Mundialmente famoso
pelo conteúdo picante, a contracapa do livro já traz o alerta de que é uma obra
não recomendada para menores de idade. Contudo, as insinuações eróticas que o
livro sugere competem com os conflitos psicológicos vividos por suas
personagens, fornecendo elementos importantes para uma análise mais substancial
sobre um relacionamento heterossexual.
Anastasia Steele e
Karen Kavanagh são duas estudantes prestes a se formar que dividiam a moradia e
eram muito amigas. Tão amigas que, tendo uma entrevista agendada com um grande
executivo e, diante da indisposição da amiga por causa de um resfriado, Anastasia
decide ajudá-la indo em seu lugar. Ela não conhecia absolutamente nada do ramo
em que o magnata atuava e nem sobre sua vida pregressa, de forma que ia apenas
munida daquilo que Karen lhe informara. O primeiro contato logo desperta nos
dois uma atração que pediria outra oportunidade para se conhecerem melhor.
Socialmente falando, a
distância entre Steele e Christian Grey era enorme. Enquanto ela era uma
estudante que dependia de seu emprego em uma loja de ferramentas para manter
seus estudos, Grey era dono de uma fortuna considerável e presidente de uma multinacional
de peso. No entanto, a garota possuía os atrativos suficientes para que o
magnata se identificasse profundamente com ela, ainda que essa identificação
não correspondesse exatamente aos anseios que um e outro alimentavam. Enquanto
Anabelle o concebia de forma essencialmente romanceada, Christian via nela um
objeto sexual incrivelmente atraente. É justamente essa divergência que irá
permear todo o relacionamento entre os dois, muito além de todos os encontros
extremamente picantes que ocorrem em variados momentos do livro.
Com uma personalidade
absolutamente controladora, Grey faz uma proposta a Steele, sob pena de colocarem
um ponto final em seus encontros. Ele propusera a ela um "Pacto de Confidencialidade" que seria formalizado através
de um contrato. Esse contrato estabelecia uma relação entre dominante e subordinada,
que possui deveres essencialmente a serem cumpridos por esta. Algumas das
cláusulas ainda faziam referência ao Quarto
Vermelho da Dor: um ambiente equipado com um arsenal de instrumentos
eróticos capazes de potencializarem o orgasmo e fornecerem relações ainda mais
eletrizantes. O ricaço teria satisfeitos seus anseios mais profundos por
relações sexuais apimentadas enquanto a garota seria correspondida em sua busca
por um romance platônico, além de ser agraciada com bens materiais que suas
parcas economias jamais seriam capazes de comprar. Christian buscava a satisfação
de seu ego ninfomaníaco enquanto Ana queria algo recheado de mais romantismo e
compromisso. Contudo, Ana via-se perdida diante dos sentimentos que nutria pelo
ricaço.
A trama vivida pelos
personagens expõe diretamente seus conflitos mal resolvidos. Christian era
completamente averso ao toque, de forma que, em todas as relações ele teria que
manter o total controle da situação, evitando ao máximo a intimidade. No
decorrer da trama, fica claro que tamanha fobia era fruto de uma experiência
traumática que tivera e que lhe munira da necessidade de se manter no polo
ativo em todos os seus empreendimentos. Por outro lado, Anastasia era tímida e
passiva. O status de Grey oferecia-lhe toda a segurança e conforto que
procurava. Todavia, os sentimentos que nutria por ele iam na contramão do
acordo assinado, de forma que ela se via dividida entre o sonho de um futuro
feliz e a desilusão da própria realidade.
A história em si,
constitui-se em uma temática enfadonha de um conflito amoroso desigual e
absolutamente platônico. Mesmo assim, é indiscutível que o livro figura como um
dos campeões de venda da literatura contemporânea, principalmente junto ao
público feminino. Talvez tamanho sucesso se explique basicamente por dois
fatores: Christian corresponde perfeitamente ao imaginário feminino de um homem
ideal: rico, bonito, famoso e romântico (ainda que este último seja interessado!);
a autora é ousada ao explorar de forma tão natural as diversas cenas de sexo,
com detalhes precisos e graduais, alimentando um imaginário erótico tão sonhado
por muitos casais atualmente. O interesse pela continuação da trilogia fica por
conta dos mistérios do passado de Christian que não são claramente abordados
nesse primeiro volume.
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título: Cinquenta Tons de Cinza
Autoria: Erika Leonard James
Editora: Intrínseca
Ano: 2012
Local: Rio de Janeiro
Edição: 1ª
Série: Cinquenta Tons - Vol I
Gênero: Romance | Erótico
Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2015: