No mundo contemporâneo a concepção
do Sagrado adquiriu novos matizes de acordo com as influências culturais da
sociedade. No entanto, tal concepção não é algo em falta ou em crise, mas sim
um valor que teve os referenciais modificados com o passar dos anos.
Atualmente, a concepção do Sagrado não remete necessariamente ao território
religioso, mas a uma ideia ou forma de perceber alguma coisa que faz dessa uma
entidade dotada de certa aura de santidade. No fundo, tal aura encontra seu fim
diretamente em Deus, como a entidade suprema e detentora de todos os mistérios,
o Santo por excelência.
Partindo desse conceito, Anselm Grün
busca analisar as diversas concepções do Sagrado na sociedade contemporânea. As
raízes etimológicas para palavra provém da sabedoria grega e remetem a três
significados: hagnos, ou o sentimento
do temor e da veneração religiosos; hagios,
segundo o qual Deus é santo em sua essência e também é santa a sua relação com
o ser humano; hieros, que designa os
locais sagrados onde são executados os rituais de adoração. Além desse
entendimento, a cultura romana define o sagrado como Sancise, ou seja, aquilo que é separado, delimitado, distinguido
por ser imbuído de um poder sacro. O que é oposto a isso é Profanus, ou seja, o que não é sagrado e está fora do seu
território.
Nossa vida está repleta de lugares
sagrados. Esses não precisam ser necessariamente locais onde se pratica o culto
religioso mas podem abarcar um horizonte bem mais abrangente. O lugar sagrado é
o espaço onde se pode sentir e fazer contato com a transcendência. É o local
que favorece a perfeita sintonia do eu com o Totalmente Outro numa dimensão que
se evade da mera experiência cotidiana. Em virtude disso, são lugares que
merecem o devido respeito pela maneira de se comportar, a fim de não romper o
tênue fio da relação como o numinoso. Um templo, o ambiente do lar, o silêncio
do quarto podem tornar-se espaços privilegiados de meditação.
Sagrado também é o tempo, cada vez
mais submetido à ditadura de sua
escassez. Neste tópico, como adepto do cristianismo e, mas especificamente do
catolicismo, Grün ressalta de forma especial o domingo como um dia que deve ser
respeitado e distinto frente aos demais. Deve ser um tempo para se permiti
repousar da lida diária, tornando-o qualitativo por um contato com a dimensão
espiritual que perpassa nosso ser.
Enfim, o indivíduo que reconhece a
importância do sagrado em sua existência, o traduz também em suas ações. Isto
explica porque grandes personalidades da história moderna são admirados por
serem grandes guias espirituais, líderes ou pessoas que deixaram marcas
inesquecíveis, transmitidas de gerações em gerações. Aqui vale destacar também
a importância dos valores de certa forma sacralizados. A disseminação desses
produz o bem estar não só do indivíduo, como da sociedade como um todo. Dessa
forma, a reunião de pessoas em torno de um mesmo ideal é fonte de transformação
do mundo.
A obra de Anselm Grün nos leva a
questionar e nomear nossos próprios referenciais do sagrado: um objeto, um
local, uma pessoa, um modo de vida, um valor. Tudo isso possui traços marcantes
da forma como cada um concebe a transcendência dentro de si. Além do mais, Grün
alerta para a necessidade da Igreja renovar sua pregação missionária, sendo
sábia em adaptar a proclamação de sua mensagem salvífica à forma das pessoas
entenderem o sagrado no mundo de hoje. O importante nisso tudo é despertá-las
para o sentimento de proteção que o sagrado exerce sobre quem dele se acerca.
Afinal, nenhum ser humano é capaz de exercer plenamente sua liberdade, sem
estar consciente da fonte criativa de onde ela brota.
GRÜN, Anselm. A Proteção do Sagrado. Petrópolis:
Vozes, 2003. 102 pgs.
Nenhum comentário:
Postar um comentário