Debater alguns temas que cercam a tríade da
gestão, liderança e ética é o que o aclamado filósofo contemporâneo brasileiro
se propõe nessa obra.
Afinal, qual é a obra de cada ser humano?
Aqueles que se fizerem essa pergunta talvez consigam uma rápida resposta que
perpasse pelos seus mais preciosos motivos existenciais: trabalho, família,
fama, ser lembrado, não ser esquecido, etc.. No entanto, em suas tarefas da
rotina, nem sempre reconhece o impacto de suas pequenas ações repetitivas
naquele todo maior que constitui sua obra, ou seja, o horizonte de
sentido/significado capaz de fazê-lo ter um propósito com potencial para tornar
a própria vida algo memorável e essencial.
Saber qual é a própria obra é inserir-se na
dinâmica da vida, estando sempre aberto às mudanças que fazem com que nós,
seres humanos, sejamos capazes de evoluir. Não é de se admirar que são as ondas
e os ventos que empurram o barco na direção em que ele se projeta... Dessa
forma, o autor trabalha também com a noção de que educação é a reinvenção do conhecimento
tornando-o útil e importante para que os indivíduos sejam pessoas melhores,
mais capacitadas e, consequentemente, mais reconhecidas como importantes
naquilo que fazem. Importantes e não insubstituíveis! Daí a importância de cada
um ser capaz de romper suas zonas de conforto, romper os medos e antecipar-se
às situações. São características essenciais que diferenciam substancialmente
os verdadeiros líderes. Nessa ótica, sábio é aquele que encontra o ponto de
equilíbrio que evita tanto a cautela imobilizadora quanto o ímpeto
inconsequente. De outra forma, caberá àquele que se sente enfadado de sua
rotina questionar-se se de fato vale a pena continuar levando a mesma sina,
considerando que ”a vida é muito curta
para ser pequena”.
As reflexões do autor sobre o campo da
liderança levam a uma conclusão entusiasmante: o verdadeiro líder é aquele
capaz de inspirar pessoas. Somente quem consegue trazer para seu corpo de
auxiliares a importância do trabalho que executam para o real objetivo da obra,
também é capaz de inspirar pessoas e modificar-lhes a vida. Daí, a importância
de uma consciência coletiva sobre o papel que representam na máquina, bem como
o reflexo do bom/mau desempenho de suas atribuições no todo do projeto.
Enfim, a ética entendida como os valores
pessoais e coletivos que alimentam e fortalecem o bom convívio social, pode ser
avaliada a partir de três perguntas básicas: Quero? Devo? Posso? O ponto de
equilíbrio encontrado na resposta a essas perguntas, frente às diversas
situações do cotidiano revelará a moral da vida coletiva. Enquanto há
indivíduos que somente enxergam o próprio espaço que ocupam neste vasto
universo, uma pessoa dotada de princípios éticos e uma moral prática bem
estruturada constituir-se-á em uma pessoa capaz de viver uma integridade, ou
seja, não se corromper entre os benefícios da ocasião, mas antes pautar-se
pelos seus valores e princípios. Nesse ponto de equilíbrio, ela se encontra e
respeita o outro em sua alteridade, reconhecendo-o como pessoa e não como
estranho.
As pequenas reflexões encontradas nesse livro
são de uma densidade tamanha que não se esgotam nas poucas páginas que encerra.
Todavia, longe de se perder em extensas reflexões que por fim tornar-se-iam
exaustivas, a conclusão a que se chega é o vislumbre de como a obra de cada um
é capaz de alimentar a própria vida, sem, contudo sufocar nossa grande obra
coletiva e a obra que o outro traz consigo. Afinal, enquanto a decisão de cada
um soa como algo individual, as consequências podem trazer repercussões em muitas
outras vidas.
REFERÊNCIA
LITERÁRIA
Título: Qual é a tua obra?
Subtítulo: inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética
Autoria: Mario Sergio Cortella
Editora: Vozes
Ano: 2010
Local: Petrópolis
Edição: 10ª
Gênero: Filosofia
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