"A poesia
é aquilo que se perde na tradução"
(Robert Frost)
Alguns
dos elementos que tornam O Senhor dos Aneis uma obra tão atraente para conquistar milhares de fãs, são os
cânticos e poemas insertos em momentos importantes da trajetória de seus
personagens. Tal característica adorna o episódio narrado, já que transmite
ritmicamente os sentimentos experimentados pelo personagem. Talvez a ausência
desses textos ou sua transcrição em pura prosa, empobrecesse a saga de Frodo e
companhia na destruição do Um Anel.
Na
criação linguística de seu mundo, Tolkien inspirou-se em formatos celtas,
anglo-saxões e de Old English, com uma eventual incursão em modelos do antigo
dinamarquês, islandês e Old Norse. Embora o título dessa obra faça alusão ao
personagem que surge na primeira parte da trilogia – A Sociedade do Anel – os poemas
extendem-se a outros indivíduos da Terra-média, protagonistas ou coadjuvantes. A
obra reúne uma coletânea de lendas e anedotas do Condado, datadas no final da
Terceira Era, com poesias cuja autoria é atribuída aos hobbits, a Bilbo, a Sam
Gangi e aos Elfos. Além das aventuras de Tom Bombadil, os textos também fazem
referência a Fruta d´Ouro, aos Ents, aos Olifantes e várias outras criaturas da
principal obra de Tolkien.
Por
mais literal que seja, a tradução de um texto para outra língua faz com que
elementos importantes se percam durante o processo. Em um texto em prosa, o
conserto desses pequenos deslizes pode ser facilmente providenciado mediante o
emprego de sinônimos que o vocabulário de destino possua ou mesmo por pequenos
ajustes no ordenamento das ideias, de forma que transmitam a essência do
pensamento original. A mesma técnica não obtém tamanho sucesso quando se trata
de um poema, uma vez que a rima e a métrica poderiam ser comprometidas,
deixando nada mais, nada menos do que uma falsificação quase perfeita.
Preocupada
em trazer aos leitores de língua portuguesa as maravilhas dessa obra de
Tolkien, sem, no entanto, deturpar seu sentido original no processo de
tradução, a presente edição traz dois antídotos. No primeiro, a tradução de
William Lagos, um poeta renomado que se preocupou em traduzir a obra em versos
brancos (sem rimas), mas conservando a métrica irregular original. No segundo,
a tradução de Ronald Kymrse, especialista na obra de Tolkien, cujo trabalho
seguiu os parâmetros de uma tradução técnica, observando a rima e a métrica de
Tolkien. Se ainda assim restar a sensação de que falta aquele toque de
originalidade, o leitor conhecedor da língua inglesa poderá se deliciar com a
transcrição do texto original em inglês, conforme redigido pelo próprio autor,
na terceira parte desse livro.
Os
poemas de As Aventuras de Tom Bombadil
não são os mesmos encontrados em O Senhor dos Aneis. Eles também não acrescentam novas informações a um leitor ávido
por detalhes. Entretanto, são uma leitura aprazível e cantada, caso confrontada
com o estilo ricamente descritivo, extenso e sequencial da obra-prima de
Tolkien. Digamos que o leitor se tornará mais conhecedor sobre o próprio
Tolkien e provavelmente fortalecerá sua opinião formada de que ele fora um escritor
ímpar da literatura fantástica, tão imortal quanto seus próprios personagens.
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título: Aventuras de Tom Bombadil, As
Autoria: J. R. R. Tolkien
Editora: Martins Fontes
Ano: 2008
Local: São Paulo
Gênero: Poesia | Fantasia