A
história tem mostrado que, sempre que ocorrem acidentes graves de grande
repercussão na mídia, logo vem à tona as diversas irregularidades que, caso
fossem sanadas, poderiam ter evitado o desastre. Desta forma, ficam claros os
interesses das empresas que diversas vezes privilegiam muito mais o marketing
do que a qualidade e segurança dos serviços prestados. É exatamente esse contexto
que Armadilha Aérea (Airframe, no texto em inglês) vem
tratar, recheada de uma trama de suspense intrigante que o autor cria.
A raiz de toda a história é o
acidente grave ocorrido com a aeronave N-22 da Norton Aviões, em que havia 270
pessoas a bordo, resultando num saldo de 3 mortos, 2 paralíticos, um copiloto
em coma e 57 feridos. No entanto, o maior agravante da situação é que o modelo
N-22 já havia sido palco de nove acidentes nos últimos anos. O piloto da
aeronave John Chang, que comandava o avião naquela rota de Hong Kong a Denver,
era reconhecido por sua excelência e conhecimento na execução de seu trabalho,
o que afastava a presunção de falha humana, a um primeiro momento.
Casey Singleton, a vice-presidente
da Norton em Barbank, ficara encarregada de investigar o que poderia ter
provocado o desastre com o voo Transpacific 545. Chefiada pelo diretor John
Marder, a companhia era responsável pela linha de montagem dos aviões, por meio
de designs aerodinâmicos cuidadosamente elaborados, principalmente em relação
às asas, as quais eram o principal mecanismo de estabilidade e funcionamento do
avião. Sendo assim, após reunir as pistas preliminares, Casey trabalha com três
hipóteses prováveis: 1ª) falha de comandos dos slats (estruturas de sustentação das asas que, juntamente com os flaps, garantem estabilidade); 2ª) falha
do piloto automático; 3ª) falha do piloto, o superexperiente John Chang. Uma
possível turbulência poderia ter originado uma situação de emergência, mas a
aeronave apresentava indícios de uma possível falha mecânica ou de imperícia do
piloto. Além do mais, a investigação de Casey descobriria que a aeronave
apresentava peças falsificadas, o que poderia ser um agravante, mas não
necessariamente o motivo de um problema mecânico.
Em outro plano dos fatos, o acidente
com o N-22 poderia trazer sérias consequências para um acordo comercial
milionário da Norton com a China. Dessa forma, a descoberta de uma falha na
linha de montagem ou mesmo da utilização de peças falsificadas, denunciando a falta
de fiscalização e controle de qualidade e segurança poderia afetar diretamente
os interesses financeiros da companhia, levando-a a falência. Porém, a mesma
empresa era reconhecida pela rigidez de suas normas de garantia e as
investigações apontavam cada vez mais que nada anormal acontecera ao
funcionamento da estrutura do avião. Paralelamente a isso, a repercussão do
acidente na mídia maculava cada vez a imagem da empresa no cenário mundial,
veiculada principalmente pelas comprometedoras matérias produzidas pela
jornalista Jennifer Malone e pelo apresentador sensacionalista Martin Reardon,
ambos da Newsline. Visando provar
empiricamente que o N-22 era um “expresso da morte” os repórteres da Newsline obrigam a Norton a aceita-los a
bordo no teste experimental com a mesma aeronave acidentada na região do
Arizona. Tal teste provaria a (in)segurança do avião.
Michael Crichton já é um autor
célebre por suas publicações de O Parque dos Dinossauros e O Mundo Perdido.
Em Armadilha Aérea ele usa mais uma
vez seu potencial de criar uma narrativa de suspense curiosa e empolgante. É o
tipo de autor que consegue prender a atenção de seu leitor, de forma que este
se sinta como um personagem coadjuvante à própria história. Dessa forma, Armadilha Aérea se desenvolve como um
interessante dossiê das armadilhas do espaço aéreo norte-americano.
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título: Armadilha Aérea
Autoria: Michael Crichton
Editora: Ballantine Books
Ano: 1997
Local: New York
Edição: 1ª (texto em inglês)
Gênero: Suspense | Ficção científica
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