Denis Russo Burgierman nasceu em
1973 na cidade de São Paulo. Formou-se em jornalismo pela USP e tornou-se
editor da revista Superinteressante, sendo o criador do Prêmio Super Ecologia.
A obra em questão surgiu a partir da matéria de capa da edição de agosto de
2002, intitulada Toda a verdade sobre a
maconha. Pioneiro no reconhecimento de projetos ambientais de empresas
privadas, públicas e ONGs, Denis atua no ramo de proteção e defesa da fauna e
flora do meio ambiente natural. Um de seus trabalhos nessa área consiste em um
livro-reportagem sobre a atuação dos ecologistas contra a caça às baleias na
Antártica.
A maconha é um tema polêmico,
principalmente nos tempos atuais onde o tráfico de drogas e substâncias
psicoativas domina o planeta de norte a sul. Em outras épocas, seu uso era uma
prática comum e até mesmo sinônimo de bens medicinais, práticas religiosas ou
fruição. Diante disso, ao se levantar tal assunto no cotidiano, a questão dos
males que seu uso pode ocasionar se depara diretamente com a questão dos
benefícios provenientes da planta. Outro debate ainda mais polêmico se origina
disso: quais são os prós e os contras da legalização da maconha?
Batizada em 1735 pelo botânico sueco
Carl Lineu como Cannabis sativa, a
maconha é uma planta que se desenvolve facilmente em condições adversas,
podendo atingir a altura de 4 ou 5 metros em pouco tempo. Tanto seu caule
quanto suas folhas e sementes são repletos de substâncias, sendo a mais
importante o delta-9-tetra-hidrocanabinol ou THC. O THC serve como filtro solar
e também tem a propriedade de grudar nos neurônios de seres animais (inclusive
o homem), provocando mudanças químicas nas células e alterações de
comportamento, capacidade de raciocínio e percepção. Isso explica a sensação de
"felicidade e delírio" que o usuário de maconha apresenta. O uso
excessivo do THC pode trazer consequências drásticas para o organismo e dependência,
mas em alguns casos patológicos ele é o remédio mais eficaz e, até mesmo,
imprescindível.
A guerra pela proibição da maconha
iniciou-se no século XX e teve o norte-americano Harry Aslinger como seu
principal comandante. A sociedade dos Estados Unidos vinha passando por um
período de desestruturação com a crise de 1929 e a insatisfação diante da Lei
Seca, decretada nove anos antes. Nessa época, Aslinger era comissário
assistente da proibição de bebidas alcoólicas. A criação da Agência Federal de
Narcóticos (FBN, em inglês), com o objetivo de regular as leis que proibiam
opiáceos e cocaína, foi uma força a mais para a atuação de Aslinger. Diante
disso, como os interesses políticos mascaravam a verdade, Harry Aslinger se
aliou à imprensa e divulgou consequências e fatos desastrosos que teriam a
maconha como protagonista, mesmo que muitos deles fossem falsos e mentirosos.
Com isso, a proibição da maconha transformou em criminalização o seu uso, mesmo
que para fins terapêuticos, e a propaganda feita em cima dos seus males induziu
muitos países à proibição. No entanto, o que a princípio era a solução, criava
um outro problema que era a marginalização e, consequentemente, o tráfico da
planta, que era muito mais difícil de combater.
Mesmo sendo proibida em praticamente
todo o mundo, o uso da maconha é legalizado em algumas situações. É o que
acontece na Holanda, por exemplo, em que foi estabelecido em 1976 que o porte
de até 30 gramas de maconha não seria considerado crime. Surgiram os koffeshops nos anos 80: lugares em que o
uso público de maconha seria permitido, desde que obedecido um rigoroso
regulamento de controle e regularização. Tal política demonstrou que a
regularização traz mais benefícios do que a proibição, uma vez que o que é
proibido buscará outras formas ilegais e erradas para ser satisfeito.
Após analisar todo esse contexto
histórico que traz a maconha como personagem principal, Denis Russo Burgierman
analisa como seu uso poderia se enquadrar na sociedade brasileira. O perfil da
sociedade atual não permitiria de forma alguma a legalização da maconha da
noite para o dia. No entanto, sua proibição traz riscos sérios para pessoas que
dependem do THC proveniente da planta para fins terapêuticos. Seria uma questão
ética e imoral deixar de amenizar o sofrimento de tais pessoas em nome da
proibição, assim como seria irracional expandir o número de usuários de uma
hora pra outra com a legalização, sem um programa de atendimento à saúde
pública e prevenção dos riscos adequado. Talvez as lições que a Holanda
aprendeu em seu contexto histórico teriam muito a nos ensinar no que diz
respeito a isso. Fazendo a conciliação dos opostos, a solução que o autor
propõe para as condições em que o uso da planta seria legítimo, é a implantação
de uma política de descriminalização inteligente e legalização controlada na
comercialização da droga. Somente assim aprenderíamos a conviver de forma
madura com algo tão importante e ao mesmo tempo nocivo à vida social.
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título: Maconha
Autoria: Denis Russo Burgierman
Editora: Abril
Ano: 2002
Local: São Paulo
Edição: 1ª
Série: Coleção Para Saber Mais - Vol. IV
Gênero: Curiosidades | Drogas
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