A cidade de Imardin era um local dominado por
alguns grupos hierárquicos como Ladrões, Magos e favelados. Anualmente,
protegidos por um escudo invisível, os magos saiam às ruas para purificá-las
dos inúmeros mendigos e vagabundos que se espalhavam copiosamente. Tal ritual,
conhecido como o Dia da Purificação era justificado por um juramento que tinham
feito ao rei de o servirem e protegerem o reino de Kyralia. Durante um desses
episódios, uma garota, Sonea, decepcionada com aquele abuso, atira uma pedra
contra o Escudo Protetor, que acaba atingindo em cheio Lorde Fergun. Tratava-se
de um fato inusitado e que deixava o clã dos magos em alerta, uma vez que era o
indicativo de que alguém detentor dos mesmos poderes que eles estava à solta na
multidão. Desse momento em diante, o principal escopo dos esforços deles seria
encontrar aquele intruso, uma vez que, caso não aprendesse a dominar os
próprios poderes mágicos, poderia significar uma grave ameaça a todos.
Cery e Harrin eram moradores das favelas e
companheiros de Sonea. Após o acontecido, ambos ajudariam a amiga a se esconder
do clã. Muito embora o ato de Sonea tenha atentado contra a integridade física
de um dos magos mais estúpidos do clã, havia ali também outros magos bem
intencionados como Lorde Rothen, o qual nutria ideias mais equilibradas e
democráticas em relação ao restante da casta. Lorde Rothen queria encontrar a
garota não para puni-la ou amedrontá-la e sim para ajudá-la a controlar seus
poderes. Desta forma, o livro se desenvolve em uma trama de artifícios de ambos
os lados, seja para a captura de Sonea, seja para que ela se veja livre das
intenções escusas do Clã dos Magos.
Embora pautado pelo tema da magia,
caracterizando a obra como um livro essencialmente de literatura fantástica,
direcionado a um público mais juvenil, há que se dar atenção aos temas
políticos que são tratados nas entrelinhas. A cidade de Imardin era
estratificada em castas hierárquicas e o favoritismo do rei aos magos era
evidente, principalmente pelo ritual anual da Purificação. No outro plano
estavam os favelados, excluídos, ladrões, cuja existência era uma afronta aos
poderes constituídos e, portanto, algo a ser duramente combatido. A
inexistência de leis democrática que protejam os direitos dos menos favorecidos
faz com que o universo de O Clã dos Magos
seja paralelo àquele que foi pintado na Idade Média, quando todo o poder se
concentrava nas mãos do rei, usando-o a seu bel prazer. Talvez a casta dos
magos possa ser comparada ao papel que a Igreja exercia naquele tempo e, nessa
comparação, a figura de Lorde Rothen seria a daqueles personagens que, embora
fazendo parte do corpo eclesiástico, tinha ideias mais conciliadoras e buscavam
convencer as hierarquias acerca de uma nova forma de exercerem seu papel na
sociedade.
Primeiro volume da Trilogia do Mago Negro, o universo criado pela autora em O Clã dos Magos possui traços próprios.
A autora investiu em um mundo onde as favelas possuem gírias características e
os alimentos também recebem nomes peculiares. Um glossário e um mapa ao final
do livro servem como material de consulta e ajudam o leitor a compreender
melhor esses traços. Enfim, a história continua no próximo volume, que muito
provavelmente, tratará sobre o treinamento de Sonea e a reação dos magos mais
estúpidos ao saberem que uma favelada era detentora dos mesmos poderes que eles
e, portanto, digna dos mesmos direitos.
REFERÊNCIA
LITERÁRIA
Título: Clã dos Magos, O
Autoria: Trudi Canavan
Editora: Novo Conceito
Ano: 2012
Local: Ribeirão Preto
Série: Trilogia do Mago Negro - Volume I
Gênero: Suspense