terça-feira, 27 de outubro de 2015

Cinquenta Tons de Cinza (Erika Leonard James)



Mundialmente famoso pelo conteúdo picante, a contracapa do livro já traz o alerta de que é uma obra não recomendada para menores de idade. Contudo, as insinuações eróticas que o livro sugere competem com os conflitos psicológicos vividos por suas personagens, fornecendo elementos importantes para uma análise mais substancial sobre um relacionamento heterossexual.
Anastasia Steele e Karen Kavanagh são duas estudantes prestes a se formar que dividiam a moradia e eram muito amigas. Tão amigas que, tendo uma entrevista agendada com um grande executivo e, diante da indisposição da amiga por causa de um resfriado, Anastasia decide ajudá-la indo em seu lugar. Ela não conhecia absolutamente nada do ramo em que o magnata atuava e nem sobre sua vida pregressa, de forma que ia apenas munida daquilo que Karen lhe informara. O primeiro contato logo desperta nos dois uma atração que pediria outra oportunidade para se conhecerem melhor.
Socialmente falando, a distância entre Steele e Christian Grey era enorme. Enquanto ela era uma estudante que dependia de seu emprego em uma loja de ferramentas para manter seus estudos, Grey era dono de uma fortuna considerável e presidente de uma multinacional de peso. No entanto, a garota possuía os atrativos suficientes para que o magnata se identificasse profundamente com ela, ainda que essa identificação não correspondesse exatamente aos anseios que um e outro alimentavam. Enquanto Anabelle o concebia de forma essencialmente romanceada, Christian via nela um objeto sexual incrivelmente atraente. É justamente essa divergência que irá permear todo o relacionamento entre os dois, muito além de todos os encontros extremamente picantes que ocorrem em variados momentos do livro.
Com uma personalidade absolutamente controladora, Grey faz uma proposta a Steele, sob pena de colocarem um ponto final em seus encontros. Ele propusera a ela um "Pacto de Confidencialidade" que seria formalizado através de um contrato. Esse contrato estabelecia uma relação entre dominante e subordinada, que possui deveres essencialmente a serem cumpridos por esta. Algumas das cláusulas ainda faziam referência ao Quarto Vermelho da Dor: um ambiente equipado com um arsenal de instrumentos eróticos capazes de potencializarem o orgasmo e fornecerem relações ainda mais eletrizantes. O ricaço teria satisfeitos seus anseios mais profundos por relações sexuais apimentadas enquanto a garota seria correspondida em sua busca por um romance platônico, além de ser agraciada com bens materiais que suas parcas economias jamais seriam capazes de comprar. Christian buscava a satisfação de seu ego ninfomaníaco enquanto Ana queria algo recheado de mais romantismo e compromisso. Contudo, Ana via-se perdida diante dos sentimentos que nutria pelo ricaço.
A trama vivida pelos personagens expõe diretamente seus conflitos mal resolvidos. Christian era completamente averso ao toque, de forma que, em todas as relações ele teria que manter o total controle da situação, evitando ao máximo a intimidade. No decorrer da trama, fica claro que tamanha fobia era fruto de uma experiência traumática que tivera e que lhe munira da necessidade de se manter no polo ativo em todos os seus empreendimentos. Por outro lado, Anastasia era tímida e passiva. O status de Grey oferecia-lhe toda a segurança e conforto que procurava. Todavia, os sentimentos que nutria por ele iam na contramão do acordo assinado, de forma que ela se via dividida entre o sonho de um futuro feliz e a desilusão da própria realidade.
A história em si, constitui-se em uma temática enfadonha de um conflito amoroso desigual e absolutamente platônico. Mesmo assim, é indiscutível que o livro figura como um dos campeões de venda da literatura contemporânea, principalmente junto ao público feminino. Talvez tamanho sucesso se explique basicamente por dois fatores: Christian corresponde perfeitamente ao imaginário feminino de um homem ideal: rico, bonito, famoso e romântico (ainda que este último seja interessado!); a autora é ousada ao explorar de forma tão natural as diversas cenas de sexo, com detalhes precisos e graduais, alimentando um imaginário erótico tão sonhado por muitos casais atualmente. O interesse pela continuação da trilogia fica por conta dos mistérios do passado de Christian que não são claramente abordados nesse primeiro volume.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:    Cinquenta Tons de Cinza
Autoria:  Erika Leonard James
Editora:  Intrínseca
Ano:       2012
Local:     Rio de Janeiro
Edição:   1ª
Série:     Cinquenta Tons - Vol I
Gênero:  Romance | Erótico

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2015: 

sábado, 17 de outubro de 2015

Filosofia Clínica: propedêutica (Lúcio Packter)



            Essa obra é um encarte de outra homônima publicada em 1997, em que o autor e sistematizador da Filosofia Clínica aplicada no Brasil, Lúcio Packter, visa tecer uma breve apresentação, em linhas gerais, do escopo de pesquisa dessa nova abordagem, bem como a área e modo de atuação do filósofo clínico. Um excelente material para que leigos ou demais interessados no assunto possam conhecer um pouco sobre esse campo terapêutico inovador que vem ganhando bastante espaço desde sua implantação em 1994.
            O autor parte do exemplo de um velho pescador que se dirige ao consultório de um filósofo clínico, a fim de iniciar o processo terapêutico. A partir desse exemplo hipotético, os conceitos são trabalhados de forma a expor o método investigativo da filosofia clínica. Dentre esses, o de representação ocupa um lugar de destaque, em que, recorrendo à tradição daquilo que disseram os filósofos, duas citações servem como balizadores. A primeira é de Protágoras: "O homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são por aquilo que são e daquelas que não são por aquilo que não são" e a outra de Schopenhauer: "O mundo é representação minha". Dessa forma, dá-se a entender que cada pessoa possui uma forma estritamente pessoal de enxergar e lidar com o mundo que a rodeia, sendo que não há verdade ou falsidade nesse aspecto, já que é somente o mundo segundo a representação dela.
            Quando uma pessoa diz que o mundo é desse ou daquele jeito, na verdade ela quer dizer que o mundo o é assim para ela. Isso nem sempre vem ao encontro da forma como as demais pessoas isoladas ou coletivamente concebem o mesmo mundo. Com isso, a filosofia clínica trabalha basicamente duas verdades: a verdade de cada pessoa para consigo mesma e a verdade convencionada ou socialmente aceita. A maioria das crises e problemas existenciais decorre da incompatibilidade entre a representação de mundo de um indivíduo e aquilo que é socialmente estipulado como correto, ético e moral.
            Mediante sessões, o partilhante (aquele que busca o filósofo clínico) exporá o problema que o aflige ou partes dele ao profissional da Filosofia Clínica. Cabe a esse, a tarefa de conhecer a historicidade da pessoa, mediante três etapas:
     1) EXAMES DAS CATEGORIAS: como a pessoa se relaciona com as várias referências que fazem parte de seu mundo (assunto imediato e último, circunstância, lugar, tempo e relações);
     2) PESQUISA DA ESTRUTURA DE PENSAMENTO (EP): análise de como a pessoa se posiciona em sua existência. Trata-se de tudo aquilo que constitui a existência humana: sensações, emoções, conhecimento, pensamento, aptidões, etc.. Essa etapa constitui-se de uma relação de trinta tópicos.
     3) ANÁLISE DOS SUBMODOS E SUAS RELAÇÕES COM A EP: o filósofo verificará como a pessoa vivencia tudo aquilo que a constitui
            Deste modo, ao invés de oferecer soluções prontas e muitas das vezes falhas ao partilhante, o filósofo clínico o tornará mais consciente de si e de sua forma de se portar frente à própria existência. Trata-se de uma atividade constante do todo para as partes e das partes para o todo. Consequentemente, o partilhante terá mais condições de remodelar seus caminhos existenciais e ser mais pleno.
            Em meio a tantas outras abordagens terapêuticas (psicologia, psicanálise, comportamentalismo, etc.) a Filosofia Clínica busca ser uma nova oferta, porém com características bastante peculiares. O método conversa diretamente com as diversas linhas da tradição filosófica, especialmente a epistemologia, lógica, fenomenologia, analítica da linguagem, historicidade e estruturalismo, de maneira que ela efetua um resgate e uma aplicação prática para aquilo que os filósofos disseram durante séculos de história. É outro campo de atuação para o profissional formado em filosofia, já que se restringia ao ensino até então. Em Filosofia Clínica também não há o enquadramento do partilhante em quadros clínicos como normal X patológico, saudável X doente. Partindo do pressuposto de que cada um possui uma maneira própria de interagir com o mundo e que não existe uma forma correta a ser seguida por todos, tais referências tornam-se desumanizantes e seu uso deve ser evitado. Enfim, esse material elaborado pelo próprio sistematizador da Filosofia Clínica apresenta um novo método clínico e devolve à filosofia uma área de atuação que sempre lhe pertenceu durante tantos anos, desde que o ser humano reflete sobre o sentido de sua própria existência.
 
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:        Filosofia Clínica
Subtítulo:  propedêutica
Autoria:     Lúcio Packter
Editora:     AGE
Ano:          1997
Local:        Porto Alegre
Edição:      1ª
Gênero:     Filosofia Clínica | Terapia

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A Morte do Superman - Parte 2 (Dan Jurgens)

            A namorada de Superman, Lois Lane, seus pais, o time de super-herois da DC Comics e toda a cidade de Metrópolis estavam arrasados com a morte do protetor do mundo, provocada pelo terrível Apocalypse. Não havia explicação que satisfizesse a dura queda daquele que era tido como a expressão máxima da força e coragem. Todavia, por todos os lados espalhavam-se rumores de que o corpo de Superman havia sumido do túmulo e ele voltara, muito embora fosse difícil responder quem ele realmente era.
            Quatro figuras surgiram apresentando-se como o próprio Superman redivivo: o primeiro era uma versão do super-herói usando uma viseira (Erradicador). Contudo seu comportamento agressivo e impiedoso com os criminosos colocava em xeque seu selo de autenticidade. O segundo era um garoto a quem a mídia convencionou chamar de Superboy. Este, completamente dado às exibições egocêntricas e à curtição característica da juventude, assinara um contrato com a empresa de Lex Luthor, W-Lex, protegendo os direitos sobre a marca, assim como monopolizando a venda de seu direito de imagem, em detrimento dos outros supostos "Supermans". O terceiro possuía o aspecto de um ciborgue e era aliado ao presidente dos Estados Unidos, com a missão de proteger o país de qualquer ameaça. Finalmente, o quarto era um homem revestido por uma roupa de aço, a quem os repórteres passaram a identificar como sendo o "Homem de Aço". Além do mais, somente neste último, Lois Lane reconhecera uma índole muito próxima àquela que tinha o verdadeiro Superman.
            Enquanto os quatro candidatos se enfrentavam entre si, buscando provar sua legitimidade em levar a marca da lenda imortalizada, a imprensa deliciava-se na cobertura dos vários incidentes provenientes daquela rixa. Houve até mesmo uma matéria publicada por Ron Troupe sobre o Ciborgue, mas cuja verdadeira intenção era ocupar a vaga que Clark Kent deixara ao ser dado como morto durante a cobertura dos ataques promovidos por Apocalypse (volume I).
            Os acontecimentos da trama pouco a pouco revelariam a verdade de cada personagem. O Superman da viseira seria destruído pelo Ciborgue que, aliado ao alienígena Morgul, destruiria a cidade de Coast City com o objetivo de implantar uma cidade-motor. Essa seria uma espécie de foguete capaz de tirar a Terra de sua órbita visando transformá-la em um mundo bélico. A segunda parte do plano seria implantar a mesma cidade-motor em Metrópolis, destruindo-a completamente. Nesse lance entra em cena a Liga da Justiça, representada na figura do Lanterna-verde, já que Coast City era sua cidade natal, onde possuía seus maiores vínculos. Contudo, o impacto dos planos do ciborgue colocava em evidência a insuficiência dos poderes dos outros super-herois para combater aquela ameaça. Era o terreno preparado para que ocorresse o retorno do verdadeiro Superman, em todo o seu esplendor.
            Esse volume é uma coletânea que reúnes as edições #16 à #32 dos gibis, lançados em 1932. Trata-se do desfecho de uma manobra de marketing realizada pela DC Comics, visando recuperar as vendas, assim como o prestígio de seu personagem frente aos outros super-herois da concorrência. E a estratégia até então inovadora, disseminou uma tendência no mundo dos quadrinhos, fazendo com que os roteiristas criassem histórias cada vez mais instigadoras e garantidoras de milhares de fãs.
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Morte do Superman, A - Volume II
Autoria:   Dan Jurgens / Karl Kesel / Jerry Ordway / Louise Simonson / Roger Stern / Gerard Jones
Editora:   Panini Comics
Ano:        2010
Local:      São Paulo
Edição:    1ª
Gênero:   História em quadrinhos | Aventura

Confira um trecho da animação lançada em 2007: