Jostein Gaarder, autor norueguês, é mundialmente famoso por seus romances inteligentemente escritos, trazendo complexas ideias filosóficas para a reflexão infanto-juvenil. É o tipo de autor capaz de promover o casamento perfeito entre a reflexão aprofundada e a fertilidade imaginária na dose certa para despertar em qualquer um o encantamento diante da vida, quando esta adquire sentido e significado para além da própria existência. Dessa forma, o que encontramos nessa obra é o contínuo desse estilo literário do autor, porém numa medida extremamente leve, por se dirigir a um público cuja capacidade imaginária é mais fértil do que a capacidade lógico-racional.
Joakim é um adulto que, recordando um dia de sua vida, quanto estava prestes a ganhar o primeiro irmãozinho, resolve narrar esse dia marcante para sua sobrinha Camila, de 8 anos, prestes a passar pela mesma situação. Seus pais haviam ido para o hospital enquanto Joakim ficara em casa, à espera de notícias e da chegada de sua tia para fazer-lhe companhia. Nesse meio tempo, um estranho garoto havia invadido o quintal e se debatia preso a uma árvore, vendo o mundo de cabeça para baixo. Era Mika, um mumbo habitante do planeta Eljo que veio parar na Terra. Admirado pela invasão daquele estranho, Mika inicia um diálogo e se admira ainda mais pelas reverências que lhe eram feitas, sempre que fazia alguma pergunta inteligente. Logo, logo, a estranheza seria quebrada dando lugar a um papo amigo e descontraído.
Mika era um garoto sensível que chorava ao mínimo sinal de reprovação. Dizia estar vivendo a materialização de um sonho e que tudo poderia se desfazer assim que despertasse. Por outro lado, era uma criança curiosa e questionadora, não lhe satisfazendo experimentar a vida em outro planeta, mas lhe sendo também necessário conhecê-lo. Assim, Joakim e Mika compartilham uma amizade à medida que se conhecem e se reconhecem como diferentes. Afinal, quem estaria sonhando? Por que tudo se dissolveria caso acordassem? O que estariam fazendo ao invadirem o planeta um do outro? Joakim se maravilha ao descobrir que seu amigo havia nascido a partir de um ovo e Mika se surpreende ao conhecer o mar, a montanha e a noite do ponto de vista dos humanos. Nota-se a partir daí, que aquilo que é desconhecido pode se tornar belo, desde que apreciado com os olhos contemplativos do coração. Mika atenta Joakim para a importância de, muito mais do que se satisfazer com as respostas, descobrir a sabedoria das perguntas, uma vez que são elas o que nos move a ultrapassar os limites do conhecimento já consolidado e abrir-se a novas perspectivas.
A história de Jostein Gaarder faz recordar bastante a de Antoine de Saint-Exupéry em seu clássico O Pequeno Príncipe. Mika é uma espécie de pequeno príncipe, a despertar em seu amigo a sensibilidade para com os fenômenos que o rodeiam e que às vezes são olhados como simples peças importantes ao funcionamento do mecanismo de uma vida rotinizada. São apenas 24 horas que os dois garotos passam juntos, mas tempo suficiente para experiências tão intensas que lhes fazem perder a noção do que é sonho e do que é a realidade naquilo que vivem.
REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título: Ei! Tem alguém aí?
Autoria: Jostein Gaarder
Editora: Companhia das Letrinhas
Ano: 1997
Local: São Paulo
Edição: 1ª
Gênero: Infanto-juvenil