segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Maconha (Denis Russo Burgierman)



            Denis Russo Burgierman nasceu em 1973 na cidade de São Paulo. Formou-se em jornalismo pela USP e tornou-se editor da revista Superinteressante, sendo o criador do Prêmio Super Ecologia. A obra em questão surgiu a partir da matéria de capa da edição de agosto de 2002, intitulada Toda a verdade sobre a maconha. Pioneiro no reconhecimento de projetos ambientais de empresas privadas, públicas e ONGs, Denis atua no ramo de proteção e defesa da fauna e flora do meio ambiente natural. Um de seus trabalhos nessa área consiste em um livro-reportagem sobre a atuação dos ecologistas contra a caça às baleias na Antártica.
            A maconha é um tema polêmico, principalmente nos tempos atuais onde o tráfico de drogas e substâncias psicoativas domina o planeta de norte a sul. Em outras épocas, seu uso era uma prática comum e até mesmo sinônimo de bens medicinais, práticas religiosas ou fruição. Diante disso, ao se levantar tal assunto no cotidiano, a questão dos males que seu uso pode ocasionar se depara diretamente com a questão dos benefícios provenientes da planta. Outro debate ainda mais polêmico se origina disso: quais são os prós e os contras da legalização da maconha?
            Batizada em 1735 pelo botânico sueco Carl Lineu como Cannabis sativa, a maconha é uma planta que se desenvolve facilmente em condições adversas, podendo atingir a altura de 4 ou 5 metros em pouco tempo. Tanto seu caule quanto suas folhas e sementes são repletos de substâncias, sendo a mais importante o delta-9-tetra-hidrocanabinol ou THC. O THC serve como filtro solar e também tem a propriedade de grudar nos neurônios de seres animais (inclusive o homem), provocando mudanças químicas nas células e alterações de comportamento, capacidade de raciocínio e percepção. Isso explica a sensação de "felicidade e delírio" que o usuário de maconha apresenta. O uso excessivo do THC pode trazer consequências drásticas para o organismo e dependência, mas em alguns casos patológicos ele é o remédio mais eficaz e, até mesmo, imprescindível.
            A guerra pela proibição da maconha iniciou-se no século XX e teve o norte-americano Harry Aslinger como seu principal comandante. A sociedade dos Estados Unidos vinha passando por um período de desestruturação com a crise de 1929 e a insatisfação diante da Lei Seca, decretada nove anos antes. Nessa época, Aslinger era comissário assistente da proibição de bebidas alcoólicas. A criação da Agência Federal de Narcóticos (FBN, em inglês), com o objetivo de regular as leis que proibiam opiáceos e cocaína, foi uma força a mais para a atuação de Aslinger. Diante disso, como os interesses políticos mascaravam a verdade, Harry Aslinger se aliou à imprensa e divulgou consequências e fatos desastrosos que teriam a maconha como protagonista, mesmo que muitos deles fossem falsos e mentirosos. Com isso, a proibição da maconha transformou em criminalização o seu uso, mesmo que para fins terapêuticos, e a propaganda feita em cima dos seus males induziu muitos países à proibição. No entanto, o que a princípio era a solução, criava um outro problema que era a marginalização e, consequentemente, o tráfico da planta, que era muito mais difícil de combater.
            Mesmo sendo proibida em praticamente todo o mundo, o uso da maconha é legalizado em algumas situações. É o que acontece na Holanda, por exemplo, em que foi estabelecido em 1976 que o porte de até 30 gramas de maconha não seria considerado crime. Surgiram os koffeshops nos anos 80: lugares em que o uso público de maconha seria permitido, desde que obedecido um rigoroso regulamento de controle e regularização. Tal política demonstrou que a regularização traz mais benefícios do que a proibição, uma vez que o que é proibido buscará outras formas ilegais e erradas para ser satisfeito.
            Após analisar todo esse contexto histórico que traz a maconha como personagem principal, Denis Russo Burgierman analisa como seu uso poderia se enquadrar na sociedade brasileira. O perfil da sociedade atual não permitiria de forma alguma a legalização da maconha da noite para o dia. No entanto, sua proibição traz riscos sérios para pessoas que dependem do THC proveniente da planta para fins terapêuticos. Seria uma questão ética e imoral deixar de amenizar o sofrimento de tais pessoas em nome da proibição, assim como seria irracional expandir o número de usuários de uma hora pra outra com a legalização, sem um programa de atendimento à saúde pública e prevenção dos riscos adequado. Talvez as lições que a Holanda aprendeu em seu contexto histórico teriam muito a nos ensinar no que diz respeito a isso. Fazendo a conciliação dos opostos, a solução que o autor propõe para as condições em que o uso da planta seria legítimo, é a implantação de uma política de descriminalização inteligente e legalização controlada na comercialização da droga. Somente assim aprenderíamos a conviver de forma madura com algo tão importante e ao mesmo tempo nocivo à vida social.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:     Maconha
Autoria:   Denis Russo Burgierman
Editora:   Abril
Ano:        2002
Local:      São Paulo
Edição:   
Série:      Coleção Para Saber Mais - Vol. IV
Gênero:   Curiosidades | Drogas
 

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