sábado, 24 de agosto de 2013

Príncipe da Pérsia (Jordan Mechner)



            Em sua origem, Príncipe da Pérsia nada tem de literatura, senão a inspiração que seu autor teve com a leitura do famoso clássico As Mil e uma Noites. O tema foi adaptado para as plataformas gráficas dos videogames e, portanto, não demandava grandes explicações sobre a história, mas sim uma distração eletrônica bem divertida. Contudo, os cenários gráficos dos jogos evoluíram e, frente às novas tecnologias, as novas franquias de jogos suscitaram a necessidade de algumas respostas acerca daquele personagem das telas: quem era ele? Quais eram suas origens? Qual o escopo de sua missão? Esta graphic novel (romance em quadrinhos) surge na tentativa de abordar esse tema, para que os fãs possam situar no tempo e no espaço a história do príncipe. Paralelamente ao seu surgimento, também foi lançado o filme Príncipe da Pérsia: as areias do tempo, de forma que ambos conservam uma intrínseca relação. 
         Embora dotado do aspecto cômico e dinâmico que o estilo em história em quadrinhos proporciona, o contexto da história pode parecer um pouco confuso. Na verdade, são duas histórias de dois príncipes, em dois períodos diferentes e numa mesma localidade, a cidade de Marv. Os destinos de ambos, em algum momento e de alguma maneira, entrelaçam-se.
            No século IX D.C. o trono de um palácio real era ocupado por três príncipes: Guiv, Layth e Guilan. Uma dissidência entre eles fez como que Guiv fosse viver em uma fortaleza, guiado pelo pavão Turul, enquanto Guilan estava grávida de Layth. Na fortaleza, Guiv e o povo tem uma revelação de que uma criança nasceria e derrotaria todos os soberanos e súditos que traziam a escravidão ao povo. O fato se daria na terceira lua cheia do 481º ano da lua. Ao se aproximar, um decreto imperial fez com que 72 crianças fossem mortas e enterradas em algum lugar, tornando-se uma lenda no reino da Pérsia. Porém, o menino sobrevivera.
            No ano XIII D.C, a garotinha Shrin resolve fugir, frente à vida reprimida que o pai lhe impunha. Em sua fuga, entra em um poço e encontra o jovem Ferdos, que era incumbido da tarefa de abrir as compotas para que a cidade fosse irrigada. No entanto, Ferdos levava uma vida anônima e escondida em um local bastante secreto. Conhecia as histórias do passado e vivia a fantasia de que era um príncipe, faltando-lhe apenas uma princesa. A profecia de que "um príncipe surgiria das águas onde ninguém o conhecia" estava muito próxima de se realizar.
            Ao contrário do que parece, a história narrada e ilustrada em Príncipe da Pérsia não se baseia em nenhum dos jogos lançados sobre a série. Tais jogos trouxeram várias versões do príncipe em contextos de construção diferentes. Com isso, a obra em questão visa dar uma solução definitiva ao impasse curioso sobre os primórdios do famoso príncipe guerreiro e suas lendas, valorizando também o contexto social da história.

MECHNER, Jordan. Príncipe da Pérsia: graphic novel. Rio de Janeiro: Galera Record, 2010. 208 pgs.
  
Confira o trailer do filme Princípe da Pérsia: as areias do tempo 
lançado em 2010:

sábado, 10 de agosto de 2013

Deus me livre! (Luiz Puntel)


            Tinho era um adolescente, estudante e estagiário do Banco do Brasil. Vivia no Beco do Deus-me-livre, também conhecido como Favelão, uma vila pobre e sem muitas condições dignas para uma vida saudável, localizada entre os bairros mais ricos de Ribeirânia. Órfão de pai, Tinho levava uma vida comum junto aos amigos e na rotina de trabalho/escola, até que um acontecimento mudaria completamente o curso dos seus planos.
            Certa vez, quando ia voltando para casa, Tinho avistara alguns ladrões arrombando o laboratório de uma faculdade. Sem pesar as consequências, dá voz ao seu lado super-heroi e pula a janela do recinto, na tentativa de impedir o crime. Todavia, os malfeitores acabam por sequestrar Tinho e ainda o fazem lavrar um documento como sendo o responsável por um crime ainda maior que fora planejado. Os milhares de barbeiros capturados no laboratório, foram soltos no Beco do Deus-me-livre e, diante de tamanha infestação, os moradores atearam fogo aos barrancos, gerando um estado de pânico e fazendo milhares de desabrigados. Após disseminar o caos, os sequestradores libertaram Tinho, a fim de que a polícia e a população capturassem o responsável declarado por toda aquela tragédia.
            Tinho se tornaria um foragido. Contudo, auxiliado por Padre Bernardo, que acreditara em sua história, fora levado para o Colégio Santa Inês, onde as irmãs o abrigariam até que a situação ficasse um pouco controlada. O medo e o assombro vinha assustar Tinho sempre e o fazia ter pesadelos sempre que dormia. No colégio havia um grupo de discussão coordenado pelo professor de história Eduardo, que se reunia semanalmente para tratar de algum tema de interesse social. O grupo se chamava Movidapaz e Tinho fora convidado a tomar parte em uma das reuniões, justamente aquela que abordaria a tragédia do Favelão. Mesmo sob a revolta de ser acusado por um crime que não fez, foi o momento de todos ouvirem a história contada por Tinho, numa versão que a mídia não divulgara e era perfeitamente plausível. A situação injusta na qual o garoto tinha sido envolvido gerou um clima de comoção em todos, levando o grupo a se empenhar na investigação de quem ou o quê estaria por trás daquilo tudo. Um dossiê envolvendo as principais construtoras da cidade e seus interesses na região do Beco do Deus-me-livre estaria prestes a vir à tona. E a liberdade e absolvição de Tinho seria a maior conquista do grupo, bem como a prisão dos envolvidos. No entanto, eram grandes os riscos dessa difícil tarefa.
            A narrativa de Luiz Puntel consegue absorver o leitor jovem de uma forma bastante envolvente e carregada de suspense. Ao mesmo tempo em que lida com a adrenalina, toca também o lado emocional, principalmente pela paixão mútua que Tinho e Cecília (um membro do grupo Movidapaz) começam a sentir. Enfim, o todo da narrativa acaba por transmitir uma bela lição sobre a importância de se lutar pela justiça, sem se intimidar com os poderosos. 

PUNTEL, Luiz. Deus me livre! São Paulo: Editora Ática, 1984. Col. Vaga-lume. 96 pgs.