sábado, 25 de junho de 2016

99 Filmes Clássicos para Apressadinhos (Henrik Lange // Thomas Wengelewski)

            Adotando o mesmo estilo de quadrinização, essa é outra seleção do autor que também 90 Livros Clássicos para Apressadinhos. Em parceria com Thomas Wengelewski, Henrik Lange também possui a obra 99 Séries Clássicas para Apressadinhos.
            Aqueles que apreciam um bom filme podem preparar a pipoca e se divertir com uma seleção de noventa e nove longas-metragens resumidos ao estilo de Henrik Lange: uma página e quatro quadrinhos que resumem o mais importante de cada história. Todavia, vale uma advertência: os filmes são apresentados em uma opinião satírica que talvez exalte mais a futilidade de passar algumas horas em frente à televisão do que a exemplar mensagem oculta em cada um deles.
            A seleção dos autores conta com títulos clássicos lançados dos anos 30 aos anos 2000. Alguns exemplos são: King Kong (1933); O Exorcista (1973); Guerra nas Estrelas (1977); E.T. (1982); Forrest Gump (1994); Duro de Matar (1988). Os gêneros são diversos, passando pelo drama, comédia, romance, terror, aventura e ação. A única característica comum a todos é uma boa dose de bom humor nos balõezinhos descritivos e desenhos que ilustram a apresentação de cada filme.
            Antes que haja polêmica quanto ao modo como os autores resumem grandes produções cinematográficas, deve ficar claro que isso é somente uma opinião dentre tantas que podem ser a favor ou contra. Mesmo assim, qualquer um que tomar esse livro em mãos concordará que algumas caracterizações são bastante engraçadas e até mesmo esclarecedoras. Após terminar o livro, é provável que muitos tenham uma lista de filmes para assistir.
            Outra utilidade de que serve essa coletânea é a informação. Nela estão resumidos os roteiros de dezenas de filmes que, caso fossem assistidos, demandariam horas e horas em frente à televisão, sendo que muitas delas tornar-se-iam uma tremenda perda de tempo. Com esse livro, por outro lado, ninguém mais poderá fazer uso do argumento de que não tem noção alguma daquele filme que o amigo não larga mão de recomendar insistentemente, como se fosse a melhor produção de Hollywood. Em contrapartida, produzirá o efeito colateral de fazer como aquele filme do qual já se tinha uma opinião negativa, seja definitivamente banido da extensa lista de filmes para assistir antes de morrer.
            Opiniões à parte, o grande mérito dos 99 filmes clássicos apresentados nesse livro é estabelecer um paralelo entre cultura X contracultura. Uma conclusão mais elaborada deixará claro que aquilo que vemos acontecer na tela, prendendo a atenção de tal forma que nos paralisa em uma poltrona por uma ou duas horas, na maioria das vezes não corresponde à realidade que vivemos. A mesma leitura vale para a mensagem que alguns filmes transmitem, as quais, mesmo que sejam belíssimas e cobertas de verdade, dificilmente se aplicaram a todos os cinéfilos, como algo capaz de terem um final feliz (ou triste!) assim como o dos personagens da trama. Aí entra o humorismo da zoação que os autores fazem, mostrando que tudo pode ter outro ponto de vista. Afinal, se a vida é uma comédia, um pouco de ridicularização não fará mal a ninguém.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:   99 Filmes Clássicos para Apressadinhos
Autoria: Henrik Lange / Thomas Wengelewski
Editora: Galera Record
Ano:      2011
Local:    Rio de Janeiro
Gênero: História em quadrinhos | Livros | Sátira

quarta-feira, 15 de junho de 2016

A Revolta de Atlas (v.1) (Ayn Rand)

            Esse livro inaugura uma trilogia cuidadosamente construída. A obra ganhou uma adaptação para o cinema em 2011.
            A economia mundial estava em crise, principalmente no setor industrial, não só por questões econômicas, como também políticas. Nos Estados Unidos, setores como o de linhas ferroviárias ressurgem como alternativas mais econômicas para o transporte de mercadorias em um país arrasado. Nesse contexto, a Companhia Taggart Transcontinental torna-se a empresa do ramo que melhor se sustenta em um cenário avassalador para a classe empresária. Tal companhia tinha à sua frente ninguém menos do que os irmãos Dagny e James Taggart, sendo que a primeira era a principal articuladora dos empreendimentos.
Não bastasse o cenário de crise em que o monopólio de algumas empresas vinha ocasionando o colapso de outras, Dagny Taggart estava à frente de um projeto ousado e inovador: construir uma extensa linha férrea denominada Linha Rio Norte utilizando um metal cuja qualidade ainda era vista com ressalvas pelos principais setores do ramo. O metal Rearden era produzido pela Siderúrgica Rearden, presidida pelo visionário Hank Rearden. Fruto de 10 anos de pesquisa e um investimento de mais de 1 milhão e meio de dólares, o metal Rearden era tido como um produto de baixo custo e mais resistente do que o metal comumente utilizado. Contudo, a ciência não havia provado sua eficácia para sustentar grandes composições nos trilhos e o governo trabalhava para que aquela tecnologia não fosse empregada sem os devidos testes. Por recomendação do Instituto Científico Nacional, o metal Rearden fora desqualificado sob a alegação de que não era seguro. No entanto, tal parecer tinha interesses muito mais econômicos já que o governo temia o monopólio da empresa de Rearden, colocando-o em um paradoxo: se o metal não era bom, isso constituiria em um perigo físico para o público; ser era bom, constituiria em um perigo social, pois dominaria o mercado, impulsionando ainda mais a avalanche de empresas que iriam à falência.
Nesse confronto, fora editada a Lei de Igualdade de Oportunidades, a qual visava limitar os negócios dos grandes empresários a apenas um negócio, a fim de evitar a monopolização do mercado.
Em meio a essa trama empresarial Ayn Rand envolve também as tramas emocionais que os personagens vivem, bem como relata os antepassados que levaram pessoas comuns a se tornarem grandes líderes do mundo dos negócios como o ricaço Francisco d´Anconia que enriquerecera às custas dos pesados trabalhos nas Minas de San Sebástian no México.
Na Taggart Transcontinental, o irmão de Dagny fora extremamente relutante com a nova tecnologia e contrário à sua aplicação, uma vez que poderia significar a ruína do negócio herdado de seus pais. Diante dessa recusa, Dagny decide fundar a própria companhia utilizando capitais oriundos de outros segmentos que acreditavam no potencial daquele empreendimento. A nova empresa fora batizada como Linha John Galt, fazendo alusão a um dizer que era a sensação do momento em toda a imprensa, mas aparentemente sem uma explicação clara quanto a sua origem: “Quem é John Galt?”. Talvez, utilizando uma estratégia de marketing, o sucesso do empreendimento promovido pela Linha John Galt e do Metal Rearden viria dar uma resposta a essa questão, no episódio que mundialmente ficou conhecido como “a segunda Renascença”, dada sua ousadia e inovação em um período tão crítico da economia norte-americana.
O triunfo da Linha Rio Norte levara Hank Rearden e Dagny Taggart a uma amizade extra corporativa. Em um passeio comemorativo tiveram conhecimento de um equipamento desenvolvido pela 20th Century Motor Corporation que era um motor que usava vácuo atmosférico para criar eletricidade estática. Tratava-se de um projeto visionário que poderia revolucionar ainda mais o setor industrial. Como a empresa viera à falência os dois iniciam uma verdadeira saga em busca dos projetistas daquele equipamento promissor. Era a oportunidade que faltava para que a dupla novamente mostrasse seu poder de ascensão, desbancando toda uma corja de pessimistas instalados no governo e nas grandes corporações.
Embora a narrativa de Ayn Rand se mostre bastante extensa e descritiva, a trama não se perde em meio às palavras que usa para a descrição dos personagens e situações.  A história em si nada tem de simplista e é muito bem construída de forma a entrelaçar pessoas fatos e acontecimentos além de criar um clima de expectativa no leitor, principalmente quanto ao resultado do empreendimento de Dagny e Rearden. Enfim, trata-se de uma história cujo fim em aberto clama pela continuidade no desfecho dos próximos dois volumes da trilogia.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:    Revolta de Atlas, A
Autoria: Ayn Rand
Editora: Sextante
Ano:      2010
Local:    Rio de Janeiro
Série:    Revolta de Atlas, A - Vol. I
Gênero: Drama

Confira o trailer da adaptação para o cinema lançada em 2011:

domingo, 5 de junho de 2016

Como ler a Filosofia Clínica (Monica Aiub)

A vida no século XXI está cheia de revezes que lançam as pessoas em conflitos existenciais dos quais, muitas vezes, não dão conta por si mesmas. Nesse ínterim, surgem as diversas abordagens terapêuticas oriundas da psicologia, psicanálise e tradições orientais. A proposta da autora desse livro é apresentar a Filosofia Clínica como uma alternativa para aqueles que buscam compreender melhor seu modo de ser no mundo, bem como a gama de questões que permeia sua existência.
Tradicionalmente, a filosofia sempre abordou as questões mais profundas do ser humano, uma vez que transita pelas diversas áreas: cosmologia, existencialismo, analítica da linguagem, epistemologia, lógica, ciência e etc.. O papel do ser humano enquanto ser pensante ocupa uma posição privilegiada no processo de conhecimento, já que é ele o protagonista da atividade racional, sempre visando conhecer melhor a si mesmo. Consequentemente, pode-se dizer que a filosofia clínica, surge como uma recuperação desse papel original que a tradição filosófica sempre exerceu, de retomada da reflexão acerca das dimensões que abarcam a existência.
A sistematização da filosofia para tratamento clínico vem ocorrendo desde 1971. Contudo, esse livro aborda o método idealizado pelo filósofo brasileiro Lúcio Packter em 1994. Lúcio buscava uma resposta à universalidade do tratamento das doenças que as pessoas se queixavam, ao constatar que muitas delas não tinham origem biológica e sim existencial. Dessa forma, cada pessoa possui um mundo próprio e uma forma individual de relacionar-se com esse mundo. A historicidade visa identificar os conceitos fundamentais que regem a existência, assim como sua gênese. Isso dirá sobre como a movimentação existencial contribui para a constituição do universo em que cada um se encontra. Partindo da historicidade do partilhante o filósofo clínico tenta localizar a pessoa existencialmente e analisar como ela se relaciona com os diversos componentes que moldam sua existência. Tal exame é feito por meio de um método que relaciona três etapas básicas: 1ª) Exames das categorias; 2ª) Estrutura de pensamento; 3ª) Análise dos submodos e suas relações com a Estrutura de pensamento.
Em filosofia clínica, cada pessoa é assumida como portadora de uma representação de mundo própria, sem julgamentos do que seja considerado certo ou errado. Necessariamente, os problemas reclamados devem ser tratados a partir do contexto em que se encontram. Deve-se buscar a compreensão interna do problema relacionado com toda a estrutura da pessoa e não de forma isolada. Em decorrência disso, essa terapia descarta a classificação do partilhante como portador de alguma patologia ou doença, já que tudo decorre de uma maneira diferente de se situar no mesmo mundo, dando lugar a maneiras singulares de existência. Tal característica atribui uma condição mais humana a essa abordagem terapêutica.
O papel da filosofia não é a busca por respostas e sim o fomento à investigação reflexiva, de forma que as respostas se construam por si mesmas. Assim, a aplicação do legado da história da filosofia ao indivíduo é uma forma de direcionar toda uma gama de conhecimentos para uma causa nobre e justa. Afinal, dentre as questões humanas está a felicidade, e o melhor caminho para encontrá-la está na tomada de posse do próprio existir.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:      Como ler a Filosofia Clínica
Subtítulo: prática da autonomia do pensamento
Autoria:    Monica Aiub
Editora:    Paulus
Ano:         2010
Local:       São Paulo
Série:       Como ler Filosofia
Gênero:    Filosofia | Terapia