian Malcolm, postulando o
comportamento imprevisível de sistemas complexos.
Enfim,
O Parque dos Dinossauros representa
um talismã do que há de melhor na ficção científica literária.
CRICHTON,
Michael. O Parque dos Dinossauros.
São Paulo: Best Seller: Círculo do Livro, [1992?]. 3ª ed.. 474 pgs.
Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 1993:
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