domingo, 27 de setembro de 2015

Ei! Tem alguém aí? (Jostein Gaarder)


            Jostein Gaarder, autor norueguês, é mundialmente famoso por seus romances inteligentemente escritos, trazendo complexas ideias filosóficas para a reflexão infanto-juvenil. É o tipo de autor capaz de promover o casamento perfeito entre a reflexão aprofundada e a fertilidade imaginária na dose certa para despertar em qualquer um o encantamento diante da vida, quando esta adquire sentido e significado para além da própria existência. Dessa forma, o que encontramos nessa obra é o contínuo desse estilo literário do autor, porém numa medida extremamente leve, por se dirigir a um público cuja capacidade imaginária é mais fértil do que a capacidade lógico-racional.
            Joakim é um adulto que, recordando um dia de sua vida, quanto estava prestes a ganhar o primeiro irmãozinho, resolve narrar esse dia marcante para sua sobrinha Camila, de 8 anos, prestes a passar pela mesma situação. Seus pais haviam ido para o hospital enquanto Joakim ficara em casa, à espera de notícias e da chegada de sua tia para fazer-lhe companhia. Nesse meio tempo, um estranho garoto havia invadido o quintal e se debatia preso a uma árvore, vendo o mundo de cabeça para baixo. Era Mika, um mumbo habitante do planeta Eljo que veio parar na Terra. Admirado pela invasão daquele estranho, Mika inicia um diálogo e se admira ainda mais pelas reverências que lhe eram feitas, sempre que fazia alguma pergunta inteligente. Logo, logo, a estranheza seria quebrada dando lugar a um papo amigo e descontraído.
            Mika era um garoto sensível que chorava ao mínimo sinal de reprovação. Dizia estar vivendo a materialização de um sonho e que tudo poderia se desfazer assim que despertasse. Por outro lado, era uma criança curiosa e questionadora, não lhe satisfazendo experimentar a vida em outro planeta, mas lhe sendo também necessário conhecê-lo. Assim, Joakim e Mika compartilham uma amizade à medida que se conhecem e se reconhecem como diferentes. Afinal, quem estaria sonhando? Por que tudo se dissolveria caso acordassem? O que estariam fazendo ao invadirem o planeta um do outro? Joakim se maravilha ao descobrir que seu amigo havia nascido a partir de um ovo e Mika se surpreende ao conhecer o mar, a montanha e a noite do ponto de vista dos humanos. Nota-se a partir daí, que aquilo que é desconhecido pode se tornar belo, desde que apreciado com os olhos contemplativos do coração. Mika atenta Joakim para a importância de, muito mais do que se satisfazer com as respostas, descobrir a sabedoria das perguntas, uma vez que são elas o que nos move a ultrapassar os limites do conhecimento já consolidado e abrir-se a novas perspectivas.
            A história de Jostein Gaarder faz recordar bastante a de Antoine de Saint-Exupéry em seu clássico O Pequeno Príncipe. Mika é uma espécie de pequeno príncipe, a despertar em seu amigo a sensibilidade para com os fenômenos que o rodeiam e que às vezes são olhados como simples peças importantes ao funcionamento do mecanismo de uma vida rotinizada. São apenas 24 horas que os dois garotos passam juntos, mas tempo suficiente para experiências tão intensas que lhes fazem perder a noção do que é sonho e do que é a realidade naquilo que vivem.


REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:     Ei! Tem alguém aí?
Autoria:   Jostein Gaarder
Editora:   Companhia das Letrinhas
Ano:        1997
Local:      São Paulo
Edição:   
Gênero:   Infanto-juvenil

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

The Walking Dead: vida de agonia (v.6) (Robert Kirkman)



            A situação dos prisioneiros em Woodbury estava cada vez mais tensa. Porém, uma ajuda providencial de Martinez, um dos capangas do Governador, colocaria Rick e Michonne na direção certa que lhes permitiria uma fuga. A eles se juntaria Alice e o médico Dr. Stevens (muito embora este não fosse bem-sucedido, ao ser atacado por um errante). Michonne tomara como questão de honra sua vingança para com o Governador. Diante disso, decide adiar sua fuga, dirigindo-se aos aposentos daquele homem vil. Nessa parte, dá-se um dos episódios mais hediondos de toda a série, quando a mulher consuma, do modo mais nefasto possível, toda a sua fúria pelos abusos sofridos, quando de sua permanência no cárcere em Woodbury. E assim encerrava-se a vida daquele líder psicótico...
            A chegada do grupo formado por Martinez, Alice, Glenn, Rick e Michonne logo trouxe uma nova surpresa: as cercas da prisão haviam sido rompidas e a turba de errantes adentrara por todos os recônditos possíveis daquele lugar, antes considerado extremamente seguro. Seria possível que aquela parte do grupo que havia ficado por ali também se transformara naquelas criaturas detestáveis, extinguindo o sonho de sobrevivência? Em breve eles se reencontrariam e atestariam que todos estavam bem. No entanto, em um lapso de distração, Martinez apartara-se do grupo e voltava para Woodbury, provavelmente para avisar ao Governador acerca da existência daquele lugar que poderia abrigar os sobreviventes por muitos meses. Assim que se deu conta da grande falha que foi confiar naquela cria do Governador, Rick parte em sua caça, a fim de evitar maiores problemas do que os já existentes.
            A fuga da sociedade de Woodbury foi um marco importante na vida do grupo liderado por Rick, que já davam-no como morto, sabe-se lá por qual motivo. Os acontecimentos dos últimos dias acirraram o ar apreensivo do grupo que, instintivamente vinha perdendo o senso de humanidade, de forma que a distinção entre errantes e humanos tornava-se algo dispensável quando qualquer desses tipos soasse como ameaça. Por outro lado, Rick não se sentia bem com a lembrança de que teve que eliminar Martinez, simplesmente por ele ter se tornado uma ameaça, assim como Michonne apresentava sinais de inquietude diante da lembrança de que fizera com o Governador mil vezes pior do que ele fizera com ela. Mesmo assim, era a única que conserva sua personalidade recatada, sem revelar o acontecido a ninguém.
            Esse volume apresenta ainda um extra. A edição #34, contém um bônus (lançado por ocasião do Natal de 2005) onde narra um episódio natalino de dois personagens que apareceram no primeiro volume: Duane e seu pai, Morgan Jones. Nesse capítulo, o garoto Duane lê uma revista em quadrinhos do super-herói “Invencible”. Curiosamente esse personagem também é uma criação de Robert Kirkman. O volume conta também com uma ERRATA esclarecida pelo tradutor Von Deus. Em duas edições (#32 e #33) Martinez foi identificado sob o nome de Rodriguez. Os editores esclarecem que foi um erro de continuidade de Robert Kirkman e sua equipe, de forma que, a partir do volume #34, novamente ele volta a ser chamado de Martinez (já que seu nome verdadeiro era Caesar Martinez).

 REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:       Walking Dead, The
Subtítulo:  vida de agonia (v.6)
Autoria:     Robert Kirkman / Charlie Adlard
Editora:     HQM Editora
Ano:          2006
Local:        São Paulo
Edição:      1ª
Série:        Mortos-vivos, Os - Volume VI
Gênero:     Zumbi | Suspense | História em quadrinhos

Confira o trailer da série lançada pela AMC:


segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Maconha (Denis Russo Burgierman)



            Denis Russo Burgierman nasceu em 1973 na cidade de São Paulo. Formou-se em jornalismo pela USP e tornou-se editor da revista Superinteressante, sendo o criador do Prêmio Super Ecologia. A obra em questão surgiu a partir da matéria de capa da edição de agosto de 2002, intitulada Toda a verdade sobre a maconha. Pioneiro no reconhecimento de projetos ambientais de empresas privadas, públicas e ONGs, Denis atua no ramo de proteção e defesa da fauna e flora do meio ambiente natural. Um de seus trabalhos nessa área consiste em um livro-reportagem sobre a atuação dos ecologistas contra a caça às baleias na Antártica.
            A maconha é um tema polêmico, principalmente nos tempos atuais onde o tráfico de drogas e substâncias psicoativas domina o planeta de norte a sul. Em outras épocas, seu uso era uma prática comum e até mesmo sinônimo de bens medicinais, práticas religiosas ou fruição. Diante disso, ao se levantar tal assunto no cotidiano, a questão dos males que seu uso pode ocasionar se depara diretamente com a questão dos benefícios provenientes da planta. Outro debate ainda mais polêmico se origina disso: quais são os prós e os contras da legalização da maconha?
            Batizada em 1735 pelo botânico sueco Carl Lineu como Cannabis sativa, a maconha é uma planta que se desenvolve facilmente em condições adversas, podendo atingir a altura de 4 ou 5 metros em pouco tempo. Tanto seu caule quanto suas folhas e sementes são repletos de substâncias, sendo a mais importante o delta-9-tetra-hidrocanabinol ou THC. O THC serve como filtro solar e também tem a propriedade de grudar nos neurônios de seres animais (inclusive o homem), provocando mudanças químicas nas células e alterações de comportamento, capacidade de raciocínio e percepção. Isso explica a sensação de "felicidade e delírio" que o usuário de maconha apresenta. O uso excessivo do THC pode trazer consequências drásticas para o organismo e dependência, mas em alguns casos patológicos ele é o remédio mais eficaz e, até mesmo, imprescindível.
            A guerra pela proibição da maconha iniciou-se no século XX e teve o norte-americano Harry Aslinger como seu principal comandante. A sociedade dos Estados Unidos vinha passando por um período de desestruturação com a crise de 1929 e a insatisfação diante da Lei Seca, decretada nove anos antes. Nessa época, Aslinger era comissário assistente da proibição de bebidas alcoólicas. A criação da Agência Federal de Narcóticos (FBN, em inglês), com o objetivo de regular as leis que proibiam opiáceos e cocaína, foi uma força a mais para a atuação de Aslinger. Diante disso, como os interesses políticos mascaravam a verdade, Harry Aslinger se aliou à imprensa e divulgou consequências e fatos desastrosos que teriam a maconha como protagonista, mesmo que muitos deles fossem falsos e mentirosos. Com isso, a proibição da maconha transformou em criminalização o seu uso, mesmo que para fins terapêuticos, e a propaganda feita em cima dos seus males induziu muitos países à proibição. No entanto, o que a princípio era a solução, criava um outro problema que era a marginalização e, consequentemente, o tráfico da planta, que era muito mais difícil de combater.
            Mesmo sendo proibida em praticamente todo o mundo, o uso da maconha é legalizado em algumas situações. É o que acontece na Holanda, por exemplo, em que foi estabelecido em 1976 que o porte de até 30 gramas de maconha não seria considerado crime. Surgiram os koffeshops nos anos 80: lugares em que o uso público de maconha seria permitido, desde que obedecido um rigoroso regulamento de controle e regularização. Tal política demonstrou que a regularização traz mais benefícios do que a proibição, uma vez que o que é proibido buscará outras formas ilegais e erradas para ser satisfeito.
            Após analisar todo esse contexto histórico que traz a maconha como personagem principal, Denis Russo Burgierman analisa como seu uso poderia se enquadrar na sociedade brasileira. O perfil da sociedade atual não permitiria de forma alguma a legalização da maconha da noite para o dia. No entanto, sua proibição traz riscos sérios para pessoas que dependem do THC proveniente da planta para fins terapêuticos. Seria uma questão ética e imoral deixar de amenizar o sofrimento de tais pessoas em nome da proibição, assim como seria irracional expandir o número de usuários de uma hora pra outra com a legalização, sem um programa de atendimento à saúde pública e prevenção dos riscos adequado. Talvez as lições que a Holanda aprendeu em seu contexto histórico teriam muito a nos ensinar no que diz respeito a isso. Fazendo a conciliação dos opostos, a solução que o autor propõe para as condições em que o uso da planta seria legítimo, é a implantação de uma política de descriminalização inteligente e legalização controlada na comercialização da droga. Somente assim aprenderíamos a conviver de forma madura com algo tão importante e ao mesmo tempo nocivo à vida social.

REFERÊNCIA LITERÁRIA
Título:     Maconha
Autoria:   Denis Russo Burgierman
Editora:   Abril
Ano:        2002
Local:      São Paulo
Edição:   
Série:      Coleção Para Saber Mais - Vol. IV
Gênero:   Curiosidades | Drogas