Em
tempos nos quais a tecnologia avança exponencialmente, o autor desse livro traz
uma proposta ousada e inédita: não só a possibilidade de voltar ao passado,
como também os registros de que tal empreitada foi realizada. O próprio autor
do livro é um dos personagens quando recebe estranhas correspondências de certo
Major (seu nome não é revelado em momento algum), enigmático em todas elas.
Assim, intrigado por tanto mistério, Benitéz decide investigar até o fim.
Somente após a morte do Major, ele tem contato com um diário de bordo que
revela uma das façanhas mais incríveis de toda a história da humanidade.
O
Major era membro das Forças Armadas dos Estados Unidos. Em uma espécie de
diário de bordo, registrara todos os pormenores do projeto batizado como
Operação Cavalo de Troia. Durante a década de 60, descobertas científicas
mostraram ser possível realizar viagens no tempo ao desvendar a natureza dos “swivels”. Esses eram “entidades
elementares” abundantes no cosmo e fundamentais para a formação da matéria e do
universo. Por meio da inversão de massa e forçamento dos eixos do tempo dos
swivels até uma data do passado, seria possível que um tripulante fosse
transportado para uma era mais remota. Em decorrência disso, os cientistas
norte-americanos construíram um protótipo chamado “berço” que seria o meio de
transporte necessário para provar a veracidade de tamanha descoberta. Contudo,
para qual momento da história da humanidade seria interessante empreender a
jornada de teste? Por coincidir com uma das maiores questões de todos os
tempos, a equipe decidira que a incursão-teste seria realizada para o tempo de
Jesus de Nazaré, à época dos acontecimentos que fundamentam o cristianismo, no
ano 30.
A
missão deveria ocorrer em sigilo absoluto. Para a implantação da base na região
da Palestina, a equipe da operação camuflou o plano, ao fechar um acordo com os
árabes para que fosse instalado um laboratório receptor de fotografias, quando
na verdade seriam fixadas as bases de instalação do módulo do berço. O Major e
outro tripulante seriam os “astronautas” a bordo do protótipo. Seu amigo Eliseu
cuidaria e operaria o berço enquanto ao Major caberia a tarefa de se inculturar
em meio aos palestinos, encontrar o círculo de amizades do Galileu e
acompanhar-lhe os passos, durante sua última semana de vida. Contudo, a missão
tinha um preceito ético que deveria ser observado severamente: o Major deveria
agir como mero observador, evitando qualquer manobra que pudesse de alguma
forma alterar o curso da história.
A
grande viagem ocorreu em janeiro do ano 1973 e deveria durar uma semana,
coincidindo com os últimos dias vividos por Jesus antes de ser crucificado. O
sucesso da partida deixou todos intrigados. O Major, assumindo o nome de Jasão,
logo encontrou os primeiros judeus que lhe indicaram a direção para chegar à
casa de Lázaro, fiel amigo que Jesus havia ressuscitado há poucos dias. O
encontro com o nazareno não tardaria e Jasão se depararia com um homem alto,
simples, alegre e cheio de entusiasmo ao falar do reino espiritual que estava
próximo. Jasão logo se mistura a seus discípulos e prova-lhes a fidelidade ao
mestre e a sua mensagem. E assim torna-se testemunha dos fatos que marcaram a
crucificação e morte de Jesus, totalmente contrária aos preceitos da lei
judaica (Misná), cujos sacerdotes
diziam-se observantes estritos.
Mesmo
atestando a autenticidade do legado dos evangelhos com os fatos que vivenciava,
Jasão confirmou que os historiadores e a interpretação dos exegetas equivocaram-se
ao abordar alguns momentos dos primórdios do cristianismo. O episódio que ficou
conhecido como “expulsão dos mercadores do templo” na verdade significou uma
manobra de Jesus para atingir os próprios saduceus, acostumados a exorbitar os
preços das oferendas durante a época da Páscoa. Outro fato desconstruído foi em
relação à traição de Judas. Como ele era o administrador das finanças do grupo
de discípulos, 30 moedas de prata pouco significavam perto do montante que era
responsável. Sua motivação maior fora seu espírito ambicioso frente ao
desprestígio que tinha, incrementado pelo destaque que o Mestre dava a Pedro,
Tiago e João. Além do mais, os saduceus podiam facilmente silenciar o galileu e
exterminar seus seguidores, mas Judas dificilmente aceitaria conviver com a
ideia de fazer parte de um grupo fracassado. Quanto à mensagem cristã, Jasão
conclui que Jesus pregava um reino de amor e compaixão que nasce no próprio
coração do homem e não a observância rigorosa de um rol de preceitos
eclesiásticos.
Essa
primeira parte de uma série de longos nove livros que compõem a coleção Operação Cavalo de Troia, exigirá do
leitor bastante paciência e tolerância às inúmeras notas de rodapé e aos
detalhes do enredo. Mesmo enriquecendo a leitura com traços históricos e
culturais dos costumes daquele tempo, tamanha descrição torna a leitura um
verdadeiro desafio. Por outro lado, é interessante notar a mudança de opinião
por que passa o Major: de um descrente convicto, sente-se tocado pela imagem
daquele homem tão humano que destoa bastante da visão transcendental e etérea
que as religiões costumam retratá-lo. Daí emerge a mensagem que o autor busca transmitir
por meio da ficção que constrói, de que os homens devem despertar para o reino
de Deus que já está presente dentro do coração de cada um.
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título: Operação Cavalo de Troia I
Subtítulo: Jerusalém
Autoria: Juan José Benítez
Editora: Mercuryo
Ano: 2004
Local: São Paulo
Edição: 1ª
Série: Operação Cavalo de Troia - Vol. I
Gênero: Ficção científica
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