Esse pequeno livro traz uma
coletânea de mais de 150 trechos de cartas, textos, discursos e citações
daquele que foi uma das figuras mais influentes do século XX, cuidadosamente
selecionadas e reunidas por Richard Attenborough. Como cineasta, o organizador
da obra também dirigiu um filme clássico – Gandhi
(1982) - sobre o mesmo personagem, vencedor de 8 Oscars.
Sistematicamente, o organizador
classifica os pensamentos de Gandhi em cinco temas: dia-a-dia, cooperação,
não-violência, fé e paz.
Mahatma Gandhi tornou-se um ícone da
paz universal ao defender o Estado Indiano por meio de um movimento ativista
que pregava a não-violência e a não-agressão. Inteiramente centrado na
simplicidade de vida e na austeridade das ações, seguia o princípio da satyaghaha. Daí derivou o movimento
indiano de resistência pacífica contra a injustiça, baseado na verdade (satya) e firmeza (agraha), que era tido como o "caminho da verdade". Para
além das justificativas instintivas para atos hediondos, Gandhi acreditava que
a ausência de qualquer tendência à violência (ahimsa) era um estado natural do espírito humano e é baseado nisso
que o ser humano deve buscar a solução pacífica de todos os conflitos, mediante
o diálogo, a cooperação e a concórdia. A não-violência é a mais nobre das
atitudes e forte expressão da coragem no mais alto grau, dispondo-se até mesmo
ao sofrimento. A fé em Deus consistiria em um motor encorajador para essa
prática da não-violência e as religiões, ao invés de se confundirem na busca
pelo deus verdadeiro, deveriam servir como caminho para o alcance da paz de
espírito e a paz universal: "As
religiões são estradas diferentes convergindo para o mesmo ponto. O que importa
tomarmos caminhos diferentes desde que alcancemos o mesmo objetivo?".
Em uma abordagem da política das
massas, Gandhi considerava que o mais difícil de ser alcançado era fazer com
que o povo adquirisse consciência de sua força quando unido em prol do mesmo
objetivo. Contudo é importante superar a oclocacia,
ou seja, o governo exercido pelas massas, que não pensam e simplesmente repetem
inadvertidamente aquilo que algum líder lhes inspira. Era necessário introduzir
a lei do povo em lugar da lei das massas.
Gandhi também ensinava que devia ser
dado ao trabalho manual o mesmo valor que era atribuído aos aprendizados
intelectuais. Com isso, atacava a tendência a valorizar mais aqueles que
discutiam e implantavam os regimes, em detrimento daqueles que executavam os
processos, vistos como meros repetidores de processos. Com sua vida humilde e
de nenhuma extravagância, o mahatma pregava a simplicidade como fonte de
igualdade de todos os seres em sua bela e mais pura essência, de forma que o
acúmulo de bens, valores ou títulos não se sobreponham à exaltação da dignidade
de pessoa humana que cada um carrega consigo, logo ao nascer.
Os textos apresentados nesse pequeno
resumo da filosofia de Gandhi questionam profundamente os fios que estruturam a
sociedade moderna e fazem com que o leitor reflita na atualidade de sua própria
vida, assim como nos caminhos próximos ou distantes que o mundo trilha.
Contudo, tais ideias podem também tornarem-se estéreis, como simples palavras
de um livro de estante, caso não promovam mudanças objetivas. Isso porque, como
idealista pragmático que era, para Gandhi, os escritos não possuem valor algum
se não forem verificáveis mediante ações concretas e promotoras de mais vida.
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título: Sabedoria de Gandhi, A
Autoria: Richard Attenborough (org.)
Editora: Sextante
Ano: 2008
Local: Rio de Janeiro
Edição: 1ª
Gênero: Filosofia | Hinduísmo
Confira o trailer do filme Gandhi produzido em 1982: